TESOUROS LIBERTADORES

Versão para cópia
CAPÍTULO 10

DESCONSERTOS EMOCIONAIS

Quando mantiveste os primeiros contatos com o Espiritismo, sentiste o deslumbramento que a boa notícia causou-te ao conhecimento e aos sentimentos necessitados de paz.

Toda a informação fez-te um grande bem, esbateu as trevas da ignorância, ampliou os horizontes do entendimento em torno da existência humana, acenou esperanças e conseguiu oferecer-te rumo seguro para a conquista da plenitude.

A convivência na sociedade que te acolheu aureolou-te de emoções especiais de fraternidade e um doce encanto pelo serviço fraternal da caridade envolveu-te de maneira superior.

Sentias haver encontrado o caminho e pensaste que todos aqueles com os quais agora partilhavas os novos ideais eram realmente possuidores de condutas irreprocháveis.

Vias em tudo a presença dinâmica do Espiritismo, das suas concepções tornadas realidade em aplicação perfeita dos seus postulados renovadores.

Sorrisos e simpatias eram permutados, enquanto projetos de abnegação e de devotamento repletavam-te o mundo interior.

Conseguiste ver um novo Jesus Cristo, retirado da cruz da ignomínia para ser companheiro de jornada pelas estradas existenciais, ao lado da diluição dos dogmas humanos criados pela insensatez de teólogos, possívelmente atormentados.

As claridades divinas da mensagem dos imortais penetraram o teu íntimo e prometeste que serias fiel ao novo compromisso, que resistidas às tentações do mundo e aos seus encantamentos fúteis, porque agora conhecias os objetivos essenciais para o triunfo sobre as paixões perversas e dominadoras.

Aguardavas com ansiedade o momento de retornar à casa espírita, para continuar a aspirar a psicosfera de trabalho e de idealismo, com o esforço de viver a gentileza no trato com todos aqueles que a buscavam.

Substituíste o velho círculo de amigos levianos, cujos interesses estavam sempre girando em torno do anedotário chulo, das ambições desarvoradas do poder, do ter, do destaque, do prazer.

Percebeste, e isto comoveu-te muito, que existem emoções superiores, algumas singelas como as de oferecer um copo com água ao sedento, de distender uma côdea de pão ao esfaimado, um aperto de mão a alguém em desolação, um sorriso gentil a outrem dominado pela tristeza ou pelo sofrimento.

Redescobriste-te e te encantaste com o novo ser que passaste a ser, procurando preservar a sintonia com as Fontes espirituais, de modo a poderes haurir sempre a inspiração elevada e a conquistar forças para o desiderato empreendido.

O tempo foi transcorrendo, começaste a conhecer melhor os novos amigos, passaste a ouvir-lhes as queixas, a escutar-lhes as reclamações e a identificar que nem tudo era como percebias, mas que possuía uma outra face, a que estava oculta...


* * *

Diante da percepção de que o ser humano é o mesmo em todo lugar, em luta contra os conflitos e desaires, diminuíste o entusiasmo, começaste também a apontar irregularidades, a descobrir imperfeições, a anotar problemas, o que te desconsertou emocionalmente.

Esperavas, naturalmente, um grupamento angelical no qual todos se encontrassem além das dimensões humanas, portanto, vitoriosos no embate vigoroso contra as imperfeições morais e as inclinações doentias que ainda predominam em muitas naturezas humanas.

Agora te dizes decepcionado, até mesmo desiludido em relação àquelas pessoas que te foram gentis e te constituíram exemplos de bondade e de cordura.

Resmungas comentários desairosos, expressas-te com rudeza, acolhes informações malsãs, relacionas equívocos e pensas em desistir de participar das atividades generosas da caridade e do autoamor.

Com a intimidade natural da convivência, descobriste que no ambiente que te parecia harmônico existem grupelhos que se antagonizam, chefiados por egos presunçosos, que mal disfarçam ambições pueris...

Outrossim, aliaste-te a alguns que desejam renovação, aparentemente imbuídos de bons sentimentos e de ideais modernistas avançados.


Já não sentes o psiquismo saudável do ambiente como antes

ocorria e culpas os diretores e a cúpula administrativa.

Dizes-te cansado e sem motivação para o prosseguimento no trabalho em que te engajaste, enquanto informas que os cooperadores são preguiçosos, hábeis dissimuladores, que mais desfrutam de fama do que de anonimato e de ações silenciosas. Estás enganado na observação atual.

Realmente, a instituição espírita é um grupamento de pessoas em luta contra os próprios limites, em busca do autoburilamento, do crescimento interior, auxiliando-se umas às outras.

Existem sim, esses fenômenos desconcertantes e infelizes, porque, lamentavelmente, cada qual espera mais do outro, enquanto se deveria preocupar para ser o modelo e não para ter modelo para seguir.

Porque algumas pessoas são imaturas, irrefletidas e habituadas à convivência litigiosa, aonde chegam geram clima de hostilidade, de desconforto moral, mesmo sendo santuários em que se deveriam viver o amor e a comunhão com a Divindade.

Mas, nem por isso, os Espíritos nobres deixam de as assistir, porque reconhecem esse estado doentio dos que são muito necessitados e não se dão conta, sempre atribuindo os erros aos demais, enquanto se mantêm em posição de vigilantes da conduta alheia.

Torna-te o exemplo para que outros aprendam contigo, com os teus silêncios nobres, com a técnica de diluir a maledicência, de apagar a calúnia, de eliminar a intriga.

Faz-te amigo de todos, e se percebes alguém em erro, fora dos padrões do comportamento espírita, adverte-o com bondade e convida-o ao recomeço com nova disposição.

Não sejas vigia de ninguém, nem te tornes fiscal da conduta de outrem, quando muito tens a fazer em benefício próprio.


O Reino de Deus não tem aparências exteriores, conforme 47

enunciou Jesus. Encontra-se ínsito no coração, de onde se espraia na direção do seu próximo.

Nunca desistas do bem, nem te permitas os desconcertos que representam inferioridade moral.


* * *

Com propriedade e sabedoria Allan Kardec asseverou que "Reconhece-se o verdadeiro espírita pelo esforço que empreende para ser hoje melhor do que ontem e amanhã melhor do que hoje, lutando sempre contra as más inclinações. " Ele não informou, portanto, que o espírita era um ser perfeito, mas um lutador contínuo em esforço profícuo pela autoiluminação.

Sai da desolação e volta ao trabalho, a fim de fazeres jus à definição do insigne mestre de Lyon.




Acima, está sendo listado apenas o item do capítulo 10.
Para visualizar o capítulo 10 completo, clique no botão abaixo:

Ver 10 Capítulo Completo
Este texto está incorreto?