Lições para a Felicidade

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CAPÍTULO 2

INSTINTO E INTELIGÊNCIA

74. Pode estabelecer-se uma linha de separação entre o instinto e a inteligência, isto é, precisar onde um acaba e começa a outra?


"Não, porque muitas vezes se confundem. Mas, muito bem se podem distinguir os atos que decorrem do instinto dos que são da inteligência. "

Herdeiro das próprias experiências, o Espírito vem-se desenvolvendo ao largo dos milénios, alcançando patamares de evolução mais elevados e ricos de conhecimentos, assim como de sentimentos.

Simples e ignorante nos seus primórdios, é portador dos tesouros divinos que nele jazem adormecidos, despertando lentamente durante o pelago das reencarnações até atingir a angelitude, que lhe está reservada.

A princípio, nesse psiquismo sem experiências evolutivas, apresentam-se os impulsos que são o surgimento dos instintos, predominando aqueles que fazem parte da sobrevivência para a conservação da vida, tais como a nutrição, a reprodução, o repouso.

Concomitantemente têm início as manifestações primárias da luta para conseguir o atendimento dessas necessidades básicas, logo resvalando para a agressividade e a violência, que exteriorizam os desejos ainda infrenes que são predominantes em essa natureza fortemente animal.

À medida que se ampliam as áreas do relacionamento social, despontam as disputas pela posse, surgem as paixões dominadoras, aparecendo ao lado da competitividade, o ódio, o rancor, o desejo de vingança quando se encontra contrariado, o ciúme, a inveja, a astúcia para enganar, e as torpes condutas para disfarçar a inferioridade.

De igual modo, despontam os primeiros sentimentos de afetividade, de compaixão, de amparo e apoio aos seus - grupo social e sanguíneo - que se dilatarão através das futuras experiências aos enobrecidos devotamento e abnegação que convidam à doação da própria vida, se necessário, em favor do seu próximo.

Desponta espontaneamente a inteligência, no início, como manifestação do instinto que não discerne, apresentando-se com a complexidade de valores que a constituem e se desenvolvem ao largo das necessidades evolutivas e dos desafios ambientais, sociais, morais e espirituais.

A inteligência passa a comandar as ações, sendo vítima, muitas vezes, das artimanhas dos instintos, que a municiam de recursos para serem atingidos os fins que elaboram, especialmente na predominância das suas paixões.

Assim deu-se no desenvolvimento das forças guerreiras, que equiparam o ser de armas cada vez mais poderosas e portadoras de forças de extermínio mais rápido e violento, até o momento da construção dos denominados mísseis inteligentes conduzidos por computadores.

Somente pelas consequências lamentáveis que se dão, quando utilizada para o crime e para o egoísmo, é que a inteligência se direciona para os valores éticos e as emoções enobrecidas, trabalhando o potencial inato em favor do progresso e da felicidade.

No dia em que se unam os tesouros de alguns dos instintos transformados em sentimentos e de outros convertidos em inteligência lúcida, será adquirida a sabedoria que os harmonizará em um todo de paz.


* * *

Toda vez que o indivíduo reage, dominado por qualquer tipo de violência, os atos que disso decorrem são manifestações dos instintos agressivos que nele predominam.

Quando, ao invés de revide ou de autodefesa, age com equilíbrio e compaixão pelo opositor, é um resultado de expressão da inteligência.

O instinto impõe, enquanto a inteligência expõe.

O primeiro é imperioso e dominador, enquanto a segunda se exterioriza através de argumentos claros e lógicos, predispondo à aceitação.

O instinto é manifestação automática do organismo, entretanto a inteligência é expressão do pensamento que, à medida que se ilumina, mais lúcido e dinâmico se apresenta.

O instinto sempre se exterioriza armado, em mecanismo de autodefesa, preservando a própria vida. A inteligência desarma-o de agressividade, porque reconhece que a melhor maneira de manter-lhe a existência é trabalhar-lhe a paz e o desenvolvimento ético.

O instinto leva ao desespero, e suas reações produzem desarmonia mental, intoxicando a razão toda vez que se exalta e se acredita em risco, perseguido ou não. Por sua vez, a inteligência, quando liberada dos artifícios do instinto, aclara a situação, mesmo quando desagradável, propondo soluções de bem-estar e de efeitos saudáveis.

Um é sempre tirânico, porque não raciocina, enquanto a outra, que se pode apresentar cruel e perversa, pode ser ainda mais iníqua, exatamente porque pensa e pode elaborar instrumentos de vingança, de destruição, de maldade, de crueza...

Nesse conturbar de emoções entre o instinto e a inteligência, os sentimentos, forjados no sofrimento ou nas aspirações do amor enobrecido, tomam-se responsáveis pela conduta de ambos na exteriorização das suas funções na vida.

Os instintos são essenciais à existência, porque preservam as heranças do desenvolvimento antropológico do ser e continuam agindo com os seus automatismos para a preservação do corpo.

A inteligência é-lhe fundamental para a conquista do infinito, em razão de facultar-lhe recursos que tornam a qualidade de vida muito melhor e abrem espaços para as conquistas tecnológicas, artísticas, culturais, religiosas e espirituais, respondendo-lhe pelas realizações sociopsicológicas.

Os instintos, pois, e a inteligência são os dois fatores que, harmonizados, transformam o homem em anjo e o bruto em santo.


* * *

O instinto, quando desenvolvido e educado, torna-se um sentido a mais, vigilante no organismo em defesa da sua estrutura biológica, e a inteligência é a luz balsâmica a conduzi-lo no labirinto das agressões externas que o ser deve enfrentar.

Judas, por instinto infeliz, de medo e de ambição desmedida, enganou-se, traindo Jesus.

Maria Madalena, guiada pela inteligência que a induziu a libertar-se dos instintos vis que a dominavam, encontrou Jesus e liberou-se do vício, sublimando os sentimentos em que chafurdava.

Atila, guiado pela fúria do instinto perverso, assolou grande parte do mundo do seu tempo e sucumbiu devorado pelo ódio.

Agostinho de Hipona, reconhecendo, pela inteligência, a grandeza de Jesus e de Sua mensagem, superou os tormentos íntimos do instinto sexual e fez-se modelo de equilíbrio para si mesmo e para a posteridade.

Pilatos, lavou as mãos, por instinto, evitando envolver-se na trama da covardia farisaica e, por falta de inteligência lúcida, comprometeu-se vilmente, perdendo a oportunidade feliz que se lhe deparara.

Guiado pela inteligência iluminada pelo sentimento de amor, o instinto se transforma em instrumento de felicidade.

Mediante, portanto, os atos que decorrem da conduta humana, pode-se saber quando são procedentes do instinto ou da inteligência.




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