Atitudes Renovadas

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CAPÍTULO 23

VIVER COM SIMPLICIDADE

Uma existência trabalhada na simplicidade culmina em plenitude de sentimentos e objetivos espirituais. Criado simples e ignorante, o Espírito desenvolve as potencialidades divinas nele adormecidas, etapa a etapa, alcançando os nobres patamares da autorrealização, modificando a estrutura que se transforma em energia sublime sem as marcas perturbadoras defluentes do processo evolutivo.

Conseguir-se manter a simplicidade de coração, o que equivale significar, dos sentimentos, é conquista valiosa que impulsiona à liberdade e à paz.

O apego às complexidades da vida material encarcera o ser nas masmorras das coisas inúteis a que atribui significados que realmente não possuem.

A simplicidade é característica expressiva daquele que encontrou o valioso tesouro da alegria de viver sem impedimentos de qualquer natureza. Isto porque conseguiu vivenciar a renúncia sem os constrangimentos impostos por decisões alheias ou assinalada por conflitos desesperadores.

O ser humano não necessita dos petrechos múltiplos a que se imanta, vitimado por ambições desenfreadas e desejos descontrolados.

Insatisfeito com o que tem e com as formas como se expressa, afeiçoa-se à aparência frívola que proporciona status, embora ao preço do sofrimento decorrente da insatisfação pessoal, das renovadas ambições, porque sempre descontente com o já conseguido...

Uma vida simples abre espaço para reflexões e amadurecimento psicológico que proporcionam paz.

Noutra condição, as falsas necessidades atrelam a mente ao desejo de estar em toda parte ao mesmo tempo, de fruir tudo em largas porções, como se isso fora possível... E porque não o consegue, aflige-se, aquele que assim se comporta, em demasia, e desencanta-se com o de que dispõe, com as dádivas abençoadas da existência que já não satisfazem a ganância do ter e do poder...

Quando se adota a simplicidade o verbo torna-se gentil, edificante, porque não se encarrega de ferir ou de malsinar os outros mediante os graves descalabros da maledicência e da calúnia. Evita interferir nos comportamentos com opiniões não solicitadas, mantendo-se sóbrio e fraternal em todas as circunstâncias.

A sua aplicação é saudável, porque comedida e portadora de objetivos edificantes.

O excesso de palavras irrefletidas sempre acende o fogaréu dos sentimentos perversos, que se transformam em chamas de cólera e de agressividade.

A simplicidade abre as portas das amizades legítimas por propiciar lealdade e alegria de convivência fraternal.

Todos os indivíduos que descobriram os objetivos relevantes da existência humana compreenderam que somente através da simplicidade conseguiriam atingir as metas a que se propuseram.

Como consequência empenharam-se na tarefa de vencer as más inclinações, superando as tendências agressivas e as exigências exorbitantes do ego enfermiço.

A medida que se aproximavam do ápice dos empreendimentos, mais compreendiam a própria pequenez ante a grandiosidade do Cosmo e da Vida, tornando-se cooperadores do Bem em todas as suas expressões.

A existência de muitas pessoas é fruída com excessos e dificuldades que se derivam das coisas desnecessárias a que se atam.

Torna-se indispensável trabalhar os fatores da simplicidade, a fim de que a vida se torne agradável e plena, sem angústias nem medos...


* * *

Quando se sugere renúncia na existência terrena, logo se pensa em sacrifícios e austeridades que atormentam.

Crê-se, equivocadamente, que todos aqueles que optaram por uma vida simples tiveram que realizar grandes esforços e submeteram-se a tormentos interiores múltiplos.

A proposta da renúncia, porém, se direciona ao abandono dos excessos de toda natureza, e tudo quanto sendo secundário passa a ter um valor exorbitante, porque somente possui o significado que lhe é atribuído e a posse egotista que o retém no painel mental e emocional do seu possuidor.

Muitos indivíduos atormentam-se e queixam-se por ocorrências desagradáveis, as nonadas do quotidiano, vitalizando as lembranças infelizes que são filhas diletas do ego ferido e dos caprichos do orgulho.

Os acontecimentos passados já não existem, senão na memória que os mantém vivos, devendo ser desconsiderados, porque inexistentes, envoltos, no entanto, em gratidão pelos ensinamentos que proporcionaram e deverão ser aplicados para que se lhes evite a repetição danosa.

De igual maneira, não vale a pena a fixação pelo que irá acontecer no futuro, porquanto também isso ainda não existe.

Assim considerando, o passado não pode ser recuperado, conservando-se-lhe os miasmas e os efeitos inquietadores...

Igualmente, a ansiedade pelo futuro, a preocupação exacerbada não têm sentido lógico, porque se trata de expectativas que raramente acontecem conforme os fenômenos de perturbação que dão lugar por antecipação.

Não se torna necessária uma existência asceta, decorrente do abandono do mundo, na qual a carência se transforma em desrespeito pelos tesouros de amor com que o Pai abençoa os filhos terrestres.

A adoção da miséria espontânea, em nome da renúncia, faz que o indivíduo se torne inútil na sociedade, transformando-se-lhe num peso a ser carregado.

O uso dos recursos que se encontram ao alcance representa utilização saudável para auxiliar o progresso individual, assim como o do grupo social.

A simplicidade que se estrutura na renúncia natural de todo e qualquer excesso, por ser desnecessário, liberta o Espírito das fixações e temores das perdas.

Inevitavelmente, quando ocorre a desencarnação, à semelhança do fenômeno do renascimento no corpo físico, quando se chega sem nada, em total nudez, também se dá o despojar-se de tudo e do próprio corpo...

A criatura humana pode ser considerada conforme os seus apegos e renúncias.

Um homem santo, que vivia em total simplicidade, havendo ganhado diversas moedas de ouro, desconsiderando-as, deixou-as no lugar onde se encontrava e seguiu adiante.

Posteriormente, quando malfeitores se informaram da valiosa doação que fora feita ao modesto andarilho, agrediram-no e ameaçaram-lhe a vida, tendo-a poupado, porque lhes explicou que as moedas se encontravam onde ele estivera fazia pouco...

Como não as necessitasse, evitou conduzi-las, desse modo, mantendo-se simples e livre.


* * *

Bem-aventurados, disse Jesus, os puros e os simples de coração.

A simplicidade é etapa evolutiva que se deve alcançar, treinandose renúncia e abnegação.

A felicidade, na Terra, independe do que se tem, mas se constitui de tudo aquilo que se cultiva interiormente em amor e simplicidade.




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