Vivendo Com Jesus

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CAPÍTULO 19

A Ardência Das Batalhas

O dia surgira embriagado de luz esfuziante.

Os diligentes trabalhadores movimentavam-se na direção dos seus locais de ação, emocionados pela oportunidade de poderem ganhar o pão com dignidade.

A Natureza esplendorosa naquela quadra ensejava as contínuas pregações às margens do mar amigo, onde Jesus emoldurava as experiências do amor com as vibrações da Sua palavra incomum.

Todos quantos dele se acercavam para ouvi-lo ficavam maravilhados ante a melodia do verbo e a profundidade do ensinamento.

Ele era um libertador de consciências e de sentimentos, que penetrava o âmago do ser e desvelava-o à própria consciência. Diferente de todos que vieram antes, conseguia cativar e enternecer os corações, que se Lhe vinculavam com uma doce afeição, caracterizada pelos sucessivos grupos que sempre se en-contravam a Sua volta.

As horas que transcorriam ainda não haviam alcançado elevado índice de calor, quando Bartolomeu (seu nome se origina de Bar Talmay, em aramaico, filho de Talmay), igualmente galileu de Nazaré, convidado para o ministério, discreto e afável, acercou-se do Mestre que parecia meditar sentado em uma pedra sob a copa de velho arvoredo contemplando o mar.

Ele vivia quase no anonimato, e é possível que seja o mesmo Natanael a que se referem as Escrituras...

A música das onomatopeias era carreada pelos ventos brandos que sopravam na direção da cidade de Cafarnaum.

O discípulo timidamente aproximou-se e, sentindo-se recebido pelo afeto do Amigo, pediu-Lhe licença para indagar-Lhe sobre algo que o vinha afligindo recentemente.

Narrou-Lhe que O amava e sentia-se fascinado pela mensagem do Reino de Deus, no entanto, temia não poder suportar o escárnio nem a perseguição gratuita dos fariseus e seus sequazes.

Dias passados, caminhava na direção do trabalho, quando alguém o admoestou com sarcasmo, a respeito da sua vinculação com Jesus, tido como desordeiro, porque alterava o estabelecido com a Sua mensagem absurda de amor.

Ele procurara esclarecer o agressor, pacientemente, quando o mesmo exclamou, furibundo: - Raca!

A palavra de desdém e menosprezo fê-lo ferver pela emoção da ira.

Incendiado pela raiva desejou revidar no mesmo nível, passando a um pugilato infeliz. Com dificuldade conseguiu controlar-se, mas não esqueceu o incidente nem perdoou o desafeto.

— Será que, por amor, teremos que suportar as feras que nos dilaceram com a sua brutalidade? — Interrogou, tomado de nervosismo denunciador do ressentimento.


Jesus olhou suavemente o amigo, e explicou-lhe:

— A árvore que resiste à tempestade é sempre arrancada. O solo que se recusa a lâmina do arado permanece árido, assim também o coração que revida a mente que se nega à dilaceração do orgulho...

Todo agressor é enfermo do espírito e compraz-se em inquietar os outros por inveja da paz de que se fazem portadores. Incapaz de superar a inferioridade e crescer na direção do equilíbrio, prefere azucrinar e provocar aqueles que considera superiores e os detesta, gerando-lhes aflições e cólera, desse modo, igualando-os à própria mesquinhez.

Quando amamos, a ofensa do insensato não recebe nenhuma acolhida de nossa parte, ficando com ele mesmo, e mais o atenazando. Por isso, é necessário amar, a fim de não se igualar ao ofensor.

— E, se ele, estimulado pelo silêncio da vítima, sentir-se emulado à agressão física, que fazer? - Perguntou, angustiado.


O Mestre, compassivamente, respondeu:

— Embora não concordemos com essa conduta, não podemos tornar-nos iguais ao revel, retribuindo-lhe da mesma maneira o gravame com que nos fere. A única ação capaz de vencer o Mal é o Bem que se expressa através do Amor que recebemos de nosso Pai.

— Mas o mundo está referto de agressores e de perversos. Como poderemos implantar o Reino de Deus se nos não utilizarmos dos mesmos instrumentos dos agressivos, a fim de OS submetermos à Verdade?

— O Reino dos Céus encontra-se nos sentimentos humanos e estabelece-se mediante a cordura e a bondade, por isso que o mundo não o vê, nem o quer... Utilizando-nos dos instrumentos do Mal e impondo-o, estamos agindo da maneira repreensível, como consideramos as atitudes dos dominadores dos outros que são dominados pelas suas paixões desgastantes. Não nos cabe submeter ninguém às nossas verdades, porque cada um possui as suas, mas sim aclarar a inteligência para que se impregne da proposta de paz e de renovação em favor da própria felicidade como da de todos.

— Temo — arrematou, por fim - não ter resistências morais para os enfrentamentos dessa natureza...

E as últimas palavras foram enunciadas com lágrimas de emoção e ressentimento que lhe escorriam pela face crestada pelo Sol.


Jesus olhou profundamente o rosto congestionado do discípulo, e respondeu-lhe com meiguice:

— As resistências morais chegam-nos por meio das pequenas dores que vamos habituando-nos a sofrer, pela paciência diante das ocorrências infelizes, mediante a irrestrita confiança no Pai, que nunca se impõe.


E depois de um breve silêncio, como se estivesse contemplando o futuro do discípulo, naquele momento aturdido, concluiu:

— Sei que suportarás todo tipo de agressão e de tormento por amor a mim e à palavra, porque eu te convidei para seres pastor de feras, que se transformarão em ovelhas mansas. Mantém-te fiel e prossegue em paz, sem importar-te com os impedimentos do caminho, guardando a certeza de que o Reino dos Céus já se encontra delineado no teu coração, na tua vida, esperando o mo-mento de desvelar-se...

Os tempos se dobraram uns sobre os outros em anos de saudades e de trabalho, em favor da divulgação do Evangelho do Senhor.

Bartolomeu, conforme o Mestre previra, uniu-se a Felipe e saiu a pregar pela Ásia Menor, especialmente na índia e na Armênia, enfrentando a brutalidade dos seus habitantes primitivos, adoradores de animais, especialmente de serpentes, em cujo culto eram realizados holocaustos e feitas doações expressivas, e, tomados pelo Espírito do Senhor, realizaram momentosas curas que fascinaram os seus beneficiários e suas testemunhas.

Separaram-se por algum tempo e voltaram a pregar juntos, acompanhados de Marianna, irmã de Felipe, consagrando-se como verdadeiros apóstolos de Jesus.

Graças a eles a mensagem espalhou-se por diversas regiões, especialmente na índia, havendo Bartolomeu traduzido o Evangelho de Mateus ao idioma local e conseguido feitos ini-magináveis.

No ano 90 d. C, em razão dos feitos extraordinários foi crucificado com Felipe, sobrevivendo à perseguição inclemente, vindo, mais tarde, a ser novamente crucificado, em Al-banópolis, e porque demorasse a morrer, foi esfolado vivo e depois escalpelado, dando a mais extraordinária demonstração de fé e de coragem, porque pregando sempre a Doutrina do Amor e do Perdão.

Depois do suplício a que foi submetido, seus discípulos devotados, aqueles que receberam as bênçãos da sua misericór-dia e do seu amor, sepultaram o seu cadáver em Albano, na Armênia Maior, posteriormente transferido para Roma.

Todo aquele que se dedica a Jesus não pode deixar de experimentar a ardência da batalha do amor contra o ódio, e do Bem contra o Mal.




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