Libertação Pelo Amor

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CAPÍTULO 16

INDULGÊNCIA

E muito escassa na criatura humana a qualidade da indulgência!

Preocupada com a conquista dos valores imediatistas, diante de ocorrências desagradáveis facilmente resvala para a intolerância, a censura, a causticidade, o ressentimento, o ódio...

Fixa o lado negativo do que lhe sucedeu com muita naturalidade, deixando, à margem, os valores positivos em desenvolvimento, as qualidades morais em início de afirmação no outro ser.

Em razão disso, campeiam a agressividade, a revolta, o pessimismo, o desconforto moral entre os grupos humanos.

Pequeno incidente que pode ser superado sem grande esforço avoluma-se e soma-se a outros que já deveriam estar diluídos na memória, agravando situações que se tornam difíceis de superar.

A intolerância sistemática, defluente do orgulho pessoal, seleciona detalhes insignificantes para justificar a inferioridade de que é objeto e o temperamento intransigente, quando a atitude comportamental deveria ser diferente.

Deslizes íntimos, que não interessam a terceiros, tornam-se públicos, em razão do prazer com que são comentados pelos frívolos e maledicentes, gerando dificuldades para a reabilitação pessoal e a convivência fraternal edificante.

Comentários desairosos ampliam questões sem importância, alterando o conjunto dos fatos a serviço da radicalização de posturas.

Todas essas infelizes atitudes são promovidas por pessoas também falíveis e débeis, que transferem para aqueles que lhes caem na área de observação danosa os próprios conflitos, sua insegurança e seus equívocos contínuos.

Tal procedimento, no entanto, por falta de indulgência.

A indulgência propõe compreensão aos desvios de outrem e severidade para com os próprios equívocos; revisão de conteúdos morais, a fim de oferecer novas oportunidades àqueles que se enganam, enquanto se envidam esforços para não mais repetir os mesmos tropeços; remissão do erro de outrem mediante novas realizações liberadoras de culpa e de punição; solidariedade no desvio com ajuda oportuna, a fim de que se volte ao caminho da retidão.

A indulgência é uma forma de olvido do mal para somente anotar o bem, de bondade para com o equivocado e de severidade para com o erro.

A indulgência não negaceia com o crime, com o vício ou com o delito. Se entende a debilidade daquele que se compromete, de maneira alguma concorda com a ação perturbadora, dando-lhe vitalidade.

Trata-se de uma atitude solidária de amor à pessoa que delinque, e não de conivência com o seu erro.

Combatendo o mal sob qualquer forma em que se apresente, socorre-lhe as vítimas, as pessoas que não tiveram resistências morais para suportar-lhe a vigorosa atração.

E gentil, mas austera, nobre e sensata, apontando rumos de equilíbrio e de bondade para com todos.

Naturalmente vigia o indivíduo, estimulando-o a ser severo em relação ao seu comportamento moral, que deve eleger aquele que constrói e dignifica, enquanto que é benigna para com o seu próximo enredado na ignorância e vitimado pela defecção.

A indulgência é expressão de misericórdia que deve ser distendida a todos, facultando-lhes a reabilitação.


* * *

Sê indulgente para com o teu irmão e cuidadoso em relação aos teus atos.

Não apresentes justificativas para os teus enganos, enquanto exiges melhor comportamento do teu próximo.

O que te é difícil conseguir para melhorar a própria conduta, noutrem constitui um verdadeiro problema que ainda não foi solucionado.

Mesmo que hajas superado o patamar de desequilíbrio em que o teu companheiro ora se encontra, considera quanto te foi desafiador vencer a má inclinação. Assim, robustece a tolerância para com a sua falta, aplicando-lhe o conforto moral da indulgência.

Uma atitude de indulgência, de forma alguma significa indiferença para com o comprometimento ou a aceitação da ocorrência lamentável. Constitui antes um ato de fraternal compreensão a respeito da debilidade estrutural de quem desfalece no cumprimento do dever, ao mesmo tempo contribuindo com os recursos da tolerância, a fim de ensejar futura reparação.

A indulgência educa e orienta, consola e dignifica.

Educa, porque ensina a repetir a experiência malograda, facultando aprendizagem e respeito pelos deveres que devem ser cumpridos.

Orienta, abrindo caminhos novos, ainda não percorridos, para que sejam perlustrados com segurança e equilíbrio.

Consola, em face de não se erguer como juiz que condena, senão transformando-se em amigo que contribui para o restabelecimento da ordem.

Dignifica, porquanto enseja a reabilitação daquele que se compromete, propondo-lhe nova conduta trabalhada no respeito aos códigos legais estabelecidos.

Uma atitude de indulgência pode salvar uma ou mais vidas, de acordo com a pauta das necessidades que sejam apresentadas.

A pessoa indulgente caracteriza-se pela paz interior de que se faz instrumento, tornando-se companheira ideal para os empreendimentos sociais, laborais e espirituais.

Ninguém que dispense um gesto de compreensão e de bondade.

Da mesma forma, jamais alguém pôde atravessar o rio da existência humana sem equivocar-se, anelando por apoio e amizade.

A única exceção é Jesus, que já era antes que fôssemos, transformando-se no Modelo que devemos seguir sem qualquer receio, porque nunca defraudou a confiança e o carinho que Lhe são devotados.

Diante de quaisquer testemunhos aflitivos, utiliza-te da indulgência para com todos, perdoando-lhes as ofensas e olvidando sempre o mal que te direcionem, a fim de recordares apenas o bem que te hajam feito.


* * *

Há muitas feridas não cicatrizadas nas almas humanas.

Existem dores graves resguardadas no pudor de muitas vidas, que se não permitem desvelar.

Permanecem muitas angústias atrás de sorrisos gentis, que não são percebidas.

Demoram-se muitas ansiedades no sentimento de vidas que se estiolam por falta de compreensão, e que não se deixam identificar.

Assim, age com indulgência sempre e para com todos. Não esperes que alguém te suplique esse socorro abençoado. Concede-o, antes que seja solicitado, tornando-te o irmão que ajuda em silêncio, que estimula com a presença e com quem sempre se pode contar.

Indulgência sempre, porquanto, sem qualquer dúvida, um dia dela poderás também necessitar.




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