Sementeira da Fraternidade

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CAPÍTULO 50

ANTE O LUZEIRO DA VERDADE

Parte 1
Embora o determinismo histórico nos apresente em todos os tempos os despojos das cidades do passado transformados em montões de ruínas abandonadas, de tempos em tempos, com as farpas da ambição cravadas no íntimo, o homem sonha com o poder e alça-se em voos largos nas frágeis asas da prepotência, tentando converter o mundo em província dominada por sua desvairada ambição.

 

Os clássicos exemplos de Esparta, Tebas, Macedônia, Grécia não lhe bastam...


Ainda agora, sem que estejam cicatrizadas as feridas sociais e morais decorrentes da última hecatombe, que dizimou quase a metade

"do Continente Europeu, novo surto de paixões desenfreadas ameaça a Civilização, em nome de imensuráveis ambições...

 

Como decorrência natural desse desequilíbrio, de quando em quando, repontam espíritos aturdidos, que desejam semear espinhos de aflição entre as vergônteas da esperança, que brotam dos labores abençoados, colocados para a edificação da Era Nova do Espírito.

 

Referimo-nos à pena de morte, o lastimável recurso que procura extirpara doença ceifando a vida do doente, erradicar o crime destruindo o criminoso, como se o próprio homem, criminoso ou não, estivesse indene à morte inevitável pelo processo de desgaste biológico a que está condenado.

 

Enquanto escasseiam escolas, hospitais, abrigos e lares pensa-se, levianamente, em punir o que somente merece socorro e auxílio, porque é mais fácil aniquilar o enfermo do que tratá-lo, destruir a obra do que ampará-la, dizimar a vida do que mantê-la...

 

* * *


Como prevendo as inquietudes da hora presente, entre as questões propostas aos Espíritos da Luz, à época da Codificação, Allan Kardec, através da indagação n° 764 e constante de **0 Livro dos Espíritos", perguntou: "Disse Jesus: Quem matou com a espada, pela espada perecerá. Estas palavras não consagram a pena de talião e, assim, a morte dada ao assassino não constitui

*uma aplicação dessa pena?" a que os Espíritos responderam: "Tomai cuidado! Muito vos tendes enganado a respeito dessas palavras como acerca de outras. A pena de talião é a justiça de Deus. É Deus quem a aplica. Todos vós sofreis essa pena a cada instante, pois que sois punidos naquilo em que haveis pecado, nesta existência ou em outra. Aquele que foi causa do sofrimento para seus semelhantes virá a achar-se numa condição em que sofrerá o que tenha feito sofrer. Este o sentido das palavras de Jesus. Mas, não vos disse Ele também: Perdoai aos vossos inimigos? E não vos ensinou a pedir a Deus que vos perdoe as ofensas como houverdes vós mesmos perdoado, isto é, na mesma proporção em que houverdes perdoado, compreendei-o bem?" (7).

 

Matar, portanto, em qualquer circunstância, é crime.

 

Sendo o Espiritismo uma Doutrina educativa e particularmente cristã, proclama o perdão como a mais bela manifestação do amor, sintetizando na caridade as ambições maL altas do espírito humano.

 

Não preconiza, porém, um perdão que se faça amparo ao crime, nem uma caridade que se converta em estímulo ao ócio, mas que facultem ao devedor as oportunidades de resgate e liberação de dívidas.

 

Para os ateus, o criminoso é somente um tarado.

 

Assim considerado, nele descobrimos não somente um infrator das leis como uma vítima da irresponsabilidade dos ancestrais que lhe legaram as marcas odientas do desaviso, hoje transformadas em criminalidade.

 

Examinado, porém, através do Espiritismo, o delituoso é considerado um espírito falido cuja recuperação lhe custará jornadas redentoras em reencarnações expiatórias, a funcionarem como cinzel abençoado na intimidade da alma.

 

* * *

 

Nem amparo ao crime nem extinção do criminoso.

 

Esclarecimento do doente com medicação salutar à doença.

 

Afastamento da coletividade como medida acautelatória e cerceamento da liberdade como corrigenda indispensável.

 

Sem recorrer ao "assassínio tornado legal pelo Estado", a Penologia dispõe de recursos para a reeducação e readaptação dos indivíduos faltosos, na sociedade.

 

E a nós outros, cristãos de todas procedências, compete a tarefa de esclarecer e consolar, educar e socorrer, ampliando os horizontes do entendimento para facultar a todos a ascensão aos altos cimos da dignidade.

 

Nesse sentido, a bibliografia espiritista fundamentada em "O Livro dos Espíritos" — o abençoado luzeiro da verdade —. oferece tesouros de inapreciável valor, como fontes de vida eterna.

 

Por essa razão, reverenciando-lhe a data de lançamento, em Paris, em abril de 1857, exaltamos, na Doutrina Espírita, postulante da caridade essencial, o Cristo Jesus que preferiu a morte numa cruz infamante 1 vindita ou à justiça da época, construindo na Terra o reino de amor com o qual a nossa fé hoje se engrandece, através do trabalho digno, da solidariedade fraterna e da tolerância total, que são as bases do edifício da paz e da felicidade humana.

 

Lins de Vasconcellos

 

O Livro dos Espíritos — 29. Edição da FEB.

 

Nota do Autor espiritual.

 


Lins de Vasconcellos
Divaldo Pereira Franco


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