Trigo de Deus

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CAPÍTULO 19

O SENHOR DOS ESPÍRITOS

Quando o mundo conhecido situava-se praticamente às margens do Mediterrâneo, a Fenícia celebrizou-se, sobretudo, pela sua privilegiada posição geográfica, notabilizando-se, entre outras, as Colônias de Tiro e Sídon.

A primeira foi fundada, aproximadamente, no III milênio a. C, adquirindo hegemonia sobre os demais portos do país até o século XIV a.C.

Ali se encontravam as caravanas provindas de outras regiões e do deserto, tornando-se o centro de progresso do país e expandindo-o pelo Mediterrâneo.

Suas indústrias eram prósperas, e especialmente produziam tecidos, purpura, vidrarias, que eram negociados por todo o Oriente.

Cartago tornou-se-lhe a principal e fecunda Colônia, impondo-se, mais tarde, a Sídon, cerca do século IX a.C.

Lutou bravamente contra os assírios, fazendo-se respeitada nas guerras sustentadas contra Nabucodonosor e, mais tarde, Alexandre, nos séculos 6 e IV respectivamente, a.C.

Fez-se parte do reino Selêucidas, e foi submetida ao império romano, a partir de 64 a.C.

Os árabes dominaram-na, desde 638 e a sua atividade comercial ficou gravemente prejudicada, começando a perder a pujança e poderio.

Renasceu o seu prestígio com a tomada pelos cruzados, em 1124, e foi beneficiada com a assistência dos venezianos em expansão na época.

Sitiada e conquistada pelos mamelucos do Egito, voltou a entrar em decadência e passou a plano secundário na História (1291).

Hoje, é conhecida como Sur e pertencente ao Líbano.


* * *

Sídon, igualmente situada em uma ilha da Fenícia, gozou de grande importância como porto próspero no Mediterrâneo, por volta do II milênio a.C. Dominada pelos filisteus, a partir de 1200 a.C., cedeu seu lugar de relevo para Tiro, que lhe rivalizava.

Vencida pelos assírios, em 678 a.C., foi arrasada por um terremoto, em 501 a.C.

Quando a Fenícia passou à dominação árabe, estes a transformaram em porto militar.

Celebrizou-se, posteriormente, pelos achados arqueológicos, em Kafer Djara, cujas necrópoles datam do II milênio a.C.

Os túmulos de paredes pintadas, pertencentes ao período helênico, foram descobertos nos contrafortes do monte Líbano, retratando o seu período de grandeza, que deslumbra os estudiosos contemporâneos.

Os vários sarcófagos encontrados, a partir do século XIX, dão ideia da opulência dos seus mandatários, alguns dos quais se encontram no museu do Louvre, em Paris (rei Eshumunazar) bem como no museu de Istambul (Tabnitz e os chamados "de Alexandre", "das Carpideiras", do "Sátrapas", "do Licio".) Atualmente pertence ao Líbano, com o nome de Saida, não gozando de maior importância.


* * *

Mais de uma vez o Evangelho refere-se às bandas de Tiro e Sídon, que Jesus percorreu nas suas contínuas peregrinações de expansão do reino de Deus.

Por serem terras estrangeiras, os judeus as tinham como gentias, não lhes merecendo os seus filhos qualquer consideração.

O Mestre terminara, como de hábito, um dos seus sermões, e as advertências verberavam a conduta farisaica.

Admoestando os hipócritas, elucidava quanto ao comportamento honorável, diante de alguns fariseus e escribas que O vieram visitar, de Jerusalém, interrogando-O com a habilidade malfazeja que os caracterizava.

O sofisma, brandindo astúcia, ainda é arma traiçoeira. A hipocrisia, que disfarça os sentimentos vis, constitui-lhe mecanismo de expressão.

Ainda hoje eles permanecem no contexto social, afligindo e zombando dos homens nobres e dos seus ideais. Ninguém lhes escapa à mordacidade ou foge da sua gratuita perseguição.

Os homens menores não perdoam os gênios, os santos, os heróis, os grandes homens, que se lhes tornam inacessíveis.

Não os podendo alcançar, por faltar-lhes a inteireza espiritual, tentam dificultar-lhes a marcha, azucrinando-os ou desejando fazê-lo, com a inveja, o ciúme, a mesquinhez que os repletam.

Jesus sofreu-os, reiteradas vezes, imarcescível e superior.

Naquele ensejo, o Senhor encerrara as suas cavilações, repetindo Isaías: — Este povo honra-me com os lábios, mas o coração está longe de mim. E vão o culto que me prestam, ensinando doutrinas que são preceitos humanos.

Deixou-os atônitos e, chamando a multidão, saiu a ensinar.

As frases e paráfrases, ricas de luz, eram enunciadas com a melodia que facultava a sua memorização.

Os conceitos, breves e diretos, mantinham um ritmo propiciatório à fixação mental.

Sem rebuços, nem rodeios, a Sua era, e é, mensagem de vida.


Escutai e tratai de compreender — disse com perspicácia.

* Não é aquilo que entra pela boca que torna o homem impuro, mas o que lhe sai da boca.

E porque alguém lhe informasse que os fariseus haviam ficado indignados com a Sua palavra e liberdade, Ele prosseguiu: Toda planta que não haja sido cultivada por meu Pai Celeste será arrancada. Deixai-os, são cegos a conduzirem outros cegos. Ora, se um cego guiar outro cego, cairão ambos no abismo.

É o coração, o lugar de onde procedem os sentimentos do homem e que o tornam bom ou desditoso.

O alimento que percorre o aparelho digestivo não tem interferência moral.

A gula, a prevaricação, o crime, não decorrem do tipo de alimentação usada, mas sim dos valores morais do homem. São eles que tornam impura a criatura.

Lavar as mãos, atender aos deveres externos, são cuidados sociais, de higiene, de saúde, não de comportamento ou elevação espiritual.


* * *

Dali retirando-se, Ele partiu com os discípulos para os lados de Tiro e Sídon.

Vendo-o, uma mulher cananeia, que viera daquela região, começou a gritar: Tem piedade de mim, Senhor, Filho de Davi! Minha filha está cruelmente atormentada por um demônio!

Mas Ele não respondeu palavra.

Psicólogo profundo, conhecedor da alma humana em detalhes, Jesus aguardou os acontecimentos. Sabia da impaciência, conhecia a irritabilidade dos amigos. Estas logo se manifestaram.

— Despacha-a — propuseram — porque ela persegue-nos com os seus gritos.


Jesus redargu

̈iu, então, compassivo: — Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel.


A mulher, exausta, prostou-se-Lhe aos pés e suplicou:

— Socorre-me, Senhor!

Havia dores indefiníveis na rogativa.

O coração e a alma dilacerados defrontavam a esperança e a fé.

Ela sabia que Ele curaria a sua filha. Seus sentimentos maternos advinhavam-no. Esqueceu-se de si mesma, perdeu os escrúpulos, encorajou-se e enfrentou os preconceitos sórdidos.

Desejando insculpir a fogo, nas almas, a lição, Jesus pareceu indiferente e esclareceu: Não é justo que se tome o pão dos filhos para o lançar aos cachorros.

— E verdade, Senhor — retorquiu ela — mas, até os cachorros comem as migalhas que caem das mesas dos seus donos.

Um frêmito percorreu os presentes.

A declaração verdadeira comoveu, arrancou a solidariedade adormecida nos corações, impôs respeito.


Jesus, então, respondeu-lhe:

— O mulher, grande é a tua fé! Faça-se como desejas.

Uma aragem branda perpassou no ar morno e agitou os cabelos do Rabi.

A estrangeira se levantou e tinha os olhos nublados de pranto.

Reconhecimento e amor eram a melodia que lhe musicava o íntimo.

A palavra estava estrangulada na garganta túrgida.

Ela correu ao lar, e a filha, antes subjugada por Espírito cruel, recebeu-a, emocionada.

E, a partir desse instante — narra a testemunha evangélica — a filha dela achou-se curada.

O poder de Jesus é a força do Seu amor. Os Mentores Nobres obedecem-nO.

Ele deseja, e servidores abnegados atendem-nO, prestimosos.

Ele dilata a Sua vontade e altera a estrutura dos seres, as circunstâncias vigentes, os eventos.

Ele é o Senhor dos Espíritos, que se Lhe submetem de imediato.

* Mateus 8:14. (Nota da Autora espiritual)




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Mateus 8:14

E Jesus, entrando em casa de Pedro, viu a sogra deste jazendo com febre.

mt 8:14
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Mateus 15:8

Este povo honra-me com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim.

mt 15:8
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Mateus 15:14

Deixai-os: são condutores cegos: ora, se um cego guiar outro cego, ambos cairão na cova.

mt 15:14
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Mateus 15:24

E ele, respondendo, disse: Eu não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa d?Israel.

mt 15:24
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Mateus 15:28

Então respondeu Jesus, e disse-lhe: Ó mulher! grande é a tua fé: seja isso feito para contigo como tu desejas. E desde aquela hora a sua filha ficou sã.

mt 15:28
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Marcos 7:6

E ele, respondendo, disse-lhes: Bem profetizou Isaías acerca de vós, hipócritas, como está escrito: Este povo honra-me com os lábios, mas o seu coração está longe de mim.

mc 7:6
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