Vivendo Com Jesus

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CAPÍTULO 4

Sublime Encantamento

Uma psicosfera inusual dominava a paisagem das almas naqueles dias.

A região do mar da Galileia, especialmente no lado em que repousavam próximas às suas praias as cidades movimentadas de Cafarnaum, Magdala, Dalmanuta e as aldeias humildes com o seu casario em tonalidade cinza, fruía de uma desconhecida paz.

Praticamente dedicada à pesca nas águas quase sempre tranquilas do mar gentil, vivia-se naquela região um período de estranha harmonia.

Suas gentes pobres, com as raras exceções dos poderosos transitórios que nunca ambicionaram sair dali ou desfrutar dos prazeres da fortuna, sem que pudessem explicar, experi-mentavam estranho bem-estar.

Os pescadores estavam acostumados à sua diária labuta: conserto de redes, aventuras nas águas, movimentação na praia e discussão com os compradores dos peixes, conversas infindáveis sobre as questões modestas dos seus interesses, pagamentos dos impostos absurdos, todos descendiam de outros que se haviam dedicado ao mesmo mister.

A rotina era quase insuportável, o mesmo acontecendo com os agricultores, oleiros, marceneiros, construtores e comerciantes...

Cafarnaum era uma cidade grandiosa, considerando-se os padrões da época, pois que ali havia uma sinagoga importante e possuía ruas calçadas, praças formosas, mansões e casebres como em toda parte.

O luxo de uns humilhava a miséria de outros. Mas todos conviviam dentro dos seus padrões, acostumados que estavam às circunstâncias e às condições existentes.

A política infame de César esmagava os dominados em toda parte; e a luxúria, o fausto, os constantes desafios do tetrarca, desde há muito silenciaram os ideais libertários, esmagando com os impostos exorbitantes os trabalhadores e o povo sempre reduzido à miséria.

Nesse quase lúgubre cenário humano, soprava uma diferente brisa de paz e de espontânea alegria, como se algo estivesse acontecendo, o que, em verdade, ocorria...

Chegara o momento em que Jesus deveria iniciar o Seu ministério.

Ele havia elegido aquela região simples, de onde, por ironia, asseverava-se que nada de bom poderia sair. Seria, portanto, um paradoxo, porque os fatos iriam demonstrar o equívoco desse comentário desairoso.

Num magnífico dia de sol, enquanto todos laboravam como de costume, Ele saiu a pescar homens para o Seu Reino, Vivendo com Jesus para a implantação de uma diferente Era, como jamais dantes ou depois houvera, ou se repetiria.


Caminhando vagarosamente acercou-se de uma barca onde os irmãos Pedro e André, os irmãos Boanerges (por Jesus apelidados como filhos do trovão) se encontravam, e, após fitá-los demoradamente, produzindo nos observados certa estranheza, pois que O não conheciam, disse:

— (...) Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens? (Mateus 4:21 (nota da Autora espiritual) Uma harmonia incomum penetrou-lhes as almas e eles ficaram extasiados. Ninguém nunca lhes falara naquele tom, daquela forma. O estranho continuou olhando-os de maneira transparente e doce, aguardando.

Na acústica do ser identificaram aquela voz que parecia adormecida por muito tempo e agora ecoava suavemente.

Não sabiam qual era a intenção dele, nem os recursos que possuía, nem sequer podiam identificar o a que se referia, percebendo somente que era irresistível Seu convite.

Desse modo, magnetizados pela Sua presença, deixaram o que estavam diligenciando e O seguiram.

Ele não deu explicação nenhuma, tampouco os convidados fizeram qualquer pergunta. Poder-se-ia pensar que era o senhor chamando os seus servidores, que o atenderam sem protesto, sem vacilação.

De certo, a sua rotina era cansativa e estavam saturados, mas era aquele o único recurso de sobrevivência de que dispunham, por isso, amavam o que faziam.

Aquele foi-lhes o momento definitivo da existência, que se modificaria para sempre.

Caminhando com alegria em silêncio, Jesus foi adiante e convidou outros dois pescadores, um dos quais muito jovem e de aparência sonhadora, e falou-lhes com a mesma candura.

Então eles, deixando logo as redes, seguiram-no. (8) Eles não relutaram nada indagaram, como se estivessem apenas aguardando o convite, e as redes que estavam con-sertando caíram nas areias, e deixando imediatamente o barco e o pai, O seguiram.

No dia seguinte quis Jesus ir à Galileia, e achou a Filipe, e disse-lhe: Segue-me? (9) Ele levantou a cabeça quando O viu chegar e sorriu, enquanto ouvia a invitação: — Segue-me!

A partir dali toda a região foi modificada. Os comentários tornaram-se focos de controvérsias e de considerações incongruentes. Ninguém entendia o que acontecera com aqueles antigos pescadores e outros, como o cobrador de impostos, que deixou também a sua coletoria para segui-lo, apenas recebeu o chamado...

Pode-se asseverar que todos haviam sido escolhidos muito antes daqueles momentos e que somente aguardavam ser convocados.


(8) Mateus 4:20

(9) João 1:43 (notas da Autora espiritual)

O mundo, no entanto, é fascinante nas suas ilusões, e os desejos humanos em forma de ambições de poder e de gozo tem suas raízes profundamente fincadas no solo da memória por atavismo e imposição das vivências anteriores.

Trata-se de um grande risco abandonar tudo e seguir um estranho. Isso se, realmente, Ele fosse um estranho, o que não tinha fundamento, porque todos experimentavam a sensação de O conhecerem, de O amarem, de Lhe sentirem a ausência...

Afinal, a vida na Terra é uma sucessão de riscos calculados ou não, de tentativas de erros e de acertos.

Aquela desconhecida aventura, no entanto, era tecida pelos sonhos de um mundo melhor, um amálgama de anseios do coração e da mente anelando por melhores condições de vida, por felicidade.

Jesus, porém, nada lhes ofereceu por enquanto. Somente os convidou, reunindo-os como discípulos para o grande empreendimento que viria depois.

Aquele chamado era aguardado por Israel, que esperava um rei ameaçador e perverso, que lhe restituísse a liberdade política, dando-lhe poderes para tornar-se tão cruel quanto o Império que o estraçalhava.

Com esse grupo de galileus e, mais tarde, com um judeu de Keriot, iniciou-se a mais fantástica façanha de que a História guarda notícia.

O primeiro encontro foi na casa de Pedro, que era casado, e certamente o mais velho de todos, embora ainda não houvesse alcançado os cinquenta anos.

Todos estavam dominados pelo brilho dos Seus olhos e pela ternura da Sua presença.

De alguma forma eles sonhavam com esse futuro que chegara somente que não sabiam como se apresentaria, de que era constituído, o que deveriam fazer.

Tudo, porém, foi-se apresentando a seu tempo e as revelações começaram a diluir a cortina de sombras e a vitalizar a debilidade das forças.

Em breve, a revolução iria começar e, para tanto, era necessário que se fortalecessem, que abandonassem os velhos hábitos do egoísmo e passassem a viver em grupo, repartindo o pão e o teto, a alegria e a tristeza, a esperança e as dúvidas que, periodicamente, os assaltavam...

Eram quase todos analfabetos, com exceção de Mateus, de Judas, de Tiago, e de Pedro e João, que adquiririam o conhecimento das letras mais tarde, deixando a grandeza de sua epístola e as narrações evangélicas assim como o Apocalipse...

Judas, o mais letrado e hábil em administração, que foi encarregado de guardar as pequenas reservas monetárias do grupo, era dedicado e fiel enquanto se deslumbrava ante as promessas do Senhor, até quando começou a atormentar-se ao constatar que o Seu Reino era outro, muito diferente daquele que excogitava e tinha ânsias por fruir.

Insinuando-se-lhe a dúvida, o ressentimento encontrou guarida nos seus sentimentos, e ele tornou-se vítima infeliz de si mesmo, quando se permitiu perder na ambição acalentada.

O grupo humilde tinha tudo para fracassar, menos o Mestre que o guiava, que lhe trabalhava as anfractuosidades íntimas, que lhe construía a nova personalidade, modelando a pedra bruta representativa da ignorância atual, para arrancar o que se encontrava oculto, a essência sublime da vida...

(...) E eles se tornaram os construtores do Novo Mundo, deram-se integralmente à causa que abraçaram, testemunharam, após as fraquezas humanas, a grandeza de que eram constituídos.

Nunca mais a sociedade seria a mesma, jamais se repetiriam aqueles dias, que se transformaram no marco definidor do futuro, bem diferente do passado...




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Mateus 4:21

E, adiantando-se dali, viu outros dois irmãos, Tiago, filho de Zebedeu, e João seu irmão, num barco com seu pai Zebedeu, consertando as redes; e chamou-os;

mt 4:21
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Mateus 4:20

Então eles, deixando logo as redes, seguiram-no.

mt 4:20
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João 1:43

No dia seguinte quis Jesus ir à Galileia, e achou a Filipe, e disse-lhe: Segue-me.

jo 1:43
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