Lampadário Espírita

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CAPÍTULO 44

Inquietação e crueldade

Fosse qual fosse o motivo, ele não tinha o direito de fazer o que fez.

Recebera amor em demasia e a concha do seu coração recolhera somente o carinho e a ternura máxima do amigo afeiçoado.

Vivia ao seu lado, conhecendo todo o ministério do seu devotamento aos homens. Vira-O em mil atitudes, em várias circunstâncias e jamais O surpreendera em posição dúbia, distante da execução do programa de amar sempre, em quaisquer ocasiões.

Vira-O tentado pela pusilanimidade, perseguido pela inveja, desdenhado pela prepotência, desconsiderado pelos valores mentirosos, ridicularizado pela bazófia, no entanto pulcro e majestoso, exteriorizando a realeza da sua procedência, em humildade incomparável.

Vira-O chorar discretamente muitas vezes, considerando em silêncio os desertores, os beneficiários que preferiram os caminhos malsinados da ilusão ignóbil da carne trêfega, deixando-O sem consideração.

Quantos se acercaram, jurando renovação íntima, para logo debandarem nos resvaladouros das paixões aniquilantes!

A ninguém jamais negara a moeda de luz da esperança, ou a côdea larga do pão do reconforto.

Apesar disso, muitas vezes surpreendera-O a sós. meditando, afável, em todo momento ensinando amor.

Todavia, Judas, inquieto, movido por esse ou aquele motivo, O traíra...

desertando, logo após, da carne, em desventurado autocídio.


* * *

Inquietos, cruéis!

Há espíritos que experimentam inquietação, enquanto buscam, sedentos, os elevados objetivos que têm a colimar. Sua inquietude não turba a mente nem desgoverna os sentidos; faz-se força de propulsão para a vencida dos obstáculos que devem ser transpostos. E há os irrequietos, os que vivem agitados, facilmente conduzidos à crueldade.

A inquietação é síndrome de enfermidade grave a azorragar por dentro, dilacerando as fibras íntimas do sentimento que se estiola e das emoções que se desorganizam. E a crueldade é câncer n’alma, já instalado.

A inquietação conduz o espírito que se torna infeliz em jornada de loucura. E a crueldade manifesta-se como chaga no egoísta que se crê merecedor único da claridade solar, e, prepotente, supõe-se credor de todas as bênçãos da vida, sem contentar-se com tudo quanto lhe chega.

Avaro de amor, não ama.

Calceta, inveterado no erro, não desculpa erro algum dos que lhe sofrem o talante. É espírito rudemente atormentado em si mesmo.

Ama-o, porém, tu, ajudando-o a crer que é possível amar sem exigir e ajudar sem pretensão de recompensa.

Ora por ele, banhando-lhe o ser de vibrações que o lenirão de fora para dentro e que se fixarão de dentro para fora.

Os teus exemplos, talvez, não o comovam, nem o convençam. Persevera, mesmo assim.


* * *

Resguarda-te da tecedura sutil da inquietude que leva a crueldade para com o teu irmão do caminho.

Submete-te a rigoroso exame e fiscaliza as manobras e artimanhas do egoísmo na aduana da tua mente.

Não te suponhas merecedor disto ou daquilo. Agradece o que te chegue, como chegue, por quem chegue.

Em verdade, devedores como somos, em considerando os Estatutos das Divinas Leis, tudo quanto nos é dado pode ser considerado acréscimo da Misericórdia de Nosso Pai.

Acautela-te, condignamente, e asserena-te, seguindo confiante e tranquilo pela rota dos teus deveres, com brandura e docilidade.

Judas não se supunha capaz de traí-Lo, enganando-se a si mesmo, vencido pela cegueira da inquietação que o levou a crueldade do ato inominável. A invigilância crispou-lhe a alma e forças tiranizantes o venceram. Tem cuidado, cultivando o reconhecimento, a amizade, e zelando, prestimoso, os bens da aflição que te doam em forma de luz para a senda por onde seguem os teus pés com robusta e nobre tranquilidade em Jesus.

NOTA — Tema para estudo: L. E. — Parte 3a — Cap. VI — Crueldade.

Leitura complementar: E. — Cap. IX — Injúrias e violências. — Itens 1/5.




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