O orgulho tece o manto de auto-adoração e dorme sob o escuro teto da desesperação íntima.

O egoísta abandona a coletividade para, ensimesmado, refugiar-se na furna sombria da própria pequenez.

O invejoso-maledicente distende espinhos pela senda por onde caminha, descobrindo, ao retorno, amarguras e azedumes, sob chuva de granizo e revides, acolhendo-se inquieto na gruta estreita da flagelação.

O colérico reúne inconscientemente na alma as energias envenenadas nas disputas do ódio, acordando desesperado em reduto de sombras ameaçadoras.

O homicida coloca sobre os ombros a cela pesada do remorso e suporta as paredes do crime, permanecendo escravo do local fratricida ao jugo de cogitações infelizes da mente atormentada.

O hipócrita, por aplicar reiteradamente máscaras à face, percorrendo iludido os caminhos da insensatez, mancomuna-se com os fantasmas da criaçfio mental, habitando, posteriormente, os antros da loucura.

Na mesma razão, a generosidade, ao difundir sorrisos e ternura, recolhe bênçãos à porta do pomar da esperança.

A compaixão que socorre, piedosa, ergue pilares de alegria para o templo da felicidade íntima.

A caridade, que distende entendimento e acolhe a dor perseguida, coleta valores imperecíveis que se constituem bases de venturoso lar para o amanhã.

O amor que derrama capitoso vinho na sede do mundo inteiro constrói o abrigo seguro e ditoso onde reina a vida triunfante.

Quando a palavra sábia do Nosso Divino Mestre nos ensinou que na "Casa do Pai há muitas moradas", não aludiu apenas àquelas espalhadas pelo Infinito, no turbilhão dos Mundos além da órbita do nosso perímetro solar. Referiu-se, também, às moradas que edificamos para a vida além-da-morte, com o material que a nossa conduta encaminha na direção do futuro espiritual.

Todos os atos do homem no planeta terrestre se transformam em recursos utilizáveis na edificação do lar, que, a cada um, acolherá, após o dia da grande viagem de retorno à Espiritualidade.

Faz-se indispensável àquele que despertou para a vida cristã a seleção esmerada de peças e materiais para a construção do pouso celeste, tanto quanto escolhe quando se trata do erguimento do ninho terrestre.

Recordemos ainda, nesse sentido, a afirmação do Sublime Governador do Mundo: — "Onde colocardes o tesouro aí estará o vosso coração", esclarecendo categórico, desse modo, que, da maneira como se viva no corpo físico se desperta no Mundo Espiritual, porquanto, onde se encontra o centro de interesse a ele, se encontra ligado o espírito.

Osias Gonçalves

O Livro dos Médiuns"

" Allan Kardec, itens 237 e 244. Nota do Autor espiritual.