Sementeira da Fraternidade

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CAPÍTULO 31

EM NOME DA JUSTIÇA

Parte 1
Ao ensejo do transcurso do primeiro Centenário de lançamento, em Paris, do livro "O Céu e o Inferno", de Allan Kardec, recordamos o valioso esforço de homens e mulheres valorosos que entrelaçados com abnegados trabalhadores da Esfera Espiritual se movimentaram incessantemente, os primeiros buscando travar contato com os desencarnados e os segundos interessados em atestar a Imortalidade vitoriosa em testemunhos concludentes e insofismáveis.

 

Desde as experiências físicas realizadas por Durand de Gross, em 1860, que concebeu o neologismo "ideoplastia", mais tarde perfilhado por Ochorowicz e Richet, para explicar os fenômenos de materialização, ao dr. Rhine, na atualidade, passando pelas inesquecíveis pesquisas de Crookes, Aksakof, Zõllner, Lombroso, Bozzano, para somente recordarmos uns poucos, o princípio espiritual recebeu variadas denominações oferecendo, sob diferentes aspectos, comprovações insuspeitas quanto à continuidade da vida além-da-morte...

 

Das meninas Fox aos sensitivos da atualidade, sem olvidar as admiráveis meninas Baudin, Japhet, Carlote, Duffaux, eminentes médiuns, tais como d’Esperance, Paladino, Dunglas Home, a informação espiritual alcançou os ouvidos humanos, convidando mentes e corações a valiosos estudos ante a Filosofia nova, que explica inumeráveis questões até então sem resposta, capaz de atender aos imperativos do intelecto e às exigências do coração...

 

Desfilaram nos experimentos de um século sábios distintos e pesquisadores abnegados, repontando, igualmente, em todas as épocas, acirrados adversários das ideias novas que mergulharam o bisturi da indagação no organismo ciclópico da mediunidade, transformando médiuns e "sujeis" em objeto de análise fria e vigorosa, caldeando informações e resultados para apresentarem relatórios notáveis que ainda hoje constituem páginas vivas de dignificação dos seus esforços...

 

Até então — antes das pesquisas em torno da mediunidade e da Imortalidade —, Doutrina alguma contribuira com tão grande número de cobaias espontâneas para que os fatos falassem mais alto do que as manifestações teorizadas. Em todas as especulações o fenômeno precedeu à teoria, sendo que, a explicação deles, hão poucas vezes, surgiu dos próprios fatos.

 

Com esses fatos uma Era Nova repontou para o espírito humano.

 

* * *

 

Foi Allan Kardec, no entanto, quem mais aprofundou a pesquisa, dela retirando as joias raras e valiosas que constituem a Doutrina Espírita. Foi ele, o Édipo do Pensamento, que equacionou os velhos enigmas teológicos, elucidando dúvidas, esclarecendo leis, realizando viagens gigantes pelo país da alma no Continente da Vida Imperecível...

 

Com Allan Kardec a Humanidade pode contemplar a face do Espírito com os olhos luminosos — da lógica incorruptível e da razão vigorosa, considerando o descrédito generalizado.

 

Num século avassalado por homens tais como Hegel, Marx, Comte, Nietzsche, Schopenhauer, campeões do materialismo, do individualismo, do coletivismo e do pessimismo, nas suas multifaces, o pensamento kardequiano, examinado cem anos depois, permanece sem jaça, tão atual ante as novas conquistas do conhecimento como o era aos dias das suas publicações admiráveis.

 

No entanto, não é somente no aspecto filosófico que se destaca o Codificador do Espiritismo, mas, principalmente, no caráter moral da revelação que agora representa o barco de segurança para conduzir o homem hodierno nas águas turvas dos desequilíbrios de toda ordem, que o ameaçam...

 

Com o Espiritismo as dimensões do amor de Deus se fazem infinitas, ensejando compreensão e respeito às Leis de Harmonia por Ele estabelecidas.

 

Com as comunicações espíritas — graças à Obra monumental e incomparável do vate lionês — rasgaram-se os véus da ignorância a respeito da vida após a sepultura.

 

O conceito da justiça divina se dilatou, apresentando essa justiça acessível e clara.

 

Não apenas a lei fria e severa, mas também a misericórdia de acréscimo em oportunidades incessantes.

 

Não só o esquecimento do erro, após o traspasse, graças às exéquias ou referendas "post-mortem". Mas justiça nobre que registra ofensas — mesmo as aparentemente mesquinhas — e anota realizações nobres — embora seja de contextura insignificante — que reaparecem nos paineis da consciência, insculpidas com vigor, manifestando-se inapeláveis, coroando os justos com laureis luminosos e convocando ao retorno à carne, nas sombras do mundo, os infratores e rebeldes, para que, através das cadeias das reencarnações sucessivas, considerando-se que elas todas se completam harmoniosamente, possam reparar os danos e as negligências no culto do dever esquecido, avançando para a paz e a felicidade que a todos alcançará.

 

Nem o tonel das Denaides, nem os rochedos de Sísifo, nem o Estige a atravessar na barca de Caronte, nem o Inferno eterno, nem o céu da "aposentadoria compulsória" das velhas informações religiosas, porém reparação do mal pelo bem, reconstrução do que foi demolido, reposição do que se ludibriou à Lei do Trabalho, lei que estua em toda parte no Universo.

 

Certamente que há regiões celestiais, como as há infernais, estas temporárias, para aqueles que sintonizam com o bem ou são a ele indiferentes conj o agravante de desrespeitá-lo através das ações malévolas ou negativas...

 

Em todo ensino, o Espiritismo apresenta a valiosa contribuição da esperança, favorecendo o espírito com a oportunidade de resgatar, reemboscando no corpo para recomeçar as experiências interrompidas ou malogradas.

 

Àqueles que se emaranharam em graves delitos, possívelmente se demorarão, depois da morte, em regiões de dor onde a consciência gritando de remorso ultriz ou espicaçada por arrependimento desesperador expunge, em angústia dolorosa e inadiável, os débitos clamorosos...

 

Todavia, aos mais reveis a Justiça Divina oferece ocasião para recomeçar, apaziguando as lembranças no grande nevoeiro do corpo. Certamente que, carregando sobre a alma as chagas que abriram nos recessos do perispírito, por inobservância da ordem, caminham, no entanto, para a felicidade que os acena um passo à frente...

 

* * *

 

O primeiro século de Espiritismo, da revelação espírita, se tem caracterizado pela investigação e pela aplicação moral da fé espiritista em obras de assistência social e socorrista.

 

Com o novo período que se inicia, o impositivo do estudo e da educação convida o aprendiz à vivência evangélica e moral, numa vida correta e esclarecida, a fim de triunfar sobre as próprias imperfeições, para seguir com desembaraço e paz pelos caminhos infinitos da Erraticidade.

 

Saudamos, pois, em "O Céu e o Inferno", a lógica e sabedoria da Justiça Divina, recordando em Allan Kardec o abençoado instrumento da manifestação do pensamento de Jesus para a regeneração da Humanidade.

 

Vianna de Carvalho

 


Vianna de Carvalho
Divaldo Pereira Franco


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