Lições para a Felicidade

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CAPÍTULO 20

SILÊNCIO INTERIOR

772. Que pensar do voto de silêncio prescrito por algumas seitas, desde a mais remota antiguidade?


"(...) o silêncio é útil, pois no silêncio pões em prática o recolhimento; teu espírito se torna mais livre e pode entrar em comunicação conosco. (...) "

No turbilhão da vida moderna, desgastante e aflitiva, o ser humano se descoroçoa muitas vezes na conquista do objetivo que persegue, em face do cansaço e do extenuamento de forças.

A correria pela busca dos recursos próprios para uma existência mais tranquila exaure-o, impossibilitando-o de fruir os benefícios que decorrem da própria luta. Noutras circunstâncias, a irritação decorrente da pressão que sofre nas diversas conjunturas existenciais, os limites do tempo e as distâncias a vencer diariamente na busca do trabalho e do cumprimento dos deveres, tomam-se um grave transtorno para a autorrealização.

De todo lado surgem problemas, e o vozerio aturde-o, dificultando-lhe a escolha correta em torno do que deve e pode realizar, em face das injunções conflitivas que o levam a agir de acordo com os impositivos estúrdios que o agitam e angustiam.

Necessitando da vida social, procura imitar os modelos em destaque, normalmente inquietos e devoradores, ansiosos pela busca das coisas com total desprezo por si mesmos, fascinados pelo egotismo em detrimento dos sentimentos solidários que os tomariam felizes e harmónicos.

Nessa busca, deixa-se devorar pelas imposições vigentes, e quando se sente asfixiado ou frustrado nos planos ambiciosos que acalenta, normalmente foge para os alcoólicos e demais prazeres da moda desconcertante a que se deixa arrastar.

Inevitavelmente, os ideais que acalenta são substituídos pela volúpia do imediatismo, não havendo tempo nem lugar para as reflexões necessárias aos investimentos valiosos que dignificam o Espírito, enquanto predominam as exigências que somente enlanguescem o corpo.

Nesse conflito, perde o contato com o mundo interior, embora embriagado pelas paixões sinta a necessidade de recuperação dos tesouros que realmente felicitam e enobrecem.

O silêncio natural, que alguém se impõe, contribui para auxiliálo na conquista da autoconsciência, na identificação dos objetivos reais e essenciais à existência, na descoberta dos problemas que afligem e das lutas que deve travar, de forma que o equipa de recursos hábeis para os enfrentamentos inevitáveis durante a trajetória evolutiva.

Enquanto o tumulto atordoa e retira a mente do equilíbrio, o silêncio periódico condu-la à reflexão, facilitando-lhe a sintonia com as Fontes de onde procedem as bênçãos mantenedoras da realização humana.

No silêncio espontâneo, bem direcionado, acalmam-se as ansiedades, desaparecem as angústias, ouvem-se as vozes inarticuladas da Divindade.

Graças a essa quietação interior, torna-se possível participar do mundo transpessoal, captando as ondas mentais que dele procedem enviadas pelos Espíritos nobres que se encarregam de conduzir a criatura nos rumos da alegria e da plenificação pessoal.

Esse silêncio deve ser conquistado a pouco e pouco, mediante exercícios de quietação do pensamento, de confiança irrestrita em Deus e de busca profunda pelo âmago do ser.

Não se torna necessário fugir do mundo, a fim de alcançá-lo. Pelo contrário, faz-se mais fácil vivenciá-lo em plena agitação do cotidiano, sem que isso se torne uma evasão da chamada realidade objetiva, funcionando como medida terapêutica de harmonia interna e de valorização das horas.

Sem buscar o isolamento, o indivíduo deve habituar-se a controlar as ideias, optando por aquelas que proporcionam bemestar e júbilo, substituindo as pessimistas e vulgares por outras de natureza edificante, assim criando condições internas para o equilíbrio emocional e a saúde orgânica, que se espraiarão por todos os departamentos que o constituem.

O silêncio é uma necessidade imprescindível para a manutenção da saúde e da paz, equivalendo a um alimento que se absorve para a manutenção orgânica.

Por meio da sua prática são eliminadas algumas toxinas que envenenam os sistemas nervoso central e o endócrino, propiciando melhor fluidez da energia que os vitaliza.

Aprendendo a silenciar, o ser humano consegue bem ouvir, discernir com mais acerto e compreender melhor as conjunturas que o envolvem, assim como aquelas que cercam as demais pessoas.

Graças à sua presença, tranquiliza-se e dispõe de serenidade para agir, evitando-se agitação e agressividade, que são filhas prediletas do tumulto.

O silêncio é veículo precioso para conduzir o Espírito às esplêndidas regiões espirituais, onde haure forças e inspiração para a luta diária.

Praticá-lo, mediante a interiorização, em qualquer lugar onde se esteja, faculta desfrutá-lo, embora se encontre participando dos acontecimentos que sucedem à sua volta.

Sempre que atendia as multidões esfaimadas de amor, de justiça, de compreensão, de pão e de paz, o Mestre Nazareno retirava-se da balbúrdia produzida pela massa, a fim de encontrarse com o Pai. Isto não equivale dizer que em qualquer momento ficasse sem o Seu pensamento ou a Sua assistência.

Tratava-se de uma forma especial de melhor reconfortar-se com a Sua Presença, ampliando a capacidade de amor e de caridade para com os infortunados caminhantes da vilegiatura humana.

No silêncio, orava a Deus, e, do silêncio, enriquecido de majestade e triunfo, volvia às multidões agitadas que O buscavam com os seus problemas e distúrbios, que logo se acalmavam e se modificavam nas estruturas profundas que os geravam.

Quando sintas que o desequilíbrio te sitia a casa mental e estás a um passo da queda, recolhe-te ao silêncio e reabastece-te de paz.

Perceberás que o vigor e a coragem serão restabelecidos e a harmonia tomará conta dos teus pensamentos, palavras e ações.




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