Lampadário Espírita

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CAPÍTULO 57

Ingratos

Se te amarguram as horas de tranquilidade as ingratidões dos que olvidaram a mesa feliz dos teus afetos, não te deixes avinagrar. O ingrato é alguém que enfermou.

Se apontas aqueles que recalcitram, invigilantes, ao carinho do teu devotamento no letargo da ingratidão, não te permitas vencer pelo cáustico da aflição.

O ingrato é alguém que te merece compaixão.

Se sofres o condicionamento do desconforto, porque o beneficiário da tua ternura fugiu, maldizendo-te o nome, para e refaze os conceitos em torno do amor. O ingrato é um coração que se deixou enlouquecer.

A ingratidão, por isso mesmo, constitui valioso aclive de difícil vencida na rota redentora por onde seguem os teus pés, jornadeando, infatigáveis.

Saca dos tecidos sutis da tua afabilidade e doçura os cardos ferintes que foram cravados pela enfermidade dos que te deixaram e se demoram atormentando os teus propósitos de amar. Para onde olhes, defrontarás a mazela da ingratidão impensada.

Ninguém transita pelos rumos da Terra sem sorver a taça da ingratidão, ingratidão que desde ontem aparece e reaparece em todas as vidas.

Observa as leis cósmicas refletidas em a natureza: a árvore gentilmente abençoa a terra que a sustenta, protegendo-a com sombra acolhedora; o rio tranquilo reflete o seu reconhecimento ao solo, bordando-lhe a orla com vegetação luxuriante; a semente agradece ao homem que a protege na cova escura, multiplicando-se em grãos, e a haste, carinhosamente plantada, espoca em flores aromáticas, traduzindo felicidade e louvor ao jardineiro que a preserva.

Não te aflijas ante as ingratidões que te convidam ao testemunho do amor.


* * *

Há ingratos e ingratos.

Transitam pela História alguns ingratos tristemente celebrizados.

Os heliastas, em Atenas, passaram à posteridade aureolados pelo assassínio de Sócrates, o filósofo da ética por excelência.

Marco Bruto tornou-se célebre por ser um dos homicidas de César, que passava por seu pai adotivo e protetor.

Nero, que galgou o trono graças à astúcia de Agripina, sua mãe, assassinou-a em tormentosa volúpia obsidente...

... E Judas, o discípulo enganado, conduziu à cruz o Amigo da Humanidade.

Quantos, no entanto, antes deles, quantos depois deles!

Jenner, o pai da vacina contra a varíola, sofreu na carne a ingratidão dos beneficiários dos seus sacrifícios, continuando, porém, a socorrê-los.

Lavoisier, a quem a Humanidade tanto deve, sofreu a ingratidão da sua época, pagando na guilhotina o tributo da dedicação à ciência.

Florência Nightingale, sofrendo ultrajes de toda ordem, prosseguiu atendendo as vítimas sofredoras da guerra da Crimeia.

Ingratos, ingratidão!...


* * *

Armazena as tuas melhores energias, em nome de Jesus, para amar com desinteresse e abnegação.

Com propriedade afirmaram os espíritos da Luz ao incorruptível Codificador do Espiritismo que: "Duas espécies há de afeição: a do corpo e a da alma, acontecendo com frequência tomar-se uma pela outra. Quando pura e simpática, a afeição da alma é duradoura; efêmera a do corpo. " Servidor do Cristo que pretendes ser, não te revoltes com os que se utilizaram do vasilhame do teu amor e te olvidaram no caminho.

Se a tua casa se alongasse até o tremedal que exala putrefação, não maldirias o paul: drena-lo-ias ao revés; se o rio caudaloso ameaçasse a estrutura do teu lar, não te quedarias na blasfêmia deprimente: cuidarias de reforçar os alicerces do edifício para preservá-lo; se a enfermidade pestilencial visitasse os sítios próximos a ti, não aplicarias a chibata do desespero verbal, antes, imunizar-te-ias com vacina específica para defender a organização física.

A ingratidão é moléstia virulenta do caráter, que tem nascente no espírito.

Unge-te da medicação do amor e esforça-te por amar, especialmente os que se fizeram difíceis de ser amados.

No enunciado do Senhor a respeito do amor dirigido aos inimigos, perceberás a conotação do amor aos ingratos, àqueles que se tornaram espontâneos inimigos da tua paz. E aprende com Ele, quando, na cruz, contemplando a turba bulhenta, inquietada e afligida por espíritos infelizes que a comandavam, sentiu quanto se fazia mister amar aquela gente que, embora beneficiada pelo amor total de Sua vida, não se deixara felicitar pela sublime doação de tanto amor. Ao invés de os lamentar ou de os reprochar, orou ao Pai, profundamente tocado, rogando perdão para o inominável crime, certo de que eles não sabiam o que estavam fazendo.

No dia a dia da tua vida, faze o mesmo, orando ao Celeste Pai em favor dos que se tornaram difíceis de suportar, tendo o cuidado, entretanto, de no exame da ingratidão dos outros em relação a ti não te fazeres ingrato para com aqueles que são os teus benfeitores e amigos, que te ajudam sempre com desinteressado carinho.

NOTA — Tema para estudo: L. E. — Parte 4a — Cap. I — Decepções. Ingratidões.

Afeições destruídas.

Leitura complementar: E. — Cap. XIII — Benefícios pagos com ingratidão. — Item 19.




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