Rejubila-te Em Deus

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CAPÍTULO 11

Peregrino do Senhor

Convidado a amar, saíste em peregrinação pelos diversos países das alma humanas, cantando as melodias da imortalidade e do Bem.

Desequipado de recursos especiais, utilizaste do sentimento nobre e, com sinceridade entoaste as canções da amizade e da gentileza que se encontravam adormecidas nos arcanos do ser que és.

Sem ideia profunda de todo o significado da tarefa a que te impuseste, passaste a sorrir pelos caminhos humanos, espalhando a esperança e a alegria como sinal de identificação da mensagem que conduzias no recesso íntimo.

Desconhecendo as tortuosidades dos caminhos, enveredaste por desvios e paisagens impérvias, sofrendo a agressividade do roteiro, porém, murmurando a dúlcida musicalidade que te embalava as emoções.

Esperando que as pessoas estivessem dispostas a escutar-te as sonatas de ternura, foste açoitado pela perversidade dos maus, maltratado pela inveja dos enfermos morais, perseguido pelos malfeitores de todo jaez, e continuaste a modular a doce canção.

Ao perceber que no mundo havia mais sombra do que luz moral nos redutos humanos, acendeste o lume da bondade e procuraste deixar claridade por onde passaste, enquanto cantavas as bem-aventuranças do Senhor.

Sucederam-se os tempos e prosseguiste como peregrino sem descanso e trovador sem afonia a demonstrar a beleza e a elegia que existem no dom sublime de amar.

Tomado de emoções sempre renovadas e de esperanças repetidas, volveste aos sítios que antes não te aceitaram e propuseste a tua musicalidade, que embora não aplaudida alcançou alguns outros sentimentos em angústia, que anelavam pela claridade do conhecimento e pela manifestação do júbilo.

Muitos que te ouviram, lançaram-te objurgaçóes deprimentes, utilizaram-se de epítetos depreciativos em torno da tua peregrinação, acusaram-te de charlatão e mistificador, porém, consciente da sinfonia do Eterno Bem, não desanimaste e deste continuidade à tua apresentação nos mais diferentes lugares que te atraíram no oceano da humanidade, ou que te convidaram para que apresentasses a tua melodia...

... E falaste Dele, o Senhor dos Céus e da Terra, das galáxias e das micropartículas, dos dias festivos e das noites de tormentas, das horas calmas e doces, assim como dos momentos de aflição e ansiedade, das esperanças e das consolações, e informaste que Ele mandou o Seu Filho, a fim de que o mundo de sofrimentos transformasse-se em uma orquestra portadora de peças de harmoniosa vibração, para todos sensibilizar.

... E Jesus cantou o Evangelho libertador, utilizou-se de um grão de mostarda e das moradas da Casa do Pai, da figueira sem frutos e das redes de pescar, do filho pródigo e do bom samaritano, das dracmas e das ovelhas, do servo infiel e do trabalhador da última hora, das virgens loucas e das virgens prudentes, da vigilância e da oração, do que é de César e do que é de Deus, de peixes e de pães, e compôs a mais bela e exuberante sinfonia que o mundo passou a conhecer, sem que haja silenciado as últimas notas que pairam nas vibrações da partitura terrestre.

Porém, não se deteve nesses notáveis momentos, o Cantor a Quem te referes.

Ele penetrou o âmago do sofrimento humano com as notas musicais da compaixão e da misericórdia, colocou luz nos olhos apagados, proporcionou sons aos ouvidos moucos, ensejou voz às gargantas mortas, movimentos aos membros paralisados, lucidez às mentes perturbadas, esperança aos sentimentos desiludidos, alegrias às vidas estioladas...

Sobretudo, a Sua presença acalmava as multidões e tranquilizava os atormentados dos caminhos e das sombras da morte, que retornavam em alucinações e desatinos contra os outros transeuntes das estradas humanas.

A tua cantoria informava que Ele é a Luz do mundo sombrio, a porta de acesso à harmonia, o caminho seguro para a felicidade, o Pastor Misericordioso e compassivo, o Amigo de todos aqueles que não têm companhia, o Pão de vida e de sustentação da vida, o Sol que brilha na noite das paixões...

Também apresentaste a patética da traição de que Ele foi vítima, a negação do Seu melhor amigo, o abandono de todos que lhe eram comensais do amor, daqueles que se beneficiaram com as suas mercês, da terrível solidão que Lhe proporcionou suor de sangue, da indiferença de todos que foram atendidos pela sua bondade incomum...

E nessa narrativa, apresentaste a tragédia da cruz, o que aconteceu antes em forma de escárnio dos réprobos, açoites dos covardes, cusparadas dos psicopatas em desespero, e, como se fosse um grande final, a cruz de vergonha e de solidão com Deus.

... Mas também, entoaste o hino de inefável alegria ao referir-te à Ressurreição gloriosa em um amanhecer de bênçãos, para confirmar toda a grandeza da Sua existência de Rei que não necessitava do trono frágil e inseguro da Terra, porque o tem ao lado do Altíssimo...

... E desde aquele momento em que Ele ressurgiu o mundo nunca mais pôde ser o mesmo, porque a morte foi diluída ante a perene madrugada da imortalidade a que Ele se referiu e demonstrou ao retornar para conviver com os amigos ainda aturdidos e sofridos, arrependidos e saudosos, porque O amavam, sim, a seu modo, dentro das suas possibilidades infantis e ternas...

Prossegue a cantar, peregrino do Senhor, mesmo quando todas as vozes silenciarem, se assim acontecer, porque Ele te enviou para que te inebries de contentamento na servidão em que te encontras, para auxiliar os teus irmãos da retaguarda, que ainda não despertaram para a compreensão da Verdade e não dispõem de audição para a musicalidade espiritual do Evangelho.

Nunca deixes de cantar o bem e vive-o como se fosses uma flauta que alguém sopra, e o ar se transforma em doce melodia que embala a vida.

Jamais silencies a voz, mesmo que o cansaço dificulte a emissão do som, mantém a musicalidade no pentagrama da memória jovial e renovada pelas emoções da sinfonia.

Renasceste para peregrinar com a canção de imortalidade, que permanecerá contigo, quando tudo mais houver passado.

Um dia que se pode transformar em uma noite, depois de adormecido, despertarás ouvindo os clarins do Reino de Deus, e serás recebido por Aquele que venceu a morte e o mundo por muito amar.

Assim sendo, canta Jesus e Sua doutrina, tu que a Ele te vinculas pela emoção, pela inteligência, pelo compromisso de peregrinar. 12Agua e sabedoria O Evangelho de Jesus é um incomparável tratado literário rico de preciosas lições que se tornam, cada vez mais, úteis a todos quantos lhe tomam conhecimento. Suas páginas fulguram em poesias de incomum beleza, exaltam a Natureza, os acontecimentos simples do dia a dia do povo, e adquirem mágicos significados que alteram a exaustiva rotina e os desencantos que vestem as criaturas na labuta contínua.

Num momento, narra os dramas esmagadores que ferem a sociedade exausta de submissão aos poderes arbitrários da política perversa. Noutro instante, relatam a revolta defluente da opressão com os seus impostos insaciáveis e, logo depois, as tragédias grupais, familiares, pessoais, assim como também a miséria das massas sofridas, enfermas, esquecidas e enlouquecidas pelo horror que as devora...

Todas, porém, narradas com as tintas fortes dos acontecimentos humanos em patéticas não habituais.

Noutras oportunidades, refulgem os encantamentos ante os fenômenos variados quão complexos das curas prodigiosas, da multiplicação dos pães e dos peixes, da repulsa aos fariseus infelizes, das mudanças climáticas, em aparente violação das Leis Naturais, ante a autoridade Dele...

São todas as narrativas portadoras de inigualável conteúdo ético-moral, que assinalam o respeito e a obediência aos códigos legais mesmo quando injustos, que propõem a libertação pela força do amor e da autotransformação para melhor, por serem os únicos recursos que plenificam interiormente, sem causarem dano de qualquer natureza.

Os diálogos são portadores de elevada tecedura de palavras que não dão margem a titubeios nem a dissimulações convencionais e interesseiras.

A linguagem, embora dúlcida é imperativa, sempre definidora de rumos que devem ser conquistados com esforço e destemor.

... E todas as narrações são otimistas, revelam a estesia do Reino de venturas e as paisagens iridescentes da alegria de viver e, sobretudo, de poder amar sem qualquer laivo de egoísmo.

Jamais se conheceu uma vida como a de Jesus e uma doutrina filosófica de profunda religiosidade como a que Ele ensinou por palavras e, acima de tudo, mediante os exemplos de elevada significação.

Síntese de cultura e de informações, os comentários dos evangelistas em tonalidades diferentes harmonizam-se e completam-se num calidoscópio fascinante, que nunca repete a mesma imagem.

Jesus é, sem dúvida, o mais fecundo Mestre que a humanidade conhece.

Suas palavras simples insculpem-se nos metais preciosos do conhecimento ancestral e atual como pérolas raras numa coroa de peculiar elaboração, para exaltar a grandeza da vida.

Dentre os diálogos inolvidáveis mais significativos, nenhum tão relevador qual aquele mantido com a filha da Samaria.

Propositalmente Ele esperou-a à borda do poço de Jacó, a abençoada fonte de linfa preciosa e indispensável.

Conhecendo-a, planejou dela fazer sua embaixadora de notícias entre os que lhe pertenciam à raça, natural inimiga daquela em que Ele nascera, a fim de demonstrar que Deus é o pai de todos os povos.

Quando ela se acercou da fonte, Ele pediu-lhe água, e ela, espantando-se, porque os judeus não falavam com os samaritanos, nem esses com aqueles, recusou-se a dar-lhe.

Ele, porém, ofereceu a que possuía uma diferente linfa que mataria a sua sede para sempre, de maneira que evitava que voltasse ao poço para buscá-la.

Sem entender-lhe o significado, ela perguntou-lhe como poderia obter esse líquido sublime, já que diariamente era constrangida a carregar o cântaro várias vezes, a fim de suprir as suas e as necessidades da família.

Ele então desvelou-se-lhe, informando ser o Messias, falou-lhe dos conflitos que a amarguravam, dos tormentos que padecia, sugeriu-lhe que O anunciasse à sua gente.

Emocionada e quase emudecida ante a revelação, a mulher não trepidou em dizer a todos que Ele lhe havia esquadrinhado a alma e narrado quem era ela, como vivia, quais as suas experiências anteriores e os suplícios que a subjugavam...

Naquele momento, o do extraordinário encontro, tudo parece uma parábola de Vida eterna.

A água do poço mata a sede, a Dele oferecia a sabedoria para vencer as necessidades totais.

A água comum sustenta as mais variadas expressões de vida, enquanto que aquela que Ele distribuía tornava-se fonte inexaurível de Vida plena.

A água é bênção de reconforto e de paz, no entanto, Ele ofertava a que eliminava todas as inquietações da alma, que atendia os tormentos do corpo ardente de paixões.

Uma era transitória, embora a sua inegável imprescindibilidade para os seres, a outra, no entanto, era o próprio sentido da vida.


Emocionada, no diálogo inesperado e libertador, a samaritana humildemente suplicou-Lhe:

—Dá-me, então, dessa água...

E ao recebê-la não mais teve sede de amor nem de harmonia, de alegria nem de esperança de viver, sem remorsos pelo passado, nem angústias em relação ao futuro.

Anunciou-O, abriu-Lhe passagem na aldeia soberba, embora a miséria em que se apresentava, e, na voragem dos séculos ela renasceu em diferentes corpos, prosseguindo a narrativa em torno do poder da água lustrai da Sua Misericórdia.

O ser humano galgou os degraus do conhecimento exterior e encontra-se sobrecarregado de informações, indo e voltando ao poço de Jacó para recolher a água para o corpo transitório.

E a sede da Verdade permanece!


Basta-lhe, no entanto, acalmar-se, meditar e ouvi-lO, solicitarLhe com sinceridade:

— Senhor! Dá-me, então, dessa água, para dessedentar a alma em ardência e agonia.




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