Sementeira da Fraternidade

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CAPÍTULO 27

DESERTORES E ACUSADORES DO ESPIRITISMO

Parte 1
Conquanto os eloquentes testemunhos da excelência dos seus postulados, padece, ainda hoje, o Espiritismo epítetos e acusações que decorrem, desde há muito, da ignorância tradicional dos que se lhe tornaram inimigos gratuitos. De um lado a má fé ancestral dos condutores intelectuais dos povos, de outro a ignorância mesma, na sua manifestação multiface arregimentaram esses inimigos tradicionais em forma de malquerença para caluniar os objetivos elevados da crença nova, numa tentativa de certo modo absurda, de impedir-lhe a austera e salutar propagação. Como consequência, a aureola de sobrenatural, de fantasioso, mirabolante ou miraculoso, esteve continuamente a envolver a tradição kardecista, o que se de alguma forma constituiu empeço a uma divulgação luminosa, de outra fê-lo atração indubitável para as mentes ansiosas e aventureiras, — quais párias desiludidos da vida buscando novos roteiros após se verem traídos nos ideais da ingenuidade, por aquelas doutrinas caracterizadas pelo constante anatematizar, ridicularizar e perseguir as demais, que esperavam encontrar no Espiritismo vasto campo para colheita de resultados imediatos na 5ida de relação. Tais interessados desejavam, desse modo, encontrar no contato com os Espíritos 1mortais novo "El dorcido" para a felicidade na Terra. As adesões em massa fizeram-se, então, acobertadas pela crendice de uns tolos como pela argúcia de alguns astuciosos, e, não obstante as proibições taxativas sobre o comércio com os chamados mortos, adensaram nas fileiras novas da investigação para o prazer, fazendo que a incursão no campo do Mundo Espiritual se fizesse caracterizar pelo fanatismo, pela negociata, pela esperança de conseguir tesouros ou pelas informações arbitrárias com que a leviandade desta ou daquela cor desejava o triunfo barato no campo das especulações.


Descobrindo de imediato, porém, que o campo espírita não podia ser eivado pelo escalracho da leviandade, nem

"(‘da erva daninha da ociosidade, aqueles aventureiros, que esperavam números de loteria, casamento feliz, uma vida sem problemas, uma "buenadicha" para o conforto físico, mapas de tesouror enterrados, heranças perdidas, saúde inalterável, gozos continuados, puseram-se em debandada, atacando ós recursos do mediuíiismo atormentado, corroído pelas paixões humanas, pelas mais torpes calúnias, acusando a mediunidade de ser uma estrada impérvia por onde seus pés houveram transitado sem encontrar via de acesso a saídas honrosas.

 

Não colimando os resultados procurou-se dizer, "a posteriori", que o Espiritismo era um campo de espertalhões e, logo, de desertores, o que levou Allan Kardec, conforme anotado em "Obras Póstumas", a inquirir se tais aventureiros, que se encontram em todos os campos do conhecimento, poderiam a seu turno, revestidos destes desejos, ser cognominados de espíritas!?

 

Espirita e o homem que trava contato com a Verdade e que, depois de banhado pela luminescência da Fé, se torna igualmente iluminado.

 

Lucigênito, o homem tem em si mesmo o gérmen da verdade interior em alta dose que lhe compete desdobrar, assim como, em paralelo, a terra fértil da glande arranca o carvalho poderoso, desde, porém, se lhe dificulte o ministério do desdobramento de forças como à semente se lhe negue a terra gentil, é natural que se lhe entorpeça a fonte geradora do conhecimento, matando-se-lhe a possibilidade de discernir e de compreender, como na semente, ocorrência idêntica destruiria a seiva.

 

A função precípua do Espiritismo é arrancar do homem o egoísmo, esse cancro de tão maléficas consequências, no qual se manifesta em alta dose a ignorância, um dos seus filhos prediletos, cuja raiz se emaranha no âmago do ser e o asfixia, semelhantemente ao parasita que na árvore em decadência se encarrega de roubar-lhe as últimas expressões de vitalidade, destruindo-lhe a esperança da sobrevivência. E como o egoísmo é pertinente à natureza animal do homem e o Espiritismo é de natureza espiritual mesma, impõe-se a batalha acérrima do ser que se desvela em direção da vida com o ser que se enovela nas paixões, a cujo labor devem ser colocadas todas as armas do enobrecimento a fim de colimar a vitória final.

 

Não há, por esta razão, na seara do Espiritismo lugar para aventureiros nem charlatães, para os que ambicionam ganhar a Terra a golpes da sorte, da astúcia ou pretendem triunfar mediante mercantilismo dos negócios, através da competição desonesta com os trabalhadores laboriosos, ou ter diminuídos os seus problemas sem a contribuição do esforço, do suor e das lágrimas.

 

Postulando sua diretriz na reencarnação, ensina ao homem que a vida não é uma consequência caprichosa do acaso, mas o resultado matemático de leis causalidade que impõem ao espírito atrabiliário retificar numa vida os equívocos da outra, numa reencarnação laborar para preencher as lacunas pretéritas e plantando simultaneamente alicerces do edifício do futuro.

 

Não há como obumbrar tão lúcidos ensinamentos, o que leva o homem a uma consciência de responsabilidade e dever por meio da qual ele supera o temor da morte, a investida do remorso e está armado contra as vicissitudes, porque, entendendo da sabedoria e da misericórdia Divina, sabe que é o autor da sua dita como dos seus insucessos, estando pois, e consequentemente, ao seu alcance elaborar o futuro ditoso ou o porvir desajustado e infeliz.

 

Inegável que haja desertores nas fileiras do Espiritismo, mesmo porque no Cristianismo, aos dias de Jesus, não foram poucos os beneficiários do seu carinho que logo debandaram conduzidos pela frivolidade e pela insensatez, trocando a dádiva perene do Reino de Deus pelo fogos-fátuos da ilusão terrena. Não foram poucos os que, conduzidos ao reino de luz e de esperança pelo Carpinteiro Galileu, preferiram a sombra espessa da ignorância em que ainda hoje se debatem, não faltando mesmo aquele que o traiu, outro que o negou, os que o abandonaram, apesar do esforço posterior que alguns empreenderam para reconquistar a comunhão nas Suas hostes de renovação, o que conseguiram mais tarde.

 

No Espiritismo, também, o problema da consciência tranquila não se equaciona senão através do árduo esforço, das ingentes pelejas, das intérminas batalhas, porque o homem é aquilo que elabora intrinsecamente o seu espírito imortal e não a sua forma transitória.

 

Haverá sempre desertores e malversadores da Doutrina. Estarão diante de nós uns e outros, mas aqueles que se conscientizarem dos postulados redentores do Espiritismo cristianizante encontrarão a plenitude da alegria interior e estarão indenes aos cometimentos comezinhos e ridicularizantes que entorpecem a lucidez e que aniquilam os ideais da verdadeira vida.

 

Vianna de Carvalho

 


Vianna de Carvalho
Divaldo Pereira Franco


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