Sementeira da Fraternidade

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CAPÍTULO 58

CANÇÃO DE MÃE

Parte 1
Ouvi tua voz chamando-me, filhinho!

 

Desgarrei-me pelos rios da saudade e saí a buscar-te.

 

Emaranhei-me pelas estrelas rutilantes, na esperança de encontrar-te no seu dossel de prata.

 

Vislumbrei dois sóis e pensei que fossem os teus olhos mergulhados no Infinito, rompendo as noites sombrias dos homens.

 

Demorei-me pela Via-Látea da saudade, na ansiosa expectativa de seguir o curso do encantamento que me conduzia.

 

E por mais me tenha demorado na busca ditosa não consegui localizar-te!

 

Na minha aflição, pensei: Como pode a flauta recobrar a melodia que lhe escapou em formosa musicalidade a expandir-se pelo perfumado ar da manhã!

 

Rememorando os nossos colóquios em esferas de sonho e de ternura, evoquei a delicada canção da avena sacudida pelo ciciar do vento brando e minha imaginação voou qual modulação das notas de uma harpa tangida pelos dedos de um anjo.

 

Enquanto haja mães na meia-noite da saudade haverá sol de amor que transforma a treva em meio- -dia de luz, fazendo que as dores dos homens sejam repartidas e as alegrias da vida se façam multiplicadas nos filhos.

 

Já não escuto a canção da tua voz chamando-me.

 

Agora, quando retorno à Região donde venho, encontro um homem que passa curvado, com densa escuridão nos passos e tormento em febre nas lembranças.

 

— Onde estás, mamãe! ? — escuto-o dizer. — Tenho sofrido tanto!

 

Fito-lhe os olhos tristes como duas tochas que se extinguem por falta de combustível e no seu rosto pálido, desenhado de tristeza, reencontro-te, meu filho querido.

 

Perdoa-me pela orfandade em que te deixei!


Eu bem compreendo os charcos de amargura por onde tens seguido e sei do frio que a noite demorada tem vertido sòbre ti. Como te amo, tanto quanto à própria vida, distendo os braços da minha carícia e enfloro-me de alegrias para transmitir-te o alento de que necessitas, a fim de embalar-te na áspera jornada por onde transitas e dizer-te, renovando a tua confiança:

— Aqui estou, filhinho! Alegra-te e repousa.

 

Rabindranath Tagore

 


Rabindranath Tagore
Divaldo Pereira Franco


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