Rejubila-te Em Deus

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CAPÍTULO 18

NO deserto

Há dias em que tudo se afigura desolador, caracterizado pela perda de sentido, sem qualquer estímulo para o trabalho de divulgação e de preservação do Bem na Terra.

Há períodos na existência humana em que todas as florações da alegria e do entusiasmo emurchecem, a demonstrar a aparente inutilidade da sua benéfica ação.

Há fase no percurso carnal, em que proliferam o mal e a agressividade em crescimento, que asfixiam as débeis manifestações da bondade e da abnegação.

Há ocasiões em que a predominância da vulgaridade e do ressentimento golpeia as expressões da gentileza e da dignidade, parecendo conduzir tudo e todos ao caos.

Há ocorrências perturbadoras que se multiplicam na condição de escalracho maldito, dominam o trigal das experiências de amor e de caridade direcionadas às criaturas humanas.

Quando se olha superficialmente a cultura social vigente e os indivíduos, repontam alarmantes índices de perversidade, de gozo exaustivo e de loucura pelo poder e pelo prazer sem freio nem dimensão...

Interrogam com frustração todos aqueles que se envolvem nos ideais de engrandecimento da sociedade, se têm valido as propostas da honradez e as lições sublimes do Evangelho de Jesus com os seus mártires e apóstolos, desde que apraz aos viandantes carnais tudo quanto leva à consumpção, ao desar, em vez da alegria pura e da harmonia indispensável ao equilíbrio e à plenitude.

Há, é certo, predominância do vício escancarado e sob disfarces variados, o aspecto pandêmico do cinismo e do desrespeito aos códigos de ética e de moral, com prevalência da face zombeteira dos triunfadores da desonestidade, famosos e difamados, nos postos que conquistaram mediante o suborno, a traição e a astúcia...

Mas não são realmente felizes, tranquilos...

Estão hipnotizados esses triunfadores de um momento, que marcham inexoravelmente na direção do deserto que os aguarda, ardente e desolador...

Sorridentes, mas receosos, inseguros embora prepotentes,empanturram-se de poder e intoxicam-se no álcool e nas drogas ilícitas, porque não suportam a lucidez da consciência ultrajada, a fim de fugirem da presença da culpa e do desamor.

Reconhecem que ninguém os ama, embora se exibam ao seu lado, como cachorrinhos que aguardam as migalhas que venham a cair das suas mesas ricas.

Na primeira oportunidade, abominam-nos, abandonam-nos, execram-nos, porque tampouco se sentem amados e respeitados.

Sabem que são utilizados na ruidosa corte da exibição, na qual um usa o outro, que é sempre descartável.

... Esse é o deserto social!

Nunca duvides do êxito da Verdade.

Nuvem alguma pode deter indefinidamente a luminosidade solar, por mais se demore em aparente impedimento.

Foi, num desses desertos que, às portas de Damasco, Jesus apareceu a Saulo, triunfante e enganado, que seguia encarregado de infausta missão contra um dos Seus discípulos.

Ao impacto da Sua presença, derreou da animália ricamente adornada e percebeu a gloriosa figura luminescente, passando a sofrer o horror da cegueira que o tomou, acompanhada do tormentoso arrependimento em torno da hórrida conduta que se permitia.

Nesse deserto, a viagem foi para dentro, para a necessidade do autoencontro, do redescobrimento, da reidentificação com a vida e do retorno aos sagrados objetivos existenciais que desprezara até aquele momento.

Ali nasceu o apóstolo das gentes-, o desbravador dos desertos humanos, expandindo o Reino de Deus em todas as possíveis direções.

A linguagem do tempo é um presente agora, um contínuo suceder que altera todas as paisagens, as agrestes reverdecemse, as montanhosas são corroídas, as pantanosas abrem-se em valas de liberação dos fluidos pútridos...

A água suave, nesse largo, infinito tempo, vence a rocha, o vento cantante desgasta o granito vigoroso, o fogo altera a floresta...

Também o ser humano, mesmo quando soberbo e ingrato, arbitrário e dominador, corroído pelas viroses da culpa, necessitado de afeto que não soube despertar pelo caminho, transforma-se, amolda-se, cede ao impositivo das inevitáveis alterações evolutivas.

Ninguém consegue fugir de si mesmo ou viver saudável sem um propósito, um sentido psicológico na sua existência.

O indivíduo mais inflexível nos seus ideais e convicções, assim permanece até o momento em que a dor se lhe penetra, insinuante e contínua, passando a habitar-lhe as paisagens dos sentimentos.

Nesse deserto, porém, numa caminhada silenciosa e demorada, surgem os tesouros da reflexão, do entendimento dos valores espirituais, da necessidade de ser pleno.

Não importa quando esse sublime fenômeno venha a acontecer, porquanto o importante é que sucederá.

A bênção do tempo agora é responsável pela edificação do anjo e do holocausto de amor, porque o sofrimento é uma dádiva que Deus confere aos seus eleitos.

Após a visita de Jesus no deserto em Damasco a Saulo, o prepotente rabino, déspota e criminoso, teve necessidade de três anos em outro deserto, para diluir a construção de ferro do orgulho em que se encarcerava e argamassar a realidade do amor no coração ralado de sofrimentos.

Foi, portanto, com o reflorescimento das emoções que ele se deixou impregnar por Jesus e contribuiu vigorosamente para torná-lo conhecido e amado.

Trabalha o teu deserto interior com os instrumentos do amor e da compaixão e o transformarás em jardim de dádivas, para tornar o mundo melhor de onde o mal fugirá envergonhado.




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