TESOUROS LIBERTADORES

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CAPÍTULO 8

AS MÁS INCLINAÇÕES

O grande poeta latino Terêncio afirmou com espontaneidade, há quase vinte séculos: Nada humano é estranho para mim.

Embora aparentemente audaciosa a conceituação, ela encontra ressonância na realidade, em face da existência das más inclinações, que são heranças arquetípicas do processo evolutivo da criatura humana.

Essa afirmativa deixa transparecer quanto o nobre poeta conheceu de perto na sua trajetória, a respeito dos comportamentos dos indivíduos e da sociedade do seu tempo.

É natural, portanto, que assim suceda, tendo-se em vista os arquivos ancestrais das experiências passadas impressas no inconsciente do Espírito imortal, nos quais se encontram ainda predominantes os instintos primários, que o levam a cometer equívocos lamentáveis, mesmo quando se encontra equipado de bons sentimentos e de conhecimentos em torno da responsabilidade perante a consciência.

As tendências perturbadoras, sempre que disparado algum gatilho emocional, ressumam dos arcanos profundos do ser e induzem-no, nesse momento infeliz, invigilante, a agir de maneira agressiva, incorreta e perturbadora, gerando consequências em forma de danos que exigem reparação, mudança de atitude, recomeço emocionai e moral.

E, graças a essas perseverantes energias negativas, que muitos comprometimentos funestos instalam-se na conduta individual e coletiva, e geram abismos desastrosos no dia a dia da sociedade.

Pessoas corretas na aparência, insuspeitas e gentis, de um para outro momento alteram a maneira de conduzir-se, permitindo-se lamentáveis ações morais e espirituais que as fazem resvalar para níveis ultrajantes.

Indivíduos que combatem os erros sociais, as condutas que consideram esdrúxulas, quase sempre são surpreendidos exatamente nesses desaires que os atormentam interiormente, ocultos que permaneciam sob a máscara exterior.

Não seja, pois, de estranhar, que todo mal combatido com veemência e intolerância encontra-se ínsito nesse puritano, que se detesta inconscientemente e procura punir nos outros a chaga que carrega, como ferida aberta nos sentimentos, em processo de transferência para os demais.

Quando a sombra insidiosa e multifacetada não sofre o enfrentamento de maneira correta e consciente, o ser real, sempre quando confrontado com o que oculta, desvela-se, dá lugar à expansão dos conflitos malcontidos.

E de relevante importância a constante auto análise, de modo a preservar-se a vigilância moral nos atos, reflexionar-se com cuidado ante os desafios, de modo a conduzir-se com a retidão possível, sem as manobras do ego ditador.

A conquista do bem-estar é efeito natural dos hábitos salutares gerados na mente voltada para o culto da edificação moral, mediante o reconhecimento da própria fragilidade, sempre ameaçada pelas injunções do cotidiano.


* * *

Platão acreditava que o ser humano é inerentemente bom, caso estivesse inteiramente consciente da sua responsabilidade.

Essa consciência do dever é resultado do conceito de que todos procedem do mundo das ideias, portanto, enriquecidos dos conteúdos do bom, do belo, do essencial.

Indubitavelmente, se a jornada começasse na fase da consciência, seria muito fácil a preservação dessa herança transcendental formadora do caráter, presente da individualidade.

Em realidade, o ser conduz no íntimo a essência divina, que lhe cabe desenvolver através de contínuas experiências evolutivas, qual semente dadivosa, que necessita morrer esmagada no subsolo, a fim de libertar a vida que se lhe encontra adormecida e alcançar a fatalidade da plenitude a que está destinada.

De igual maneira, o Espírito em processo de crescimento para Deus é compelido a encarnar-se e reencarnar-se, a passar pelo ciclo do nascer, viver, morrer, renascer sempre até atingir a culminância da sua destinação histórica.

De cada experiência transfere as conquistas positivas e negativas para o novo cometimento, a fim de libertar-se daqueles que são mais vigorosos, enquanto adquire outros de significado mais profundo, em aprimoramento contínuo até a total liberação das carapaças de que se encontra revestido na sua origem.

Por isso, é sempre tarefa inútil, quando não perniciosa, tentar ignorar as imperfeições, esmagar as más inclinações, refrear os impulsos vigorosos.

Tudo quanto é recalcado retorna com mais vigor e pulsação.

O enfrentamento com o ego, o autoconhecimento, que proporciona a visão dos limites assim como das possibilidades, constituem as valiosas ferramentas para desarmar os mecanismos de autodefesa egoísta, limar as imperfeições, diluir as cristalizações defluentes dos instintos primários e conduzi-los com equilíbrio para as finalidades vitais da existência sob o comando da razão.


As atitudes exteriores que disfarçam as dificuldades e os conflitos são o verniz social para os relacionamentos saudáveis, que, no entanto, devem aprofundar-se nos porões da alma, para

liberar-se dos pântanos pestilentos das paixões dissolventes e enfermiças.

O ser humano prossegue amarrado ao passado de onde provém com amplidões infinitas pela frente, na direção do futuro que o aguarda.

A reencarnação, por isso mesmo, é a metodologia feliz para a consecução do objetivo anelado.

E impostergável o dever de aproveitar-se com sabedoria cada momento da existência carnal, para insculpir no cerne do ser os sentimentos de amor, de perdão, de compaixão, de autoiluminação.

Enquanto, aparentemente, tudo compele ao materialismo, aos choques e convulsões do personalismo, a batalha travada internamente pela predominância do bem tem regime de urgência.

Para esse augusto mister, a figura incomparável de Jesus, o Mestre por excelência, deve ser buscada, vivenciada, cuja vida e lições constituem o mais valioso recurso psicoterapêutico preventivo ao desequilíbrio e curativo para as feridas não cicatrizadas.


* * *

Nunca desistas de vivenciar o dever de desbastar a sombra.

A ignorância da sua força e poder mais energia lhe confere na predominância sobre o Espírito que se lhe submete inerme, por acreditar-se possuidor de méritos que as demais pessoas não reconhecem.

A coragem da luta interna, do conhecimento dos próprios limites e dos imensos quão importantes desafios para o avanço moral e espiritual, mais facilmente superam as más inclinações, dulcificam os sentimentos e felicitam o ser que ascende a patamares superiores de espiritualidade.




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