Atitudes Renovadas

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CAPÍTULO 25

AS BÊNÇÃOS DO ALTRUÍSMO

A palavra altruísmo foi cunhada no ano de 1830 pelo filósofo francês Augusto Comte, criador do Positivismo, assim como da Sociologia, para significar comportamento oposto ao egoísmo.

Denominando a sua doutrina como a religião da humanidade, com excelentes fundamentos no amor e na ordem, a proposta do altruísmo é de significado relevante para o homem e a mulher de todos os tempos, especialmente da atualidade.

Sendo o egoísmo a terrível chaga moral que consome a sociedade, o altruísmo se lhe opõe, tornando-se nobre sentimento de solidariedade, de compaixão, de socorro...

A medida que o ser humano evolui intelectualmente, nem sempre desenvolve os valores éticos enobrecidos, dando largas ao egoísmo a que se atrela como herança enfermiça do processo de crescimento que ainda não logrou superar.

Não é de estranhar que se conflitem as altas conquistas do pensamento e da tecnologia com os sentimentos agressivos e egotistas.

Como consequência, a predominância das paixões inferiores comanda as paisagens íntimas do ser, impelindo-o à agressividade e ao crime.

A falta de educação moral das tendências perversas mantém a sociedade em situação deplorável sob o ponto de vista moral.

O altruísmo é o recurso de alta monta a ser utilizado, a fim de despertar as emoções do amor e do perdão, da misericórdia e da caridade.

Necessário, no entanto, reflexionar-se em torno do comportamento altruísta, a fim de que não mascare o exibicionismo ou a presunção que caracterizam muitos indivíduos ainda não habilitados para a honorável prática.

Em face da hipocrisia de que se revestem inúmeros comportamentos sociais, a dissimulação e o engodo fazem parte do dia a dia de muitas criaturas humanas, que aprendem a comportar-se de maneira altruística, encobrindo os interesses mesquinhos de que são portadoras. Apresentamse como humanitárias, idealistas, fáceis na maneira de expressar sentimentos, portadoras de ideais de enobrecimento aparente, tendo como objetivo a autopromoção, as compensações próximas ou remotas que disso resultem.

Há aqueles que, ao ajudar alguém, estão atendendo a necessidades pessoais de libertar-se do sofrimento que a dor alheia lhes impõe...

Certamente, embora o propósito de alguma forma tenha raízes no egoísmo, o seu exercício terminará por produzir ímpar satisfação interior, que estimulará a outros cometimentos, a outros contributos.

Ampliando-se a solidariedade através do altruísmo, altera-se o aspecto espiritual da comunidade, facultando o intercâmbio dos sentimentos elevados que liberam dos conflitos e das situações afligentes da solidão...

O altruísmo sabe enxergar as necessidades alheias com grande acuidade, atendendo-as com mãos veludosas e voz dúlcida que não constrange nem humilha o beneficiado.

Semelhante à luz que dilui as sombras, também penetra os escaninhos da alma e transforma o mundo interior do outro, no qual passa a habitar.

Na competição desastrosa dos interesses mesquinhos ditados pelo egoísmo prepotente, surgem os famigerados líderes da violência e da arbitrariedade, que pensam exclusivamente nas próprias necessidades, dando surgimento aos vergonhosos dramas individuais e coletivos que ateiam o incêndio do ódio e da destruição em toda parte.

O altruísmo é o medicamento para a alucinação que os toma, alterando-lhes a conduta e dulcificando-lhes os sentimentos de prepotência, de arrogância e de poder, contribuindo para a sua normalidade, para a conquista da simplicidade e do bem.


* * *

Afirmam alguns pessimistas que o altruísmo vige especialmente e apenas entre os grupos afins, as pessoas da mesma cultura e portadoras de idênticos ideais...

Não têm razão esses que assim se expressam. A mais formidanda demonstração de altruísmo encontramos na parábola do bom samaritano, quando o mesmo altera o seu roteiro para ajudar aquele que lhe era inamistoso, que pertencia a outro clã, que professava credo diferente e que, talvez, não lhe fizesse o mesmo, caso a situação fosse outra...

O seu sentimento altruístico alcança nesse comportamento nível tão elevado que não lhe basta atender o agredido na estrada, naquele momento, mas também responsabilizar-se pelos gastos que ocorrerão posteriormente...

Não é rara a ocorrência do altruísmo, sendo mais comum do que se divulga, exatamente em razão do seu conteúdo filosófico e ético, que expressa fazer com uma das mãos sem que a outra tome conhecimento.

Narra-se que um monge tibetano do século XIX de nome Dola Jigme Kalsang, caminhando por diversas províncias da China, ao chegar a uma delas percebeu uma aglomeração exaltada na praça principal, atraindo-lhe a atenção.

O sábio acercou-se e veio a saber que se tratava de um homem acusado de roubo que chorava protestando inocência, e que fora condenado pelo mandarim a morrer de forma cruel.

Tocado nas fibras mais íntimas, Kalsang aproximou-se do governante que comandava a pena hedionda e, para o seu espanto, assim como o da multidão, declarou: — O ladrão sou eu.

O mandatário perguntou-lhe se estava disposto a sofrer a punição que era sentar-se em um cavalo de ferro que fora aquecido até transformar-se em uma temperatura insuportável, ao que ele respondeu afirmativamente.

De imediato, o outro foi libertado e ele foi posto sobre o ferro em brasa, sucumbindo em poucos minutos no terrível suplício.

Verdadeiro sentimento esse de altruísmo, quando ele poderia continuar tranquilamente o seu caminho, pois que não conhecia o acusado, que nem sequer teve ocasião de agradecer-lhe o gesto de salvar-lhe a vida, tal o espanto que o acometeu.

O altruísmo não aguarda reconhecimento, não espera aplauso ou louvação.

E bênção do amor sublime de Deus que se embosca no coração e se irradia em forma de compaixão.


* * *

No altruísmo, a caridade esplende soberana e discreta, desvelando a presença de Deus no coração.

Gestos de altruísmo podem ser cultivados e desenvolvidos, partindo-se das pequenas experiências da tolerância, da bondade, da renúncia a algumas necessidades para beneficiar outrem, que passa a receber fraternal compreensão e ajuda oportuna.

A visita a enfermos e a pessoas solitárias constitui um passo simples e importante na prática do altruísmo.

Alterar o ritmo das atividades, reservando algum tempo com o fim de ajudar alguém que se encontre em necessidade, oferecer caminhos libertadores àqueles que se encontram perdidos nas encruzilhadas dos conflitos, distender a mão amiga a fim de erguer combalidos e tombados que não tiveram resistência para o avanço, permutar o fruir de alegrias pela satisfação de confortar quem se encontra em desespero pela morte de um ser querido, constituem experiências iluminativas que trabalham em favor do altruísmo.

Doando a sua vida, para que todos tivéssemos vida em abundância, Jesus ofereceu-nos o mais sublime gesto de altruísmo de que a humanidade tem notícia.

Inicia as tuas tentativas altruísticas, treinando amor e preparando-te para as expressivas contribuições em favor do mundo no qual te encontras.




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