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CAPÍTULO 2

A AMIZADE

Narra Cícero, o nobre filósofo latino, uma extraordinária lição de amizade, referindo-se a Pítias e Damon, que eram amigos inseparáveis em Siracusa, então governada por verdadeiro tirano.

Pítias, inspirado e honesto, acompanhava os desmandos do monarca infeliz e, possuidor de palavra encantadora, passou a censurá-lo publicamente.


Ao tomar conhecimento da audácia do jovem orador, chamouo ao palácio com o seu dileto amigo, a fim de re-prochar-lhe o

comportamento, terminando por ameaçá-lo com gravidade.

—Se prosseguir criando-me situações insuportáveis - disse-lhe, colérico, o rei Dionísio -, demonstrará rebeldia e traição, passíveis de ser-lhe aplicada a penalidade máxima.

—Mas eu somente refiro-me à verdade - respondeu o moço corajoso.

Em tentativa de demonstrar generosidade, o governante equivocado concedeu-lhe a oportunidade de alterar a conduta e explicou-lhe que a reincidência seria severamente punida.

Os jovens retiraram-se do palácio, e porque o rei não se houvesse modificado, Pítias continuou a censurá-lo em seus discursos públicos.

Pouco tempo depois, irritado, Dionísio mandou prendê-lo e exigiu que ele fosse levado diante da corte reunida na sala do trono, para ser castigado pela ousadia de prosseguir infamando-o.

Sem qualquer temor, o jovem elucidou que a função do rei era promover a justiça, e não exaurir os súditos, beneficiando apenas os bajuladores que enriqueciam, enquanto a miséria se alastrava pelo país.

Porque se sentisse desconsiderado e informando que se tratava de traição e complô para depô-lo, Dionísio condenou-o à morte, antes lhe indagando se tinha algum desejo.


Pítias, estoico

, redarguiu que não temia a punição, mas solicitava que lhe fosse permitido despedir-se da mulher e filhos que residiam em outra cidade.

Zombeteiro, o monarca revidou que não devia ser subestimado, e percebia que se tratava de um ardil para fugir à punição.

Pítias, ante o assombro de todos, informou que daria uma garantia de que volveria para cumprir a pena.


Interrogado qual seria a garantia, antes de responder, Damon, que se encontrava em silêncio, deu um passo à frente e respondeu:

— Eu sou a garantia. Ficarei no cárcere à sua espera. Nossa amizade é de todos conhecida e pública, podendo, portanto, responder por ele.


O rei olhou-os demoradamente e perguntou ao voluntário:

— Já pensou que, se ele não voltar, a pena de morte recairá sobre sua cabeça?

—Sim, majestade - respondeu, tranquilo.

Pítias partiu em direção ao lar, enquanto Damon foi recolhido ao cárcere.

Decorrido o prazo, Pítias não retornou.


Levado à presença do monarca, o refém ouviu-lhe o sarcasmo, quando o interrogou:

—Onde está o teu amigo? Eis que o prazo extingue-se dentro de poucas horas e até este momento ele não compareceu. Que dizes?

— Senhor! Se meu amigo não veio até agora, com certeza algo o impediu, e terei prazer em morrer em seu lugar, embora saiba que ele vencerá, seja qual for a dificuldade que lhe esteja complicando a chegada.


Estava na frase final, quando Pítias, amparado por um soldado, deu entrada na sala, ofegante, abatido e ferido, caindo nos braços do seu amigo e exclamando:
— Graças aos deuses você ainda está vivo! As Parcas

parecem haver conspirado contra mim, porque a embarcação naufragou e consegui sobreviver e avançar pela estrada, quando fui assaltado por bandidos, chegando a tempo para cumprir a sentença...


Emocionado, Dionísio retirou a sentença e mandou libertá-los, enquanto dizia-lhes:

—Uma amizade deste porte merece respeito e compensação.

—Uma amizade deste porte merece respeito e compensação.

Não somente os liberto, como lhes rogo que me ensinem essa nobre virtude que tanta falta faz à Humanidade, ajudando-me a participar dela.


* * *

A amizade, muito esquecida por causa da supremacia do ego no comportamento humano, é a chave para alcançar-se a legítima fraternidade entre os povos.

Ela é suave como a brisa benfazeja e perfumada, que sopra discreta e abençoa a vida.

O seu magnetismo acalma e enriquece de confiança os relacionamentos por propiciar alegria e bem-estar.

Quando a amizade sem jaça se instala na mente e no coração, dignifica a vida, dá-lhe calor e confere-lhe sentido psicológico.

Se é verdadeira, nada solicita nem impõe.

A sua presença desperta o espírito divino que se encontra em latência no imo das criaturas, aguardando-lhe o toque mágico para alcançar a plenitude.

A amizade serve e contribui para o aprimoramento moral e a evolução espiritual.

Na sua base devem repousar os ideais de engrandecimento da sociedade.

Nunca desconfia nem suspeita, porque o seu hálito harmoniza as emoções daquele que a cultiva, enquanto esparze vibrações de paz.

Ser amigo é a maneira mais próxima para transformar-se em irmão.


* * *

Cultiva o doce sentimento da amizade, que elimina qualquer tipo de paixão animalizante e de torpeza moral.

O exemplo máximo é Jesus, que se fez amigo de todos aqueles que não têm amigos.

Treina a amizade, doando-te, e não esperando nada além do prazer de seres tu o amigo do teu próximo.




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