Liberta-te do Mal

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CAPÍTULO 29

Silêncio moral

As abordagens humanas verbais devem sempre se caracterizar pela beleza da forma e profundidade do conteúdo, a fim de que a palavra oral seja sempre musical mensagem que desperte simpatia e amizade.

O verbo zurzido ruidosamente, além de agredir os ouvidos e, consequentemente, a emoção das pessoas, destoa de maneira agressiva da sua finalidade.

Por muito se falar, pouco se é ouvido.

Quanto mais se alteiam as vozes, mais ruídos ampliam os sons produzindo bulha e mal-estar nas pessoas educadas e, portanto, sensíveis.

É muito útil poder falar-se no momento adequado, e especialmente silenciar-se quando as circunstâncias assim o exigirem.

Há desse modo, silêncios diferentes: aquele que é harmônico e reconfortante, pois que favorece a reflexão e mantém a paz, assim como aqueloutro que é a quietação da palavra, enquanto os sentimentos em fúria ou em aceitação imposta rebolcam-se no íntimo, enfermando quem assim se comporta.

Nesse último, amplia-se a rebeldia, surgem os propósitos nefandos de vingança e de agressividade, ressumando angústias e protelando o desconforto emocional.

Crimes hediondos são urdidos nessa situação, como forma selvagem de desforço, pois que as paisagens do coração tornamse refúgio dos monstros da fúria e do prazer de desagravamento.

O silêncio moral, que é resultado do equilíbrio e reflete as intenções superiores do indivíduo, consegue diluir as ofensas quando lhe são atiradas, ampliar os campos do Bem quando se tratam da ensementação de recursos enobrecedores, acalmar as ansiedades, retificar atitudes e elaborar programas de desenvolvimento espiritual.

Nem sempre é fácil lográ-lo, porque a mente, como asseverava Buda, há mais de dois mil e quinhentos anos, é semelhante a um macaco louco pulando de galho em galho, sendo necessários a disciplina e o exercício contínuo para asserená-la.

A partir dessa conquista, torna-se mais aprazível vivenciar-se a quietude ativa do pensamento, mediante o silêncio no tumulto do que intentar competir com a algazarra, a fim de impor as próprias ideias.

Há muito barulho perturbador nos relacionamentos humanos, cada pessoa mais desejosa de ser ouvida em relação à outra, impondo a sua palavra como desabafo das constrições penosas que experimenta, sem tempo mental para raciocinar. Fala-se, então, apenas por falar-se, dando lugar a grupos loquazes e vazios de conteúdo, que explodem com frequência em gargalhadas de zombaria ou de prazer, nas quais se apresentam mais esgares do que sorrisos promotores de saúde.

O silêncio edificante faz muita falta no contexto da sociedade aturdida.

Observa os discutidores contumazes, e verás que sempre estão do outro lado de qualquer questão, a fim de dispor de recursos para as vexatórias acrimônias e acusações de que se fazem portadores.

Não têm interesse em esclarecer coisa alguma, somente o desejo de falar, de chamar a atenção, de se opor.

São os faladores de ocasião, que se permitem a balbúrdia, a fim de fugirem de si mesmos, em cuja companhia detestam permanecer.

Evita-os no teu círculo de relacionamentos.

Mede-se, de alguma forma, a estrutura moral do indivíduo pela maneira como expressa as suas ideias dos silêncios que sabe reservar-se, quando se faz necessário.

Os palradores, invariavelmente, são conflitivos e atormentados, utilizando o verbo de maneira desnecessária para chamarem a atenção para a sua prosápia e impertinência. Não possuindo valores reais que despertem o interesse dos demais se utilizam de forma atrevida da verbosidade para se destacarem, mesmo sabendo que essa atitude torna-os desagradáveis e censuráveis.

Têm necessidade de valorização, embora lhe seja sempre negativa.

Encontra-os em toda parte, sempre dispostos a digladiar, aparentemente possuindo conhecimentos que, em realidade, não dispõem.

Alguns se apresentam sisudos, mas logo se tornam loquazes em simulacro de respeitabilidade, mantendo a palavra em forma agressiva.

O complexo de inferioridade que os atormenta, empurra-os para a postura de aparente superioridade em que se regozijam, discrepando dos demais, propondo soluções absurdas, dissertando em torno do que desconhecem com facilidade artificial.

Os portadores de silêncio moral são discretos e gentis, normalmente cedem a palavra aos demais, comunicando-se somente quando solicitados e de maneira agradável que a todos bem impressionam, deixando nos ouvintes um contributo valioso, decorrência de seus conhecimentos, de suas experiências ou de outros que merecem credibilidade.

Os grandes mestres da Humanidade falavam menos do que os intrujões e aventureiros, porque a sua mensagem era sempre simples e de fácil assimilação, enquanto que a mentira reveste-se de fantasiosa imaginação, exigindo complexidades dispensáveis à verdade.

Jesus, por exemplo, era sempre comedido no falar e pródigo no agir, ensinando sem palavras, sempre que as mesmas faziam-se desnecessárias.

Quando convidado a se pronunciar, fazia-o de maneira cauta, usando imagens simples, como o fez em relação às parábolas, a fim de que não mais fossem olvidados os Seus ensinamentos.

Falar com simplicidade é maneira de expressar evolução e profundidade de conhecimento.

O importante é se fazer entendido e não apenas brilhante na construção das frases.

Semelhante a uma tela, a grandeza da mesma revela-se em sua pintura e não na ornamentação da moldura.

A beleza do Planeta é a tela pintada pelo amor de Deus que a insculpe no infinito que lhe serve de molduragem.

Os tolos falam em demasia e os sábios silenciam quanto lhes é possível, sem a mudez desagradável dos ignorantes, daqueles que temem a palavra ou se negam a enunciá-la.

Aprende a fazer silêncio moral no teu périplo orgânico.

Fala com emoção do que está cheio o teu coração, conforme a lição do Mestre de Nazaré.

Medindo os conceitos antes de exteriorizâ-los tens o poder sobre eles, que logo desaparece ao serem verbalizados.

Tudo quanto digas torna-se parte da tua sementeira e tudo quanto silenciares transforma-se em contribuição valiosa para os momentos oportunos da ensementação.

Nem o silêncio constrangedor nem a parlapatice desagradável deve ser a tua atitude existencial.

Mantém o teu silêncio moral, e sempre que convocado à contribuição favorável aos demais em relação ao que tens, distribui-o em palavras sábias com todos aqueles que te buscarem.




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