Sementeira da Fraternidade

Versão para cópia
CAPÍTULO 8

PSIQUIATRIA E ESPIRITISMO — OBSESSÃO

Parte 1
Não desejando referir-nos aos nobres magnetizadores do passado, que abriram as portas da mente encarnada aos estudos psicológicos, através de métodos especiais; não pretendendo evocar os eminentes fisiologistas que tentaram adentrar-se pelos labirintos orgânicos com o objetivo de elucidar os distúrbios físjcos e mentais em suas múltiplas alienações, na insistente perseguição à sede do espírito, no cérebro, reconhecemos nos discípulos de Mesmer, Bernheim, Liébault e Braid incontestáveis pioneiros das admiráveis incursões no campo da percepção extra-sensorial, de cujas realizações culminaram apreciáveis benefícios e expressivas conquistas, que devidamente utilizadas libertaram larga faixa de pacientes pérturbados por múltiplos distúrbios nervosos e psíquicos.

 

O campo a joeirar, todavia, é amplo e eivado de escolhos.

 

A princípio lutavam aguerridamente as Escolas fisiológica e psicológica tentando cada uma o predomínio no campo dos estudos e das conclusões, com a consequente dogmatização das teorias em que se estribavam reciprocamente.

 

No auge dos acirrados debates, Brown-Séquard apresentou os resultados das suas memoráveis experiências, inclusive aquelas realizadas nele próprio e a Endocrinologia se propôs abrir horizontes novos para a elucidação dos magnos problemas da vida.

 

Hughlings Jackson, prosseguindo arduamente com os preciosos estudos de Darwin, após incessantes investigações sobre as lesões cerebrais e os defeitos associativos da linguagem, enveredou pelo campo neurológico, alargando sensivelmente a linha dos debates com opimos resultados para beneficiar os padecentes humanos.

 

Antes deles, porém, Broca, pesquisando, inabordavelmente, os inúmeros cérebros de que podia dispor no Hospital de Bicêtre, proporcionara à Antropologia e à Craneologia vasto patrimônio, que contribuiu expressivamente para a elucidação de um sem número de problemas que se demoravam emparedados na velha conceituação anatomista do passado, sem qualquer avanço digno de exame.

 

As suas contínuas buscas, cujos resultados eram publicados através de monografias valiosas, chamaram a atenção de fisiologistas eminentes, dentre os quais se destacou Charcot, que, através da hipnologia, no período clássico da. histeria, facultou a outros eméritos mestres do conhecimento médico adentrar- -se pelo terreno difícil da problemática mental...

 

Simultaneamente o fascínio da busca da sede do espírito no cérebro continuou intensa, pois dessa descoberta, conforme supunham os estudiosos, decorreria a elucidação das enfermidades anatematizantes da alienação mental.

 

Kraepelin, denominado mais tarde o pai da Psiquiatria, seguindo rigorosamente a linha de Guilherme Griesinger, que a seu turno pertencia ao grupo teorizante da Escola Fisiológica, estabeleceu como princípio fundamental que todos os distúrbios mentais devem ser classificados, a fim de cuidados especificamente, sendo que, para tal tratamento, devem ser buscadas as nascentes das enfermidades no distúrbio dos diversos órgãos.

 

A Kraepelin coube a gigantesca tarefa de lançar as bases da Psiquiatria, fundamentando-se na premissa de que não há doenças mentais, mas apenas doenças, que, conquanto algumas funcionem na esfera psicológica, têm, porém, sua essência nos distúrbios fisiológicos ou orgânicos. Para ele, todo e qualquer processo mental possui uma resposta fisiológica, não se podendo, desse modo, conceituar separadamente a mente e o espírito. Cuidou de classificar em fichas todos os possíveis desequilíbrios mentais desde as mais leves neuroses até às paresias, libertando a Psiquiatria da Neurologia e dando-lhe um campo de pesquisas independentes.

 

A vitória parecia demorar-se, então, no campo fisiológico, já que se afirmava que "a mente não pode adoecer. " Anteriormente, Pinei, no mesmo Hospício de Bicêtre, no ano de 1793, conseguira dar um gigantesco passo, libertando 53 pacientes de celas hediondas, a fim de dar-lhes tratamento regular, como também o fizeram Chiaruggi, na 1tália, e Tucke, na 1nglaterra, tentando provar quetais enfermos eram carecentes de entendimento e amizade, por meio dos quais, possívelmente, conseguiriam recuperar o equilíbrio.

 

Os debates e as conquistas das duas correntes prosseguiram acirrados. A cada passo novas descobertas transferiam a vitória de um para outro campo de ação.


Foi, no entanto, a cooperação recíproca entre Breuer é Freud que ensejou o largo campo da Psicanálise, na qual o insigne mestre vienense conseguiu o expressivo resultado de melhores dados e

* conclusões favoráveis, ante as psicoses e neuroses que jaziam aparentemente sem espetanças, no fundo do poço da indiferença acadêmica, já conformada com a impossibilidade de recuperar os esquizofrênicos, tidos, então, como "incuráveis".

 

Fundamentando as nascentes da quase totalidade das enfermidades no sexo, que dava origem entre outros aos múltiplos complexos de Édipo e Eletra, Freud revolucionou o conhecimento especializado e resistiu no seu bastião, intrepidamente, revestido de superior coragem e invulgar intransigência, pecando, aliás, por excesso dessa mesma intransigência.

 

Libertando-se das experiências hipnológicas, desenvolvidas por Charcot, que na sua opinião. impunham constrangimento ao paciente e condicionamentos mui complexos, Freud buscou conduzir os sujeitos aos monólogos, com o fim de descobrir os traumas inconscientes, nos quais pretendeu encontrar as causas das múltiplas psicopatias, tentando, assim, novos processos terapêuticos.

 

Afirmando enfaticamente que "no fundo de cada neurose há um conflito sexual", facultou a Alfredo Adler dele discordar, e, consequentemente, após este propor o conceito da indómita vontade de predomínio decorrente dos instintos agressivos que existem em cada homem, apresentar a sua Psicologia Individual...

 

Logo depois, Jung se divorciou igualmente do "totalitarismo do sexo" e se resolveu pela Psicologia Analítica, na qual apresentou o elemento de fundo religioso, cujo sentimento lhe impregnava a alma, desde o lar paterno, considerando que o seu genitor fora ministro religioso.

 

Adler desmoronou o castelo do sexo, de Freud, enquanto Jung aplicou o Darwinismo ao estudo da mente, levantando a teoria dos "arquétipos" e estruturando o conceito da "psicologia da hereditariedade", remontando, às vezes, à vida tribal para explicar os tormentos do homem civilizado, em última consequência herdeiro das gerações passadas...

 

No que concernia à liberação dos esquizofrênicos, no entanto, poucos foram os avanços. Da "cova das serpentes" e das "duchas" às conquistas de então, poucos resultados foram colhidos.

 

A observação, porém, ajudou consideravelmente aos interessados na cura do terrível flagelo.

 

Em alguns casos constatou-se que o medo, a sufocação, a comoção cerebral haviam contribuído para a recuperação de diversos pacientes, que foram vítimas circunstânciais de tais aflições.

 

Nesse ínterim, o dr. Meduna, em Budapeste, estudando os cérebros de epilépticos e de esquizofrênicos, em contínuas necropsias, constatou surpreentes diferenças, que lhe chamaram a atenção, ajudando-o a concluir quanto a uma profunda incompatibilidade existente entre as duas enfermidades. Isto o levou ao conceito de que o portador de uma dessas doenças jamais apresentava manifestações da outra. Constatou, posteriormente, que as convulsões epilépticas impediam a atuação esquizofrênica, o que lhe ensejou amplas perspectivas para a elaboração de método coercitivo em torno dessa última.

 

Por outro lado, o dr. Sakel demonstrou que o coma e a convulsão impediam a manifestação esquizofrênica, optando pela possibilidade de conduzir os pacientes a esse estado por processo artificial, lobrigando, assim, valiosos resultados.

 

Teve início, então, o período das convulsões graças ao uso do metrazol, da insulina, e os efeitos foram surpreendentes. Havia, porém, perigos incalculáveis em tais terapêuticas, em face da impossibilidade de poder controlar-se as imprevisíveis consequências.

 

Nesse comenos, os drs. Cerletti e Kalinowski empenharam-se na tentativa de construir uma máquina elétrica capaz de aplicar choques controlados, sem os danos causados pelos métodos outros, choques esses que pudessem sacudir o cérebro sem perturbar a atividade do coração, conforme meditara o dr. Bini, ao examinar a possibilidade de alcançar-se tal êxito.

 

O eletrochoque ofereceu expressivos serviços à terapêutica para as alienações mentais, especialmente no capítulo da esquizofrenia, ensejando outras descobertas que culminaram com a hibernação e o uso dos barbitúricos de ação eficaz.

 

Colhidos os primeiros frutos, continuou; todavia, demora-se imensa e triste a gleba a desbravar...

 

Psicóticos, neuróticos, esquizoides, distônicos de diversas ordens jazem sem esperança e, entre eles, surgem os casos dos psicogênicos chamando a atenção dos estudiosos.

 

As psicoterapias multiplicam-se, culminando, abençoadas, na "catarse verbal", recreações, passeios, descontrações, atendendo ampla quota dos padecentes humanos.

 

Cada paciente, não obstante, representa um capítulo especial, digno de estudo.

 

Os problemas apresentam-se quase sempre em quadros idênticos, mas, ante as mesmas terapêuticas aplicadas, conseguem-se efeitos mui diversos.

 

Classificados os enfermos e tratados no mesmo rigor chegam-se a valores diferentes.

 

Num estudo profundo, James divide os homens em espíritos fortes e espíritos fracos; Kretschmer classifica-os como cicloides e esquizoides; Jung. em extrovertidos e introvertidos; os endocrinologistas vêem as personalidades como consequências naturais do metabolismo das suas glândulas...

 

Assim, as psicoses e neuroses experimentam diversas sub-classificações.

 

Não estão muito longe, porém, os dias dos métodos bárbaros junto aos alienados, embora as luzes que clarificam os modernos postulados científicos.

 

Ainda agora, apesar das largas conquistas alcançadas, sofrem eles indiferença e desprezo, não raro maus tratos de toda ordem.

 

Sucede que, sem desconsiderarmos o hercúleo esforço dos nobres cientistas, as pesquisas permanecem sempre circunscritas à vida material, ao estudo das manifestações para erradicação das causas e não ao empenho de examiná-las nas suas profundezas e realidades.

 

Abstendo-nos do debate em torno das afecções fisiológicas como das psicológicas — todas elas enquadradas nos mapas das necessidades evolutivas de cada espírito, através do impositivo da reencarnação — não nos podemos olvidar das alternâncias do amor e do ódio que vinculam os homens uns aos outros, de cujas vibrações resultam as interferências positivas ou negativas na psicosfera humana, favorecendo constrições violentas, obsessões lamentáveis e mui dolorosas...

 

O homem reencarnado é um abençoado ensaio da vida.

 

O homem são as suas realizações.

 

Á vida física é ligeira jornada na imperecível marcha da evolução, mediante os acessos de entrada e saída do corpo, pelo berço e pelo túmulo.

 

Por isso mesmo, no encadeamento das vidas sucessivas, o espírito herda das experiências pretéritas as conquistas e os prejuízos morais que ressurgem consciente ou inconscientemente nos recônditos de si mesmo. Disso resulta que as aquisições negativas, que foram fatores do insucesso, reaparecem em condicionamentos psíquicos deprimentes, em complexas manifestações de narcisismo, de evasão da realidade, de catarse, de esquizofrenia, nas suas apresentações variadas, ou repontam em expressões de instintos agressivos, inibições, repressões, conflitos, em que o próprio espírito sofre as perturbações que lhe são atinentes, transmitindo dos centros sensíveis do psicossoma à matéria as distonias e as alienações de variada espécie, que traz do pretérito espiritual.

 

Não padecem, pois, dúvidas, quanto as enfermidades mentais procederem, em grande parte, do espírito encarnado, perturbado como é, em si mesmo.

 

Em tais casos as técnicas psicanalistas logram atingir os fulcros próximos das alienações, facultando a liberação da consciência sob os estímulos da esperança, do trabalho e do amor.

 

Outras vezes, os traumas decorrem de fundas marcas do passado próximo, removíveis com relativa facilidade, dentro, todavia, dos quadros de débitos e créditos a que se encontra o espírito vinculado.

 

Por ser o sexo a fonte geratriz e o veículo da procriação, sede de emoções superiores e sensações animalizantes, nele se refletem ou dele decorrem expressões patológicas, quando são, em realidade, consequências de origem mui profunda e dificilmente abordável.

 

Graças às vinculações com o passado, entrelaçam-se as vibrações do afeto e do despeito, que engendram processos obsessivos crueis, diante dos quais somente as téchicas espiritistas de desobsessão, a par do sincero desejo de reparação por parte do endividado, conseguem demover dos propósitos nefários a que se entregam aqueles que os desgovernam e subjugam desapiedadamente, do Mundo Espiritual onde vivem...

 

Como voluteiam irresponsáveis e ociosos Espíritos desassisados em larga cópia, facilmente consorciam-se com os aflitos da Terra, especialmente com os alienados mentais, exaurindo-lhes as forças e dificultando-lhes o restabelecimento.

 

A causa inicial da distonia psíquica, apesar de proceder de outras fontes, recebe simultaneamente a contribuição obsessiva, complicando o quadro e produzindo problemas graves, com resultados irreversíveis.

 

Assim, a ampla divulgação dos postulados espíritas consegue gerar um clima de esclarecimento e de otimismo entre os homens, transformando-se em eficiente terapêutica preventiva para muitos dos males que atormentam a Humanidade, tais a loucura, a obsessão, dentre muitos outros. 0 conhecimento do Espiritismo facilita a visão dos que buscam os horizontes da vida, enquanto oferece instrumentos próprios para utilização oportuna, face à problemática da existência na Terra.

 

Quando os psiquiatras compreenderem a inadiável necessidade de aprofundarem observações e estudos em torno do espírito imortal, da sua comunicabilidade em incessante intercâmbio após a morte, das leis da reencarnação, das faculdades medianímicas do homem, e concomitantemente se adentrarem pelas investigações sobre a prece, a água fluidificada, o passe e as sessões de desobsessão, descobrirão os filões de ouro da esperança para os que jazem no desengano e encontrarão os alicerces de segurança para os próprios cometimentos, facultando às ciências psicológicas edificante contribuição mediante a qual as sessões de psicanálise profunda conseguirão arrancar diversas causas ocultas, projetando, então, luz atual nos magnos problemas mentais que provêm das sombras do passado espiritual do ser.

 

Da mesma forma que os mesmeristas de ontem experimentaram o desprezo e a acrimônia das Academias antes de ultrapassarem as portas sedutoras dos seus recintos alcatifados para imperarem, soberanos, os espiritistas de agora, conquanto o desaire de que são objeto por muitos fátuos do conhecimento acadêmico, levarão aos bastiões da cultura e da inteligência a insuperável lição de amor do Cristo, para que ao lado da Psiquiatria possam colaborar eficientemente na construção da saúde e da paz dos trânsfugas e calcetas do passado, ora ergastulados na matéria, que marcham, porém, sob a bênção da oportunidade nova na direção do futuro renovado e feliz.

 

Vianna de Carvalho

 


Vianna de Carvalho
Divaldo Pereira Franco


Acima, está sendo listado apenas o item do capítulo 8.
Para visualizar o capítulo 8 completo, clique no botão abaixo:

Ver 8 Capítulo Completo
Este texto está incorreto?