Lições para a Felicidade

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CAPÍTULO 27

VÍCIOS E PAIXÕES

"As paixões são alavancas que decuplicam as forças do homem e o auxiliam na execução dos desígnios da Providência. Mas, se, em vez. de as dirigir, deixa que elas o dirijam, cai o homem nos excessos e a própria força que, manejada pelas suas mãos, poderia produzir o bem, contra ele se volta e o esmaga. " (Comentários de Allan Kardec à resposta da questão n° 908.) As paixões que dominam as criaturas humanas são resultado das heranças instintivas primevas que as impulsionavam na conquista das necessidades, emulando ao avanço e à preservação da vida. Na impossibilidade momentânea, por falta do discernimento e da razão, para bem compreenderem os valores ético-morais, as paixões, algumas mesmo asselvajadas, atiravamnas nas lutas renhidas, das quais resultavam a sobrevivência e os logros para uma melhor qualidade de vida, mesmo que de maneira inconsciente.

À medida que lhes foi surgindo o senso moral, deram-se conta da necessidade de administrar aquelas que se apresentavam de forma violenta, impondo a posse alucinada a tudo quanto passasse a interessar-lhes.

O surgimento do respeito aos direitos do próximo lentamente deu margem à educação das tendências perversas e insanas, que passaram a ser direcionadas com objetivos mais elevados. Isto porque perceberam que a vida necessita do grupo social, e que somente por meio de uma convivência ordeira é que o mesmo pode sobreviver aos fatores mesológicos e sociológicos, adquirindo forças para os enfrentamentos e a construção dos seus ideais.

O conhecimento dos mecanismos da vida e de tudo quanto a cerca, a sustenta ou a ameaça, passou a oferecer recursos para a segurança nos relacionamentos, sem a necessidade da imposição dos seus caprichos, surgindo o entendimento psicológico saudável, que abre as portas para a fraternidade e a convivência, nos quais o ser se eleva e se engrandece.

Impossibilitadas de serem destruídas, por fazerem parte da natureza animal, foram canalizadas para as edificações de engrandecimento e de cultura, de solidariedade e de paz, de beleza e de arte, de fé e de amor, decuplicando-lhes a potência, agora manipulada com sabedoria, resultando como verdadeiras bênçãos de que não pode prescindir a sociedade.

As paixões, em si mesmas, são neutras, porque procedem das heranças atávicas. O uso que se lhes dá é que responde pelas consequências felizes ou destrutivas de que se revestem.

Ninguém pode viver sem as paixões, que lhe constituem parte do ser que é, em trânsito para a realidade espiritual. Enquanto viceje a carne, ei-las impulsionando, numa como noutra direção, dignificante ou perturbadora, conforme a sua estrutura emocional.

A cada um, portanto, cabe o dever de as bem conduzir, assim adquirindo autocontrole e conseguindo as metas dignificantes a que se propõe.

Os vícios, por sua vez, são os devastadores efeitos das paixões, que se enraízam em forma de hábitos de qualidade inferior, responsáveis pelos desastres morais e emocionais que trucidam as criaturas imprevidentes que se lhes vinculam sem qualquer esforço para a sua libertação.

Apresentam-se disfarçados ou desvelados, de forma que se impregnam em a natureza humana, transformando-se em verdadeiros verdugos portadores de inclemência e perversidade.

De início, asfixiam nas suas malhas estreitas e apertadas aqueles que se lhes concedem predominância no comportamento.

Aturdem, enfermam, enfraquecem, desarticulam a vontade e terminam por infelicitar sem qualquer compaixão o seu próprio mantenedor.

Depois, espraiam-se, contaminando outros desavisados que se deixam enganar com as suas falsas promessas de alegria e de bemestar, de euforia e de poder, que logo se convertem em decepção e fuga para novos tentames em escala ascendente e volumosa até a consumpção da sua vítima.

Concomitantemente, os viciados perturbam a ordem social, por desejarem impor-se ou para manterem as suas necessidades mórbidas, tomando-se sicários de outras vidas ou sendo por si mesmos vitimados.

Com essa imperfeição moral, que resulta da falta de esforço para libertar-se dos estágios primários pelos quais transitou, o Espírito que se deixa vencer pelos vícios permanece em atraso no curso da evolução, tornando-se elemento pernicioso para a sociedade, que passa a vê-lo como inimigo do progresso, credor de penas que se lhe devem impor, a fim de serem evitados danos aos demais membros, tanto quanto a si mesmo.

Os vícios são cruéis mecanismos emocionais a que o ser se adapta, permitindo-se-lhes a vigência e soberania nas paisagens das emoções.

Infelizmente, na sociedade contemporânea, muito esclarecida em torno das conquistas tecnológicas e científicas, as paixões perniciosas e os vícios destrutivos recebem muita consideração, quando os indivíduos são açodados para conseguirem os seus propósitos, às vezes ignóbeis, ou para saírem-se bem nas reuniões de negócios ou de recreios, apelando para os alcoólicos, o tabaco, o sexo e outras drogas aditivas.

Longe está o homem de ser social, somente porque se permite o uso e o abuso dos vícios em voga em cada época, ou das paixões animalizantes que o fazem sobressair, conquistando o enganoso brilho da mídia também alucinada em algumas áreas da atual comunicação de massa...

O ser humano marcha para a saúde plena, e as paixões que nele remanescem devem ser encaminhadas para os ideais de crescimento interior e de realização externa, ampliando os horizontes de felicidade do planeta.

Da mesma forma, os vícios deverão ser transformados em hábitos saudáveis ou em peregrinas belezas que deles emergem, lucilando como estrelas no zimbório da noite escura.

Cada época da sociedade sempre se tem caracterizado pelos seus vícios e virtudes, desgraças ou grandezas que foram vivenciados.

Inegável que antes da queda de todas as civilizações do passado, que começou no apogeu da sua glória e do seu poder, quando os valores morais cederam lugar aos vícios e os ideais de engrandecimento foram substituídos pelas paixões devoradoras, fizeram-se vítimas da insânia os seus governantes e o povo em geral.

As paixões, dessa forma, podem ser alavancas direcionadas para o desenvolvimento cultural, emocional, social e espiritual da Humanidade, assim como os vícios mórbidos e devastadores deverão ser convertidos em sentimentos de auto compaixão, de amor e de caridade para com todas as demais criaturas.

Assim agindo-se, a transição do planeta para melhor será feita com mais facilidade, porque os seus habitantes terão optado por conduta mais condizente com a harmonia que vige no Cosmo e a plenitude que lhe está destinada.




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