Rejubila-te Em Deus

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CAPÍTULO 9

Compaixão e compreensão

Ao tomar conhecimento dos sofrimentos humanos, o príncipe Sidarta Gautama, ora iluminado, estabeleceu a compaixão como o caminho seguro para a superação de todas as dores.

Indispensável, segundo ele, conhecer as causas do padecimento a fim de, racionalmente, encontrar-se os recursos hábeis para a sua superação.

Através das Quatro Nobres Verdades, que são as regras de identificação e de administração das aflições com os seguros caminhos para o equilíbrio, o indivíduo pode libertar-se dos sofrimentos.

Ao adentrar-se em regras mais austeras, reconhece que todas as criaturas sencientes devem ser amadas como se fossem a própria genitora. E mesmo quando esta não correspondeu aos deveres que a maternidade impõe, a compaixão deverá nortear o rumo do sentimento, tendo em vista que ela poderia haver-lhe impedido o nascimento, e, nada obstante, não o fez.

Tendo-se em vista a época de primitivismo ético na qual viveu, a sua proposta de compaixão e de misericórdia é portadora de alto significado psicológico e espiritual, em face do impositivo da reencarnação.

Ao ampliar o elenco dos conceitos em torno dos renascimentos, o Buda dedicou a sua existência a ensinar e a viver de maneira consentânea com as estruturas das Leis de Causa e Efeito, de modo a facultar o estado nirvânico. Para tal logro, é exigido que o sofrimento desapareça pela superação do desejo e da consciência individual.

Nada obstante a excelência dos postulados estabelecidos pelo insigne mestre indiano, Jesus demonstrou que a finalidade precípua da existência na Terra é a descoberta do amor e seu desenvolvimento, experiênciando-o em todos os momentos, dando início ao desiderato mediante o cultivo mental, verbal e vivencial desse superior sentimento, responsável por todo um elenco de expressões dignificadoras, como a ternura, a abnegação, o sacrifício, o holocausto, a doação total...

Na proposta de Jesus, o sentimento de Amor apresenta as mais seguras diretrizes para a harmonia interior e para a sociedade, consolidando o ensinamento em outra forma na proposta de não se fazer a outrem o que não se deseja que o outro lhe faça.

Esse comportamento é a consagração do sentimento afetivo, porque proporciona a compreensão dos direitos alheios e o respeito que nos merecem todos os seres, mesmo aqueles que agem incorretamente em relação ao seu próximo, às leis injustas que devem ser corrigidas sem agressão, para não se incidir no mesmo gravame, ao tempo em que amplia o seu conteúdo na aquisição da paz interior, como efeito da consciência reta e do caráter sadio.

Sem a verdadeira compreensão das dificuldades que caracterizam a existência humana, os seus desafios e empecilhos, a aplicação da compaixão torna-se mais difícil de ser vivenciada por exigir a superação do raciocínio e da lógica do comportamento.

Ante o processo dos relacionamentos humanos e a própria conquista dos valores que proporcionam harmonia, faz-se urgente o trabalho do autoconhecimento, a fim de avaliar-se as dificuldades naturais para ser alcançada a vitória sobre as más inclinações, que procedem das existências transatas.

Quanto mais o indivíduo compreende as próprias mazelas, mantém-se vigilante e, ao mesmo tempo, dando-se o direito de as possuir, sem, porém, as manter, melhor e mais eficiente apresenta-se a tolerância em relação aos desatinos dos outros.

Ao dar-se conta de quanto lhe tem sido difícil suprimir o mal que reside no íntimo, o Espírito respeita a posição em que se demoram as demais criaturas, não lhes exige além daquilo que a si próprio concede.

A consciência desperta adverte-o que é necessário ensejar-se renovação, desculpar-se pelo estágio em que ainda transita, esforçar-se por ser melhor, favorecer-se com a compreensão de que o outro, o seu próximo, igualmente carece das mesmas concessões.

Mediante essa atitude generosa, a compaixão, filha dileta do amor que compreende, exterioriza-se-lhe, envolve até mesmo o agressor, que é alguém que se debate em conflitos, que se encontra enfermo, oferece-lhe simpatia e auxilia-o na libertação do drama no qual estorcega.

Essa compreensão demonstra que todo agressor é um ser infeliz, que traz à consciência os conflitos infantis, os arquétipossombra generalizados, as heranças não resolvidas, geradas pelos demônios emocionais das existências anteriores.

Assim sendo, o inimigo é mais digno de compaixão do que de agressão e revide, mas essa visão somente é alcançada quando o amor se expande e se expressa.

A trajetória terrestre é roteiro de contínua aprendizagem, de conquistas infinitas que capacitam o discernimento na compreensão de todos os acontecimentos e da amplitude de crescimento moral, emocional e intelectual ao alcance de todos quantos se propõem aos enfrentamentos iluminativos.

O Espírito sempre viaja da sombra da ignorância para a luz do conhecimento, da síntese para a complexidade, do germe para a plenitude.

Todo o empenho deve ser aplicado, a fim de aprender sem cessar, evitar os desvios de conduta, mesmo quando as sereias do prazer convocam-no para o reinado da ilusão e da vacuidade...

Não se trata, em consequência, de uma caminhada de abstenções ou de castrações, mas plena de realizações edificantes e libertadores.

É a opção pelo melhor de mais tarde, apesar do vultoso investimento no presente.

Toda colheita é sempre a resposta do trabalho de ensementação, que corresponde à qualidade do que foi plantado.

Por isso, o progresso multiplica-se por si mesmo, surpreende, quando uma conquista que parece encerrar uma busca abre incontáveis possibilidades para novas aquisições.

Não sendo possível o esforço de compreensão do sentido e do significado da existência, a compaixão converte-se num ato de piedade fraternal sem profundidade, sem o sentido de libertação do outro, daquele que jaz no sofrimento.

A proposta do amor propele o ser humano na direção do seu próximo, das lutas naturais no mundo em que se encontra, evita afastar-se das problemáticas existenciais para a busca de um repouso que ainda não tem o direito de desfrutar, desenvolve os valores da inteligência na conquista do pão, da construção do lar, da edificação da sociedade, do progresso de todos os seres...

Em vez de o distanciar das demais criaturas que necessitam de apoio e de ajuda, requerendo encorajamento e segurança emocional para prosseguir nos embates, torna o fardo do próximo parte das suas necessidades éticas e morais, envolve-se fraternalmente nas suas experiências, a fim de facultar-lhe a real libertação da ignorância e da escravidão dos sentidos.

Compreender para amar, amar para deixar-se arrastar pela compaixão, eis os caminhos eficazes para a consolidação da paz no mundo interior e na Terra.




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