Liberta-te do Mal

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CAPÍTULO 11

Tranquilidade e amor

As pessoas inexperientes confundem tranquilidade com falta de labor, ausência de atividade, inércia.

Imaginam, inclusive, que as águas paradas são bem o símbolo da tranquilidade, sem se dar conta que a ausência de movimento as torna perigosas, por ocultarem decomposição orgânica, miasmas, perigos à saúde.

Há, sem dúvida, a tranquilidade que deflui do silêncio, da quietação, do mergulho no âmago do ser. Nada obstante, não deve ser vista como mecanismo de fuga psicológica da realidade, do movimento, do intercâmbio de recursos com outras pessoas e de ações contínuas em favor do progresso.

Não poucas vezes, a pessoa pode apresentar-se exteriormente calma, vivendo conflitos de difícil controle, profundamente ansiosa ou perturbada nos seus melhores anseios de felicidade.

A tranquilidade pode ser considerada como o fruto da ação realizada com segurança e da vivência dos ideais saudáveis da comunhão fraterna com os demais.

No exercício dos deveres que devem ser vivenciados, a dinâmica do trabalho favorece com a serenidade mental e emocional que resulta da consciência que vibra de acordo com os compromissos aos quais se vincula.

Compreensivelmente, o labor metódico e contínuo, oferecendo significado psicológico à existência é estímulo seguro para as vitórias nos empreendimentos evolutivos e recurso psicoterapêutico para a manutenção do equilíbrio emocional e mental, facultando a vivência da tranquilidade.

No turbilhão das preocupações diante dos enigmas a serem decifrados, o cientista de qualquer área experimenta a harmonia interior e a alegria indescritível de realizar o que vem tentando, e mesmo quando não logra de imediato o resultado feliz, embora experimente frustração ou desencanto, não perde a paz nem a coragem para prosseguir.

Quando se aspira pela paz contemplativa das paisagens transcendentais, experimenta-se também um anseio pela ociosidade, o desejo de fugir do turbilhão onde as demais criaturas estorcegam nas aflições, mantendo-se a distância, a fim de não se permitir contaminar pelos seus sofrimentos.

Essa atitude demonstra o egoísmo em que a pessoa alicerça os seus ideais distanciando-se dos deveres da fraternidade e da solidariedade, em que o auxílio recíproco faculta o crescimento de todos em direção à plenitude.

O decantado paraíso apenas para alguns indivíduos que se olvidaram dos seus irmãos na retaguarda, pensando no interesse pessoal é destituído de plenitude e assinalado pelas preocupações afetivas de que ninguém se pode eximir, especialmente quando se lhe alarga o tempo que permite reflexões e revisão dos atos.

Qual a felicidade de genitores afetuosos que desfrutem das bênçãos da alegria e das bem-aventuranças, constatando que os filhos e amores outros se encontram em sofrimentos inenarráveis sem consolo nem esperança?

Onde a tranquilidade do ser, ante a preocupação com aqueles que jornadeiam na retaguarda, na escuridão da ignorância e nos tormentos do remorso e da culpa?

As pessoas verdadeiramente tranquilas sempre se encontram em atividade contínua, preocupadas com os objetivos essenciais da existência que envolvem todas as criaturas, inclusive a Natureza.

A sua entrega aos ideais que vitalizam pelo trabalho oferece a medida real da grandeza do sentimento que as caracteriza.

Nos processos de depressão, a falta de ânimo para executar ações de qualquer natureza tipifica uma das síndromes graves do terrível transtorno, isto porque, sempre que haja movimento a vida exulta e, toda vez que o trabalho se apresenta estímulos novos comandam o ser facultando-lhe o encontro de sentido psicológico existencial.

Todos os seres humanos que se dedicaram à construção do mundo melhor experimentaram, a princípio, ansiedade em razão da incerteza do êxito. Empenhando-se na vivência do ideal deram-se conta dos desafios que seriam enfrentados e, apesar das circunstâncias, nem sempre favoráveis, perseveraram na luta séria até lograrem o êxito do empreendimento.

Noites mal dormidas, esforços hercúleos, erros e acertos fizeram-se presentes nos diferentes períodos, sem que ficassem perturbados ante a grandeza do labor a que se entregavam. Cada vez mais confiantes, perseveraram até o fim, ainda que tudo aparentemente conspirasse contra os seus anelos...

Isto porque, experimentavam a presença do amor.

A tranquilidade é desse modo, em casos como esses, filha da razão de ser que cada um se impõe, compreendendo que os esforços desenvolvidos para culminar qualquer projeto, tornandoo realidade, é sempre o fruto da perseverança e da irrestrita certeza do êxito.

Por isso, inspiração e transpiração sempre estão juntas em todas as realizações de enobrecimento da Humanidade.

Aparentemente, algumas obras enobrecedoras parecem ter sido feitas com facilidade, apenas porque as observando depois de concluídas não se tem ideia exata de como foram realizadas, dos testemunhos silenciosos, mas também das imensas alegrias experimentadas durante o transcurso da sua realização.

Não se espere, pois, tranquilidade na vida que seja parecida à inutilidade, à falta de movimento e de objetivos.

Afirma velho brocardo popular que águas paradas não movem moinhos, de igual maneira paralisia não transforma as paisagens da vida em recantos de lazer e de felicidade.

O pântano pútrido necessita ser dragado para se transformar em jardim ou pomar. Enquanto permanece na situação de depósito de miasmas é área de morte, no entanto, quando trabalhado transforma-se em centro de vida.

Enquanto estiveres no corpo, sempre defrontarás novos desafios em cada etapa existencial em que te encontrares, porque o fenômeno do progresso abre mais amplas perspectivas e possibilidades de ação.

Estacionar é perder as excelentes chances de produzir e de crescer.

Ninguém espere tranquilidade no leito ocioso do repouso injustificável.

Embora aparentemente com preocupações e lutas, a tranquilidade é o estado interior de consciência e de emoção, avançando rumo à grande libertação das provas e expiações redentoras.

Se desejas tranquilidade ama e serve sempre.

Jesus foi sintético e profundo, aliás, como sempre, ao afirmar: No mundo só tereis aflições, lecionando que os enfrentamentos fazem parte do cotidiano da evolução.

Ele mesmo viveu enfrentando todas as circunstâncias aziagas e perversas da Sua época. No entanto, a tranquilidade era a Sua marca, a Sua forma de ser em todas as situações, inclusive, no momento do beijo de Judas, do suplício no poste de Pilatos, da crucificação, no momento da morte e, também, no retorno em júbilo.

Tranquiliza-te e permanece fiel à verdade no trabalho de autoiluminação, como Ele que se deu por amor...




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