Sementeira da Fraternidade

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CAPÍTULO 7

EXORTAÇÃO

Parte 1
Médium, meu irmão!

 

Eu lhe bendigo a luta anônima no imenso campo da humanidade.

 

Enxugue as lágrimas das suas dores e erga-se resoluto para o trabalho sem termo. Pouco importa que a dificuldade semeie cardos e que a incompreensão povoe as suas noites de agonia. Importa, acima de tudo, que você se encontre robustecido pela fé, para marchar nos caminhos entulhados de abrolhos e atravessar as horas povoadas de aflição.

 

A senda que você escolheu é aquela de dificuldade de que fala o Evangelho: a do "caminho estreito", da "porta apertada". Quantas mil renúncias ser- -lhe-ão pedidas, quantas mil dores ser-lhe-ão exigidas!...

 

Você se encontra, por enquanto, na situação do servidor que não tem outra diretriz senão a de dar incessantemente, com alegria, anonimamente.

 

Às vezes, quando o céu se povoa de estrelas e a terra se enche de perfume suave do jardim, os homens repousam. Num leito incômodo você vela: seus olhos se consomem, umedecidos ininterruptamente pelas lágrimas abundantes que parecem arrancadas de um minadouro sem fim. E, no quase silêncio dos seus soluços, a sua voz fala tão alto que os próprios céus se comovem e mandam que. a lua também chore sobre seu teto, lágrimas de prata, que possam niná- -lo, falando-lhe de um porvir não muito longe que o acena esperançoso. Mas, tão logo o dia abra seu leque de luz, é necessário que seu rosto esteja brilhante, ágeis os seus pés, diligentes as suas mãos, porque já a dor que chicoteia o mundo lhe bate, às portas, suplicando o amparo sublime por intermédio das suas próprias dores.

 

Não se canse de doar!

 

Não se recuse a servir!

 

A ingratidão virar-lhe-á os olhos, o descrédito oferecer-lhe-á as costas, a zombaria cobri-lo-á de horror, mesmo nestes dias, mas é necessário prosseguir. O mundo inteiro estará sorrindo, eu bem o sei, e você, solitário, estará chorando, mas não desanime! Os servidores sempre estão a chorar, enquanto os servidos gozam. O Mestre até hoje chora, enquanto a Humanidade desperdiça a doação divina.

 

Prossiga, médium, meu irmão!

 

Multiplique todas as renúncias, sofra o aumento das dificuldades, continue renunciando a todos os gozos, porque, quanto maiores forem as suas lutas, quanto mais constantes se manifestarem suas dores, mais facilmente você se libertará do grande fardo das recuperações. E quando tudo lhe parecer cruel, ainda aí não se entregue ao desânimo. Lembre-se da semente de trigo: essa pequenina e gloriosa médium do pão. Para que o estômago do homem se farte, o grão se guarda na casca, silencioso e esquecido na terra, quantos dias, meses e até anos, lutando para não morrer, tentando sobreviver, para doar a vida que sorri acima das camadas que o esmagam?!... Mas só depois que a semente morre é que o embrião surge, a terra se cobre de novos grãos que vão alimentar a todos.

 

Aquiete-se no silêncio fértil do jardim onde você tem de laborar e trabalhe sem termo até que você morra, porque após a sua desencarnação, farto, atenderá, ainda, àqueles que permanecem com necessidade do pão eterno...

 

E se têm lágrimas os seus olhos, não se envergonhe de derramá-las; se sofre o seu imo, não se inquiete porque a dor se agasalhou nele; também ela, foragida e escorraçada, necessita de alguém. Ame-a com desvelo e ternura, ame-a com a constância generosa e com o carinho de que se faz credora, para que também ela o ame, cobrindo-o com a grinalda das alegrias futuras.

 

... E siga, médium, meu irmão!

 

Que o não seduzam as alegrias da Terra, os favores do mundo, as dádivas dos homens! Que lhe não cubram o corpo as vestes pomposas do orgulho dos incautos, nem brilhem na sua cabeça as vãs claridades da vaidade mentirosa! Mas que o desdém e o desprezo com que muitos o tratam, desprezando-o ou abandonando-o, possam fazê-lo médium de Jesus, por Jesus, levando-o a Jesus, que hã milênios nos aguarda nesta longa viagem de volta.

 

Manoel Philomeno de Miranda

 


Manoel Philomeno de Miranda
Divaldo Pereira Franco


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