Libertação Pelo Amor

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CAPÍTULO 8

SACRIFÍCIO E AMOR

Invariavelmente, quando se fala a respeito da sublime doação do Mestre ao Seu rebanho, entregando-lhe a própria vida, assevera-se que este lhe foi um grande sacrifício, como se Ele não tivesse conhecimento, desde antes, a respeito da necessidade de demonstrar a inefável grandeza do Seu Amor.

O conceito de sacrifício, em tão elevada demonstração de afeto, não se ajusta à realidade, porquanto Ele marchou para o matadouro absolutamente seguro, consciente e confiante da necessidade de fazêlo, a fim de que, dessa maneira, pudesse despertar os Seus afeiçoados para o significado da Sua entrega total.

Estivera com todos em momentos felizes, oferecendo-lhes bênçãos de saúde e de conhecimento, de esperança e de paz, informando, entretanto, que a existência física não é definitiva e que todos deveriam preparar-se para o enfrentamento com as vicissitudes e os naturais sofrimentos.

Restituía-lhes a saúde, mas não impedia que viessem a morrer.

Proporcionava-lhes júbilos, porém não evitava que fossem visitados pela tristeza que decorre do processo de evolução ante os dissabores e as lições morais de crescimento íntimo.

Concedia-lhes paz, entretanto, não se permitia impossibilitar a luta que cada qual deve travar a fim de autoconhecer-se e de encontrar o rumo da iluminação.

Mimetizava-os com a Sua ternura, todavia, era necessário que se esforçassem para preservá-la.

Jamais deixou de os amparar e auxiliar no crescimento íntimo para Deus.

Abriu-lhes os olhos da alma para o discernimento e para a razão, concitou-os ao trabalho e à solidariedade, vivendo a serviço do Pai, sem jamais queixar-se ou exigir-lhes o que quer que fosse.

Tornava-se, portanto, indispensável demonstrar-lhes a grandeza desse Amor, oferecendo a existência em holocausto no rumo da Vida Eterna, última e vigorosa maneira de fazê-los crer.

Não foi, portanto, um sacrifício, no sentido de um esforço de imolação entre desespero e luta renhida.

Sacrifício ser-Lhe-ia deixar ao próprio destino aqueles que o Pai Lhe confiara para pastorear, conduzindo-os pelo rumo certo do dever e da conquista de si mesmos.

Seria também sacrifício se, por acaso, se houvesse eximido da oferenda máxima de que se tem notícia, para que cada qual pudesse aprender através do sofrimento, que somente no dever se encontra a razão essencial da existência humana.

A cruz, que sempre foi um símbolo de humilhação e de desgraça, de punição e de corrigenda severa, com Jesus tornou-se asas de libertação, facultando o voo no rumo do Infinito.

Em razão disso, Ele doou a Sua vida para que todos a tivéssemos em abundância, lutando pessoalmente, cada qual, por adquiri-la.


* * *

Quando se ama, nada constitui esforço, sofrimento, sacrifício.

O amor é tão rico de carinho e de bênçãos, que se multiplica à medida que se oferece, jamais diminuindo de intensidade quanto mais se distribui.

Invariavelmente, as criaturas consideram-no uma operação de reciprocidade, mediante a qual a permuta dos sentimentos faz-se estímulo para o seu prosseguimento.

De alguma forma, porém, essa expressão de amor não deixa de ser o início do processo que o levará à sublimação do querer e do doar.

Saindo do instinto, que é todo posse, matriz do egoísmo perturbador, aformoseia-se com a experiência afetiva, agigantando-se e tornando-se maior na proporção da abnegação e do devotamento de que se faz portador.

O amor nunca se exalta, nem reclama, porque é fonte de compreensão, nada obstante, também de educação das emoções, do comportamento, da vida.

O Mestre sempre ensinava, e o clímax dessas lições foi a Sua crucificação, mediante a qual, em forma de tragédia, atrairia todos a Ele.

O ser humano, infelizmente, ainda necessita do espetáculo ou da terapia de choque, de modo a despertar do letargo a que se entrega.

Isso ocorre em todos os campos do relacionamento social.

Quando os fatos transcorrem naturais e sem comoção, não se tornam de aceitação imediata, pacífica e penetrante. No entanto, quando produzem impacto, sensação peculiar, despertam interesse, discussão e aceitação na maioria das vezes.

Eis por que, embora seja o amor a fonte inexaurível de enriquecimento, o progresso do ser como indivíduo e da sociedade como organismo coletivo, tem sido mediante a dor, especialmente estabelecida pelos testemunhos que são considerados sacrifícios do prazer e do gozo imediato.

Dessa forma, a ideia vigente é de que a suprema doação do Mestre seria também um sacrifício em favor dos Seus afeiçoados, quando, diferindo do convencional, o Seu exemplo de enriquecimento é um convite à reflexão. Se Ele, que não tinha culpa, foi conduzido ao máximo de entrega, é natural que as criaturas, caracterizadas pelas cargas emocionais de desequilíbrio e de dívidas morais, não se possam considerar exceção, eximindo-se ao padecimento purificador.

Nele temos a oferenda de ternura e de alegria, embora as excruciantes aflições que padeceu, confirmando a Sua procedência de enviado de Deus, o Messias que as tormentosas condições israelitas negavam-se a aceitar.

Na sua desenfreada alucinação pelo poder e dominação pelo orgulho, mediante o qual a raça eleita governaria o mundo dos gentios, era muito difícil aceitar aquele Rei especial, sem trono nem exército homicida, sem áulicos com trombetas nem embaixadores soberbos precedendo-o.

Como o Seu Reino não era deste mundo, os ministros e servidores não se apresentavam visíveis, senão, à semelhança de João Batista, o Precursor, ou dos profetas que vieram bem antes d’Ele e foram, uns ridicularizados, outros perseguidos, outros mortos...


* * *

Esforça-te, por tua vez, para entender a doação da vida como a entrega amorosa Aquele que a gerou.

Aprende a renunciar aos pequenos apegos, crescendo na direção da superação dos tormentosos desejos, aqueles de grande porte, em homenagem à tua autoiluminação, à tua ascensão.

E sempre necessário morrer, a fim de viver em plenitude.

Tem como exemplo Jesus em todas as situações, e se amas, tudo quanto ofereças não constitua sacrifício nem sofrimento, antes mensagem de alegria e de paz.




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