Quando paras a considerar as consequências da tua adesão à convicção espírita, observas que não houve modificação objetiva na paisagem dos teus dias.

Refletes que os óbices, no lar da tua família-difícil, continuam em crescendo e somente graças a um acentuado esforço de disciplina interior tens conseguido frenar os impulsos inferiores; os deveres na atividade fora do lar parecem carregados de sombrias perspectivas, que conduzes como fardo desagradável; os amigos, arredios, já não se sentem à vontade ao teu lado, exibindo para outros as taças cristalinas de sonhos e prazeres que te são escassos; contrariedades chegam ao domicílio dos teus painéis mentais e se amontoam gerando cansaço e desalento; solidão interior, mesmo quando muitas pessoas estão em derredor, parece vencer-te...

Constatas que aquelas lacunas produzidas pela melancolia não foram preenchidas e as ásperas aflições prosseguem sem dar-te trégua; lentamente deparas com a realidade e te surpreendes frio interiormente.

Os companheiros de lide cristã e espírita se te afiguram enfermos como tu mesmo e já lhes podes apontar estas e aquelas deficiências, situando-os em plano de perfeita ingualdade contigo. E supunhas que fossem melhores! Pareciam-te tão seguros!...

Confiavas encontrar soluções para os afligentes estados d’alma e os graves problemas externos. Onde o concurso de Mais Alto? — Inquires, silenciosamente —; quando o socorro dos Benfeitores Desencarnados?

O êxito da semente depende da preparação do solo que a receberá.

A transparência do curso d’água é devida à estrutura do leito sobre o qual desliza.

A glória da colheita se relaciona ao êxito da enflorescência.

O pão é escravo do grão singelo, tanto quanto a fertilidade da produção resulta da abundância do pólen.

Numa engrenagem grandiosa, modesto filamento desempenha papel relevante, e, num sistema transistorizado de alta fidelidade, insignificante bobina participa da extensão potencial do instrumento.

A Doutrina Espírita é semente de vida etern, mas o homem é o solo que a deve multiplicar; é água cristalina deslizando por sobre a mente e o coração; é flor, pólen e pão de luz atirados sobre a intimidade do ser que os deseja. Evidente, pois, que se façam valiosos os que a recebem de modo a ensejar-lhe os recursos para a sua extensão vitoriosa.

Justo que aspires pela modificação da face exterior da tua vida e que desejes soluções imediatas no mundo íntimo.

Reflete, porém, mais cuidadosamente, e medita com mais acurado esforço.

O sol que visita uma paisagem felicita-a, felicitando-se.

A palavra de vida imortal lenifica, ilumina, sustenta e plasma novas diretrizes que, impressas no homem, fazem-no novo para a própria vida.

Talvez não registres as mudanças apressadas que ambicionas; no entanto, se insistires lealmente e mergulhares nas suas lições, perceberás...

Nas traves grosseiras da Cruz estava um justo. Escarnecido se encontrava um herói; traído, era um inocente; tombado pelo poder temporal, quedava-se de pé na direção do poder espiritual; vítima, não reagira, por ser um bom; abandonado, continuava confiante; ferido por incomparável ingratidão, tinha os braços abertos, como se aguardasse todos os homens para os abraçar, estoico e pulcro. Confundido entre dois salteadores de má vida e anteriormente trocado por Barrabás, por todos sabido sicário e criminoso, era o Excelente Filho de Deus, Rei da Terra, ensinando vitória sobre si mesmo para a perene vitória sobre todas as dores e paixões.

Recorda-O diante das tuas aspirações precipitadas e considera a tua posição perante Ele, continuando a lutar, paciente, até o triunfo final.

NOTA — Tema para estudo: L. E. — Parte 3a — Cap. V — Gozo dos bens terrenos.

Leitura complementar: E. — Cap. XVI — Parábola dos talentos. — Item 6.