Trigo de Deus

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CAPÍTULO 8

NÃO O RECEBERAM (Nota)

Ao tempo de Jesus, Nazaré era uma aldeia perdida nas encostas dos montes de calcáreo, na região da Baixa Galileia. Parecia uma pérola, que esplendia entre pedras brutas, cercada de flores miúdas quase que permanentes.

Fundada, fazia mais de dois mil anos, antes de Jesus, não tinha qualquer importância, porque nenhuma estrada significativa a atravessava, exceto quando se seguia a rota algo escarpada na direção do Egito, caminho certamente percorrido por Maria, José e o Filho, quando da fuga para liberar-se do ódio de Herodes.

Nazaré se tornaria conhecida depois dEle.

Não é o lugar que torna notável o homem, mas este que, extraordinário, dignifica o lugar de sua origem elevando-o ao estado de grandeza, de notoriedade.

Nazaré situa-se em uma bacia, a quase quatrocentos metros acima do nível do mar Mediterrâneo.

O seu é um clima privilegiado e o vale de Jezrael é sempre fértil e verde, havendo merecido do historiador Flávio Josefo comentários entusiásticos e comovedores.

Ao oeste, podem-se ver o monte Carmelo e o mar; a leste está o vale do Jordão; ao sul, a planície do Esdrelon, região onde está Meguido e na qual o rei Josias sofreu sua terrível derrota; ali também lutaram os Macabeus, sonhando com a liberdade. Mais ao sul, encontra-se o monte de Gelboé e, a nordeste, o lago de Tiberíades.

Saul fora derrotado pelos filisteus muito perto dali, nas cercanias de Gelboé, ficando assinalado o seu fracasso face à desobediência à profecia de Samuel, o último dos Juizes, que lhe viera falar através da mediunidade exuberante da pitonisa do Endor...

Não sendo uma aldeia importante, esteve sujeita a Jafa, a Séforis, a Quislot, e ficou quase esquecida.

A população da Galileia era constituída por sírios, que vieram do Norte, gentios, romanos do meado do século I, a. C, gregos que fugiram das conquistas de Alexandre Magno, e pelo povo da região, que falavam o dialeto arameu, uma linguagem pobre que se arrimava às imagens vivas da Natureza, sem dispor de um vocabulário próprio para vestir as ideias.

Não seja, portanto, de estranhar, que o Mestre usasse a mesma palavra para definir, às vezes, coisas e acontecimentos diferentes.

Por outro lado, era comum que um mesmo vocábulo adquirisse um significado mais genérico, o que, certamente, criou dificuldades para o entendimento das anotações escriturísticas.


* * *

Em Nazaré haviam chegado as notícias dos feitos que comoveram Cafarnaum.

O jovem ali conhecido passara a curar e o Seu magnetismo arrebatava as multidões necessitadas que O buscavam.

Nesse clima, Ele resolveu em um sábado vir a Nazaré e visitar a sinagoga, como era do Seu hábito.

A casa de orações se encontrava repleta.

A Sua chegada houve uma comoção geral.

A beleza que dEle se irradiava parecia penetrar as almas, sensibilizando-as com amor e ternura, ou despeito e inveja.

Sempre acontecerá o mesmo fenômeno com as pessoas de vida pública, guias e líderes das massas...

NEle, no entanto, atingia-se o máximo e isto se generalizava por onde passasse à Sua grandeza.


Tomando da Tora, Ele leu o texto de Isaías e referiu-se:

— O Espírito do Senhor está sobre mim. Pelo que me unge, para anunciar as boas novas aos pobres.


Silenciou. Logo após, disse:

— Hoje se cumpriu esta Escritura na minha pessoa...

E prosseguiu comentando o texto em luz.

Houve silêncio e interesse.

Alguns presentes indagaram, comovidos: — Não é Ele o filho de José e de Maria, que trabalhava na carpintaria, que todos conhecemos e não são os Seus irmãos e irmãs os amigos com os quais convivemos?

Era, portanto, um momento singular, rico de expectativas e de carinho.


Ele prosseguiu integérrimo:

— Ninguém é profeta em sua terra, nem encontrará guarida na sua própria casa. E se lhe dirá: — Médico, cura-te a ti mesmo. "Quando os céus deixaram de fertilizar a terra com chuvas abençoadas, Elias não atendeu a aflição das viúvas, exceto à de Sarepta, de Sidon... E quando Eliseu veio ao povo e os leprosos o buscaram, ele não os limpou, dando preferência ao sírio Naaman... "Desse modo, foram maltratados pelos familiares e coetâneos. " A ira, a inveja e a revolta uniram-se em desequilíbrio e expulsaram-nO, levando-0 a uma encosta, pensando em atirá-lo do alto, em expiação, qual o fazem com o bode sacrificado na festa do Yom Kippur.

Jesus olhou-os com infinita compaixão, liberou-se de suas mãos e atravessou o grupo furibundo, descendo a Cafarnaum...

Nazaré possuía apenas uma fonte de águas generosas e abundantes, e talvez isso haja contribuído para que permanecesse, até o século II, quase desconhecida.

Graças a Jesus e às terras férteis do vale do Esdrelon tornou-se famosa, enriqueceu-se de cisternas cavadas no calcáreo dos montes.

A pequena pérola cintilante, que era Nazaré com os seus campos de papoulas escarlates e amarelas ao vento, com os cachos de mirra e ervas aromáticas, conheceu Jesus na Sua infância e juventude.

Ele correu por aquelas pradarias, cabelos à brisa e olhar abrangendo os montes altaneiros que a cercavam a distância.

... Nunca mais Ele voltaria a Nazaré, que significa lugar de sentinela.

Nazaré não O recebeu.

A inveja, a mágoa, o despeito dos Seus, expulsaram-nO dali.

Outras Nazarés existem ainda hoje, aguardando os cristãos decididos a fim de os expulsarem dali.


Lucas 16:30 e Mateus 55:56. (Nota da Autora espiritual.)


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Lucas 16:30

E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam.

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Lucas 4:18

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