Atitudes Renovadas

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CAPÍTULO 17

COMPAIXÃO SEMPRE

Má crimes que se revestem de tal crueldade que se tornam hediondos sob qualquer aspecto considerado. Guerras, terrorismo, campos de concentração, perseguições étnicas, homicídios seriais, sequestros que terminam em desencarnação, furtos e roubos com o assassinato das vítimas, estupros, pedofilia, os delitos denominados de colarinho branco, somente para relacionar alguns dos mais perversos, vêm apresentando estatística sempre crescente, numa demonstração lamentável do desprezo à ética e à moral, como frutos espúrios, de um lado, em razão das terríveis psicopatologias desses criminosos antissociais, dos obsidiados por Espíritos asselvajados e, por outro, em decorrência das injustiças sociais que predominam na sociedade contemporânea.

Os transtornos de comportamento, no campo individual, que dão margem à violência e à perversidade, como resultados do ciúme doentio e covarde, vêm transformando os lares em campos de batalha, nos quais sempre têm lugar as agressões machistas, no contínuo desrespeito à mulher, nos maus tratos aos filhos e em ultrajantes assassínios que estarrecem...

Nada obstante, os desvios de conduta e os conflitos individuais respondem por outra ordem de delitos que se desenvolvem nos bastidores dos relacionamentos, gerando sofrimentos inenarráveis, animosidades profundas, ódios e ressentimentos de largo porte...

Trata-se do aborto provocado, um dos mais sórdidos crimes que alguém se permite, especialmente pela razão de atacar um ser que não se pode defender, mais lamentável ainda, quando pessoas de destaque na comunidade exibem a infâmia da sua prática, estimulando os fãs ardorosos e apaixonados pelos seus desempenhos a procederem de maneira equivalente...

A infidelidade conjugal banalizou-se de tal forma, tanto para homens como para mulheres, que passou a ser motivo de exaltação dos irresponsáveis, nas denominadas confissões públicas em periódicos que são verdadeiros agentes multiplicadores de opinião, estimulando o desrespeito e a vulgaridade...

A calúnia com objetivo de difamação transformou-se em instrumento de vingança e de inveja, ampliando o seu círculo odiento, sem qualquer sentimento de piedade pela vítima, que ignora a ocorrência danosa.

A maledicência doentia, que grassa nos meios sociais, em forma de distração, sempre, porém, é portadora de intenções prejudiciais a respeito daquele que lhe padece a injunção desleal.

Em campo muito mais vasto, os pensamentos de antipatia, os desejos de infortúnio para os outros, os campeonatos duelistas internos, as contínuas ondas de malquerença, em decorrência da inferioridade moral em que se encontram essas criaturas, contribuem para que a psicosfera do planeta terrestre se torne quase insuportável...

Todos esses e muitos outros vícios espirituais atestam o grau de primitivismo em que transitam muitos milhões de seres humanos que, apesar do conhecimento intelectual, das admiráveis conquistas do pensamento, da ciência e da tecnologia, ainda não se deixaram penetrar pelos nobres sentimentos do amor, no respeito a si mesmo, assim como ao seu próximo.

Apesar da impunidade que vigora em muitas nações infelizes, nas quais os governos arbitrários são também passíveis de penalidades, em razão da exploração e da indiferença para com os problemas do povo, ao qual juraram proteger e diminuir as aflições, momento chega em que as consciências anestesiadas desses sicários da humanidade despertam, convocando-os às inadiáveis reparações dolorosas.

Retornam, compulsoriamente, ao corpo carnal em situação lastimosa, portando idiotia, degenerescências mentais e físicas, chafurdando na miséria em lugares e situações sub-humanas, onde aprenderão a respeitar as concessões da vida, que tiveram ao alcance, momentaneamente, e malbarataram.

Ninguém foge aos impositivos dos Estatutos da vida que inscrevem em cada qual a legislação moral, mesmo quando não se apresenta lúcida...


* * *

Convém observar-se a situação das vítimas dessas insânias, as pessoas que perderam a alegria de viver, que foram massacradas e expulsas do convívio do grupo social, no qual se movimentavam, que tombaram nos transtornos depressivos e nos sofrimentos íntimos inenarráveis, sem oportunidade de defesa ou de esclarecimento da ocorrência.

Silêncios heroicos se impuseram muitos que tombaram nas malhas terríveis e asfixiantes desses crimes nefandos, roubandolhes a alegria e a motivação para viver, tornando-os sonâmbulos no meio da multidão...

Alguns tentaram justificar-se, explicar-se, mas não tiveram tempo, sendo vítimas inocentes das ocorrências coletivas e destruidoras. Outros mergulharam no desgosto, na dor da saudade, no abismo da vergonha, no constrangimento, deixandose consumir pelo ódio, pelo ressentimento em contínuo amargor, ante o desejo de vingança, o anseio por justiça, vencidos pela revolta...

Infelizmente, nesses casos, o mal dos maus conseguiu alcançar a sua meta, que era fazer-lhes mal.

Jesus recomendou que não se deve resistir à tentação dos maus, sintonizando com eles, entrando em parceria mental, permitindose agasalhar os sentimentos negativos que lhes são habituais, porque isso é muito pior do que a ocorrência em si mesma.

Se o mal não receber a contribuição da revolta da vítima, da sua mágoa, do seu desalento, eis que perde o significado infeliz por falta de sustentação vibratória e emocional.

Uma única atitude, no entanto, deve ser mantida ante as ocorrências danosas destes dias, que é o perdão ao criminoso e o rechaço ao seu comportamento.

O perdão àquele que é o responsável pela desgraça que infligiu a outrem não o exonera da responsabilidade da ação perniciosa, que terá de responder pelos danos causados, mas proporciona um grande bem à vítima, sem sobrecarregar o responsável pela sua infelicidade.

Há situações e gravames, no entanto, que, pela sua perversidade, não inspiram a dádiva do perdão, provocando reações emocionais e orgânicas as mais devastadoras. Apesar disso, não há outra alternativa, exceto considerar que, diante da magnitude do feito mau, não sendo possível perdoar, porque as resistências morais não o permitem, pelo menos se deve desculpar, facultando ao calceta o direito de ser um transtornado... Ainda assim, havendo dificuldade e resistência psicológica para a desculpa, tal o impacto do ato infeliz, existe uma última possibilidade de não se vincular ao déspota, que é ter compaixão dele.

A compaixão é o passo último ou primeiro que deve ser dado por qualquer pessoa que foi vítima de injunção malévola e destrutiva.

Esse sentimento de compreensão da miséria do outro permite que se lhe não deseje mais desventura além daquela em que fossiliza.

Numa reflexão que deve ser feita com espontaneidade, aquele que sofre deve colocar-se no lugar do perseguidor e considerar quanto ele padece interiormente, vitimado por distúrbios de vária ordem e como é desventurado por anelar felicidade produzindo a desdita de outrem.

Mediante essa atitude, que dá a medida possível do infortúnio do algoz, a sua vítima pode, sim, compadecer-se do desditoso, não mais se permitindo vencer pelo ressentimento, desculpando-o em relação ao crime cometido, e, por fim, perdoando-o...


* * *

Allan Kardec, em O livro dos Espíritos, na questão número 752, interrogou aos Benfeitores da humanidade: "Poder-se-á ligar o sentimento de crueldade ao instinto de destruição?

E os Espíritos elevados responderam: - "E o instinto de destruição no que tem de pior; porquanto, se, algumas vezes, a destruição constitui uma necessidade, com a crueldade jamais se dá o mesmo. Ela resulta sempre de uma natureza má. " Todos aqueles, porém, que são vítimas dessas condutas desvairadas, recuperam-se de erros não menos graves que cometeram anteriormente, edificando-se e reparando-os agora, a fim de ascenderem pela escada do progresso moral e espiritual às cumeadas da felicidade.

A Divindade, no entanto, não necessita desses flageladores porque dispõe de mecanismos próprios, no entanto, o primitivismo de muitos Espíritos, por vontade pessoal, torna-se instrumentos da Justiça impondo reparação, porém tombando nos mesmos abismos...

Compaixão, desculpa e perdão, portanto, constituem a trilogia terapêutica a que se devem entregar aqueles que sofrem as situações dolorosas referidas.




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