Sementeira da Fraternidade

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CAPÍTULO 36

VÍCIOS

Parte 1
Nem sempre os vícios procedem dos enganos e leviandades do espírito, com origem nas vidas pregressas. Muitos deles são adquiridos e incorporados ao mecánismo das atividades hodiernas, pelo de

&vio das normas de disciplina e continência a que se deve impor o homem, antes que se permita arrastar levianamente pelas sendas do erro e da dissolução.

 

Todo hábito infeliz que se arraiga transforma-se em condicionamento nefário a constranger em forma de vício perturbador. Aqui, impõe necessidades falsas, adiante estatui exigências perfeitamente dispensáveis, mais além exige submissão irrefreável. E, à medida em que o cerco das constrições se vai fechando, menos possibilidades de libertação aparecem, enrodilhando aquele que lhe cede à pressão das malhas, em cruel dependência. Aumentando o impositivo escravizante, fixam-se nos tecidos sutis do perispírito ôs miasmas destrutivos, que passam a realizar maléfica atuação: desgaste de forças, com a consequente desencarnação antecipada — em lamentável suicídio indireto —, como transferência para empreendimentos dolorosos nas jornadas futuras, em que o ser se verá constrangido a sofrer-lhe as decorrências desagradáveis, envidando, em situação nem sempre cômoda, esforços titânicos para libertar-se da vigorosa tendência à repetição de tais hábitos malsãos. Neste último caso, quando o espírito não se dispõe a hercúleo esforço liberativo, padece maior aflição, voltando, não raro, a reincidir nas mesmas malversações da energia orgânica, até que a expiação dolorosa cobre o resgate imperioso quão inadiável em limitações severas, mas necessárias.

 

Qualquer vício é algema que retém o homem na retaguarda e o domina, dilacerando nele as expressivas dádivas da reencarnação.

 

Mesmo os considerados " hábitos ou vícios sociais", que parecem irreverente distinção à leviandade, se transformam em crueis verdugos da paz e da elevação do ser.

 

Empreendida a tarefa racional, após os múltiplos milênios transitando nas formas mais primitivas, o espírito se encontra mui condicionado às expressões grosseiras da matéria e atado aos implementos da jornada lenta de ascensão. Nesse particular, a educação, no seu sentido genérico, é abençoado instrumento a serviço da superação das mazelas. Gerando atitudes salutares, mediante exercícios de correta aplicação, elabora hábitos disciplinantes, e, simultaneamente, liberativos.

 

Os homens se edificam através das atitudes e realizações que se transformam em hábitos. Ninguém, portanto, está proscrito deles ou os pode proscrever. Quem não os tem corretos, tem-nos viciosos. Gerando prepotente, dominadora presença, constituem uma outra "natureza" que se incorpora à personalidade e submete a individualidade, dando origem a outras expressões de comportamento.

 

Relevante, desse modo, a tarefa da educação com o formoso cabedal da instrução, que ensejam discernimento e oferecem metodologia para as superiores aquisições, aquelas que são imperecíveis e acompanham o espírito, nele imprimindo seu valor, facultando diretrizes de harmonia.

 

Ora, sendo o Espiritismo Doutrina de Educação por excelência, por abranger no seu corpo ético e filosófico todas as disciplinas que dizem respeito à cultura, dispõe, igualmente, dos postulados cristãos, atualizados, e perfeitamente compatíveis com as necessidades maiores do espírito em crescimento, face às conquistas valiosas do conhecimento moderno.

 

Porque o espírito é o ser indestrutível, para ele devemos todos voltar as vistas, envidando os mais expressivos investimentos, de modo a dispô-lo para as legítimas finalidades a que está destinado.

 

Enquanto nos não capacitarmos de que a vida física é trânsito breve na empresa imortal, estaremos a debater-nos nas águas torvas das paixões, fugindo de uns para outros equívocos perniciosos. Não situando as realidades existenciais no corpo somático, converteremos as experiências adquiridas em cada etapa em patrimônio precioso a seguir-nos, norteando os nossos passos na direção de outras cogitações mais importantes, porque inalienáveis, aprendendo a fixar em feliz aprendizagem condicionamentos elevados de amor, renúncia, ação edificante, do que redundará a felicidade pessoal em simultaneidade com as conquistas de harmonia geral, na comunidade onde estejamos situados por impositivos da própria evolução.


Reminiscências de vidas anteriores surgem e ressurgem como vícios molestos, que de cedo brotam na personalidade nova, constrangendo o ser a sofrimentos e duras penas, como vigorosa lapidação. Vezes outras, e mais normalmente, fugindo às realidades do princípio evolutivo, o homem impõe-se "fugas espetaculares’*, mergulhando nas dissipações de toda ordem, que o enfraquecem

*paulatinamente até a sua total destruição.

 

No primeiro caso, a dominação é de dentro para fora a golpes da avassaladora soberania que envilece. No segundo, é de fora para dentro quais vapores anestesiantes que intoxicam até as entranhas. Numa forma, as possibilidades de sobrevivência nobre se diluem por falta dos valores intrínsecos, hábeis, para a superação das torpezas antigas, e noutra, as vergastadas incessantes do desejo coercitivo de gozar pela loucura do prazer ou do tédio amolentam os órgãos na asfixia do esquecimento, nos sonhos da ilusão, transformando-se em autocídio, seguro, em cuja teia o infeliz se verá prisioneiro demoradamente, mesmo após a disjunção dos tecidos, após o túmulo.

 

Concedido o corpo ao espírito para experiências por meio das quais ascende na direção do próprio aperfeiçoamento, este deve ser preservado, não obstante a sua natural transitoriedade. Mesmo que não existisse a vida física, esse fato não importaria na inexistência da vida em si mesma.

 

O homem responde, portanto, inapelavelmente pelo uso que imprima à organização fisiológica, sofrendo as consequências de todo abuso porque se deixe arrastar.

 

Pensamentos vãos, palavras torpes, atos vulgares são matrizes de vícios graves, — vícios que são em si mesmos —, que se arraigam no corpo e no espírito, propiciando nefando comércio de aflições e •frustrações sucessivas com as quais se vêem a braços as pessoas que os vitalizam.

 

Disciplinar a vontade, através de severos exercícios de austero comportamento; evitar o cultivo dos pensamentos frívolos, mediante leituras sadias, criando condições próprias para as meditações elevadas ; cerrar os lábios à mordacidade e às conversações malévolas quanto aviltantes; respeitar-se a si mesmo, iniciando o culto do respeito ao próximo, são medidas que podem, praticadas, impedir a sintonia com as faixas psíquicas da delinquência déste ou daquele teor, responsáveis pela instalação dos vícios, da corrupção dos sentidos, da degeneração das ideias com a decorrente e imediata destruição da oportunidade que desfruta.

 

O apóstolo Paulo, escrevendo aos Efésios com a austeridade que lhe era peculiar, já destacava a necessidade imperiosa de que, para a segurança pessoal, cada um deve despojar-se do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano, e revestir-se do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade. (Efésios 4:22)

 

Vianna de Carvalho

 


Vianna de Carvalho
Divaldo Pereira Franco


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Efésios 4:22

Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano;

ef 4:22
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