CAPÍTULO 35

COMPAIXÃO E SEVERIDADE

Os infortúnios ocultos são epígrafe abrangente de muitos problemas, que merecem da piedade cristã especial atenção.

Pelo hábito da caridade material, muitos lidadores da Causa evangélica preocupam-se em minimizar as necessidades socioeconômicas, oferecendo aos aflitos os recursos monetários, alimentícios, medicamentosos, habitacionais, firmados em salutares propósitos, dominados por euforia legítima e espírito nobre de solidariedade.

São de relevante importância essas expressões socorristas, sem dúvida.

Visitar morros e favelas, distribuir agasalhos e farneis, orar com unção em caráter intercessório, ministrar passes constituem todo um equipamento de amor com que o Céu visita as necessidades da Terra, distendendo consolação e esperança.

Os infortúnios ocultos se repletam, não obstante, de outros tantos problemas, que somente a acuidade cristã apurada os pode detectar e o coração amante, desarmado do egoísmo, consegue socorrer.

Não apenas os que nos trazem seus dramas merecem nossa caridade. Mas também, os que convivem conosco em regime de fraternidade e serviço, na condição de auxiliares humildes e pessoas difíceis, de enfermos impertinentes e de companheiros lutadores...

Pessoa alguma há, que se encontre na Terra, sem problemas nem testemunhos; todos, porém, com os seus infortúnios ocultos.

Descobrir essas dores e atendê-las com elevação, deve constituir o desafio para quem enceta, com honestidade, a tarefa da lapidação íntima, da ascensão espiritual.


* * *

Evita censurar o teu irmão, mesmo que te escudes no eufemismo de que o fazes por amor.

Impede a proliferação da maledicência, silenciando-a no algodão do descrédito, quando chegue a ti, não a divulgando.

Credita ao próprio coração, com humildade, as lágrimas silenciosas que te constituem manancial de provação redentora, não espalhando azedume ou acrimônia.

Lembra-te de que o mundo passou até hoje sem ti e prosseguirá, depois que partas da Terra.

Ouve os pedidos de socorro, sem palavras, e atende-os quando se acerquem da tua afetividade.

Mérito algum possui quem ama as pessoas simpáticas.

Os que te parecem detestáveis têm suas dificuldades, como tu mesmo as tens, a teu turno antipático á apreciação de outrem...

Se não podes ou não queres ajudar, não reproves a ação alheia, nem geres animosidade contra eles.

Tuas dificuldades e limitações merecem respeito. As do teu próximo também.


* * *

Os infortúnios morais ocultos são muito complexos.

Estiolam vidas que se esforçam por sorrir e amar, e ninguém nota.

Ceifam esperanças em quem trabalha com aparente ânimo forte, e não se fazem perceber.

Desagregam ideais em almas estoicas que lutam por vencê-los, sem se deixarem flagrar.

São ácidos requeimando por dentro e intimamente atormentando, sem sinais exteriores.

Modifica a tua conduta diante das almas, já que estás informado, através da Doutrina Espírita, quanto á anterioridade do Espírito.

Sabes que o processo evolutivo é grave desafio a todos. Por isso não abdiques da benignidade, da tolerância, da simpatia e da paciência — expressões edificantes da caridade! - no teu trato com as criaturas do caminho.

Enquanto estiveres no corpo, não cesses de burilar-te, vencendo os teus infortúnios ocultos de natureza moral, com a mesma compaixão e severidade com que os aplicas contra aqueles que se acercam de ti.




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