Vivendo Com Jesus

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CAPÍTULO 17

As Dubiedades De Pedro

Simão Pedro nascera na encantadora Cafarnaum, onde continuou residindo.

Descendente de pescadores, nunca aspirara a outra profissão, exceto aquela que exerceram os seus antepassados.

Na paisagem bucólica da sua terra, na qual o mar de-sempenhava um papel de suma importância, pois que era a fonte de vida, de alimentação, de trabalho, de convivência com os demais, desenvolveu a sua personalidade assinalada pelas injun-çóes da época e do local.

Não se permitia as discussões em voga: a política arbitrária e insana dos romanos e da Casa de Herodes, nem a religião que administrava a conduta espiritual do povo, sediada no Sinédrio.

Homem simples, desacostumado aos atavios da convivência social de alto nível, na qual a dissimulação e o engodo fazem parte dos relacionamentos, era portador de temperamento altivo, fruto da independência pessoal que adquirira no pesado labor a que se entregava.

Homem do mar, as suas conversações versavam sobre as marés, o clima e as tempestades, as redes e os barcos, a pesca...

Era transparente e sincero, detestando os artifícios com que as criaturas se escondem a fim de cometerem os crimes e se manterem respeitáveis.

Não era um discutidor, porque lograra certo respeito entre os colegas, tornando-se proprietário do barco de boas proporções que lhe oferecia os recursos hábeis para o trabalho diário...

Formado o caráter, tinha as suas próprias ideias, evitando envolver-se nos debates vigorosos que faziam parte do quotidiano de todos.

Era austero, embora entendesse pouco dos princípios da Ética e da Moral.

Vez que outra frequentava a sinagoga, mais por hábito do que por convicção. Os discursos dos escribas e fariseus, porque destituídos de sensibilidade e de fé verdadeira, não encontravam ressonância na acústica dos seus sentimentos, como, aliás, acontecia com a maioria dos ouvintes. Respeitando-os, mais pelo receio de envolver-se nas suas tricas do que pelo significado espiritual que diziam carregar, vivia a rotina religiosa a que se entrega a maioria dos crentes de todos os tempos.

Em defesa dos seus interesses, era agressivo, linguagem conhecida e respeitada pelos desonestos e exploradores, única, aliás, que os faz recuar.

Precipitado, muitas vezes, em concluir antes de reflexionar, acostumou-se à intemperança, reagindo, quase sempre, antes de agir...

Cumpria os seus deveres com retidão e mantinha sua palavra, considerando-a representativa do seu caráter.

Embora fosse casado, não teve filhos, mantendo no lar a sogra já envelhecida, a quem respeitava e por quem tinha afeição.

Não possuía outras características que produzem o destaque do cidadão na comunidade, podendo passar despercebido na multidão...

É estranhável, desse modo, que haja sido convidado por Jesus para uma atividade de envergadura adimensional e que possuísse condições para executá-la. Mas disso, ele não teve consciência de imediato, só muito mais tarde, após ser trabalhado pelo fogo do sofrimento e moldado pelas mãos dedicadas do Arquiteto de vidas...

Jesus elegera-o com o carinho de escultor hábil e paciente.

Embora ele não se recordasse, Jesus conhecia-o, desde há muito, e, por isso, o amava.

O Mestre mantinha grande ternura pelos Seus discípulos e deles cuidava como se lhes fosse mãe dedicada em um momento ou pai rigoroso em outro, neles esculpindo os valores que os deveriam modificar a ponto de transformarem-se em pescadores de almas...

O fascínio que o Amigo exerceu sobre a sua personalidade desde o primeiro momento foi inigualável.

Sem dar-se conta, amou-O como dificilmente amara outra pessoa, e prometeu-se, mesmo sem consciência do que acontecia, ser-Lhe fiel até o fim dos seus dias.

Abriu-Lhe o lar, a fim de que se transformasse na sede física do Movimento que Ele desencadeava, tornando-se apontado e conhecido na sua comunidade pelo destaque com que era tratado pelo Mestre.

Observava o comportamento dele com ingenuidade quase infantil, embora não o compreendesse. Ele sabia, nos arcanos da memória, quem era Ele, mas estava no mundo que elege os seus heróis pela astúcia da conduta, pela agressividade, pela maneira como se impõe diante dos demais.

Jesus era-lhe, em muitas ocasiões, uma incógnita.

Quando deslumbrava as massas com os fenômenos que produzia, em vez de aproveitar o entusiasmo reinante, de-saparecia e mergulhava no silêncio, na solidão. Quando todos desejavam estar com Ele, surpreendentemente Ele se transferia de lugar...

Preferia os infelizes com os quais convivia desabridamente, gerando conflitos nos zelotas, nos fariseus, nos escribas, nas autoridades.

Nunca desobedeceu as leis, mas respeitava e vivia aquelas que vinham do Pai, assinaladas pelo Amor e pela Misericórdia, jamais pela prepotência e pela crueldade.

Atendia com a mesma efusão ricos e pobres, eleitos e desprezados, aceitando o convívio de meretrizes e de homens desclassificados, de leprosos detestados e de irresponsáveis, cuja conduta era condenável... Normalmente, a súcia se homiziava nas tascas e lugares desprezíveis que Ele visitava...

Não se contradizia, no entanto, embora informasse que viera para que todos tivessem oportunidade de conhecê-lo e de amá-lo.

Falava com a mesma brandura ao adulto e à criança, ao adolescente e ao ancião, não os diferenciando senão pelo conteúdo da mensagem.

Era manso de coração e de palavras, cordial em todos os momentos, jovial e sábio, sempre ensinando, até mesmo quando não dizia nada...

Em razão dessa forma de ser, ele, o ignorante, não poucas vezes, tomara-lhe a palavra, respondera por Ele ao ser interrogado e permanecer calado, como na lição dos impostos, quando Lhe foi perguntado se os pagava...

Naquela ocasião recebeu uma resposta grave, definidora de quem Ele era, ao pedir-lhe que atirasse o anzol às águas e pescasse um peixe que teria uma moeda para que o imposto fosse regularizado, conforme aconteceu, deslumbrando-o ainda mais.

Poucas vezes vira o Mentor irritar-se com as pessoas, e sempre, porém, que isso aconteceu, foi no enfrentamento com os hediondos perseguidores gratuitos, os vampiros que sugavam o sangue do povo infeliz, designando-os por sepulcros caiados por fora e mantendo internas podridões, por hipócritas e fingidos, sem os odiar, porém, conforme eles mereciam.

Usara as palavras fortes sem raiva nem rancor, mais como educador que desmascara a farsa do que revoltado que humilha...

Com Ele aprendera a servir àqueles que o buscavam, tornando-se mais cauto e gentil.

A pedra bruta que era foi lapidada e permitiu que o brilho interior se exteriorizasse.

Embora houvesse precipitadamente prometido acompanhá-lo até o momento final, ouviu a triste sentença por Ele proferida de que o negaria três vezes antes que o galo cantasse conforme, infelizmente, sucedeu...

Mas, arrependendo-se amargamente da covardia que o dominou na terrível noite da infeliz Jerusalém, ergueu-se da defecção e foi-Lhe fiel até o fim.

Em sua memória ergueu o lar dos desesperados na estrada entre Jerusalém e Jope, albergou todos os infelizes que o buscaram e enfrentou Roma, nos seus dias de ódio, levando a to-dos que tinham necessidades o Amor incomparável do Amigo...

Quando convidado ao testemunho, amadurecido e sábio, deu a própria vida em holocausto, como Ele o fizera em favor de todos.

As duas faces de Simão Pedro são encontradas em todos aqueles que descobrem Jesus, ou que por Ele foram encontrados no caminho da evolução, e sentem o desejo de O amar, de Lhe entregar a vida.




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