Sabedoria do Evangelho - Volume 2

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CAPÍTULO 10

VISITA A NAZARÉ

(maio/junho de 29 AD)


JO 4:43


43. Depois desses dois dias, partiu dali para a Galileia.


LC 4:16-22a

16. E foi a Nazaré, onde se tinha criado; no sábado, entrou na sinagoga, segundo seu costume, e levantou-se para ler.


17. Foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías e, tendo-o desenrolado, achou o lugar em que estava escrito:


18. "Um espírito do Senhor está sobre mim: por cujo motivo me ungiu par anunciar boas notícias aos mendigos; enviou-me para proclamar libertação dos cativos, restauração da vista aos cegos e para por em liberdade os oprimidos,


19. e proclamar o ano aceitável ao Senhor".


20. Tendo enrolado o pergaminho, entregou-o ao assistente e sentou-se; e todos, na sinagoga, tinham os olhares fixos nele.


JO 4:45


45. Assim, quando chegou à Galileia, os galileus o receberam bem, porque tinham visto tudo o que ele fizera em Jerusalém na ocasião da festa, pois eles também tinham ido à festa.

Da Samaria, segue Jesus para a Galileia, parando em Nazaré, onde, diz o evangelista, passou a primeira infância (literalmente, "onde foi alimentado", no sentido de "onde foi criado").

Nota o autor, que Jesus foi à sinagoga no sábado, "como era seu costume". Como israelita cem por cento, jamais deixou de cumprir rigorosamente - do nascimento até a morte - todos os preceitos da lei mosaica. Se sempre foi, confessou e praticou a religião israelita, como afirmar que fundou nova religião? Jamais o fez. Confirmou o mosaísmo e declarou ter vindo para completar a lei. Apenas, dentro da religião mosaica, ampliou a visão, ensinando preceitos novos e revelando mais alguns "segredos do Reino". Numa palavra, deu um "código científico de vida". Bem sabia o Mestre que não é a religião que salva ou que faz evoluir: é a ação pessoal de cada um, servindo a religião apenas de "trilho" para facilitar a caminhada da personalidade. Daí, qualquer religião ser aceitável a Deus, pois Deus é um só e não faz acepção de pessoas. Não é o rótulo que importa: é o conteúdo do frasco.

Tendo agora regressado de Jerusalém, onde tivera atuação rápida porém marcante, seus compatriotas já o olhavam com admiração. Assim, após a leitura da Torah, quando chegou a vez de ser dada a palavra aos assistentes que desejassem dizer alguma coisa, foi entregue a Jesus o rolo de Isaías. Jesus desenrolouo e foi até o capítulo 61, onde começou a leitura.

Há algumas observações a fazer.

1. ª - O texto lido jamais foi considerado uma haphtarah oficial, isto é, um trecho cuja leitura fosse estabelecida pela tradição, segundo a ordem de Esdras.

2. ª - Ao invés do texto hebraico de Isaías, a citação é feita pelo grego dos LXX. Na realidade, era mais comum o grego que o hebraico, na Galileia. Mas, nas recentes descobertas nas grutas de "Qumr’am" (Mar Morto), foi encontrado um texto hebraico de Isaías que é mais conforme ao grego dos LXX do que ao original massorético supondo-se, então, que esse texto recém-encontrado tenha sido o original, do qual foi feita a tradução.

3. ª - O texto não é citado na íntegra. Não aparece a frase "curar os corações espesinhados" (vers.
1) nem" o dia da retribuição" (vers. 2); mas, entre um e outro, há a frase "para proclamar a libertação dos oprimidos", que pertence ao cap. 58 vers. 6, do mesmo Isaías. Essas modificações do original teriam sido ocasionadas por traição da memória do evangelista que, não sendo judeu não o tinha bem de cor, nem possuía o texto para confrontar? Aliás, não estava fazendo trabalho de crítica hermenêutica, mas apenas de instrução espiritual.

Todos esses trechos de Isaías referem-se ao "Servo de YHWH", na era messiânica.

Note-se a frase de Isaías, confessando-se "médium", quando diz "um espírito do Senhor está sobre mim", ou seja, "estou recebendo um espírito enviado do alto". Portanto, simples intermediário.

Terminada a leitura, Jesus entrega o livro ao hazzan (assistente) e senta-se para explicar. Os compatriotas ficam alertas, os olhos presos ao jovem que haviam visto menino a brincar nas ruas. E Yahsua Ben- Yosef começa: "Hoje cumpriu-se esta profecia a vossos ouvidos".

Logicamente, muito mais deve ter dito. Lucas apresenta-nos um resumo. De qualquer forma, as palavras impressionaram favoravelmente o auditório atento e amigo, despertando a satisfação e o orgulho de ver um "dos seus" que falava tão belas palavras de amor. As traduções comuns trazem "palavras cheias de graça", o que pode dar a falsa ideia de que Jesus tivesse feito humorismo. Ora, o texto original diz bem claramente lógois tês cháritos, ou seja, "palavras de amor".

Além de tudo, a fama que chegara de Jerusalém, trazida pelos galileus que lá haviam estado, narrando os acontecimentos com os naturais exageros, predispunha-os à admiração.

Jesus, porém, não se demora lá: após essa visita à sua cidade, à sua mãe e a seus irmãos e irmãs, partem para Cafarnaum à beira do lago, passando antes, todavia, pela simpática cidadezinha da Caná.

Depois da festa iniciática no Monte da Vigilância (Samaria), Jesus recolhe-se novamente ao "Jardim Fechado" (Galileia) e fala aos "consagrados a Deus" (nazireus), entre os quais se havia criado, comentando o profeta Isaías.

A reunião ("sinagoga" é palavra grega que significa "reunião" ou, por extensão, "lugar de reunião"), é feita no dia do "repouso" ("sábado" exprime exatamente "repouso"), repouso das ocupações materiais.

O estabelecimento de um dia de repouso para a personalidade (trabalhos externos) mostra-nos a necessidade que temos de parar intermitentemente as atividades personalísticas, para dedicar-nos tão só às do Eu Profundo, na leitura e sobretudo na meditação sobre textos de Mestres. Nada de transformar esse descanso da personalidade em outras atividades personalísticas de culto externo e ritual ístico: temos que alimentar o Espírito. E por isso os judeus nas sinagogas (e Jesus o exemplifica) limitavamse a ler e comentar os livros revelados (mediúnicos).

O texto de Isaías foi escolhido: suas palavras revelam a doutrina de Jesus, já preconizada por Isaías, um dos maiores profetas (médiuns) que apareceu na Terra.

Começa esclarecendo que "um espírito (em grego sem artigo) do Senhor está sobre ele", ou seja, declarando aberta e taxativamente que se encontrava mediunizado, recebendo um "espírito", que é bom e elevado ("do Senhor"). Esse "espírito o ungiu", ou seja, o cristificou, para que ele pudesse realizar sua missão. Observemos que o médium (profeta) não age por si: é intermediário. Não alcançou por si mesmo a cristificação (pois nesse caso seria "mestre", e não medianeiro). Daí a necessidade de que venha "sobre ele", envolvendo-o, um "espírito do Senhor", para ungi-lo, com a finalidade de sustentálo para boa execução dos trabalhos espirituais. Na falta de mestres encarnados na Terra, os "espíritos do Senhor" servem-se de instrumentos aptos a substituí-los. E a prova é que, por vezes, quando o "esp írito do Senhor" se retira, os intermediários fraquejam.

E a tarefa era anunciar "as boas notícias" ou "evangelho" aos mendigos.

Não aos mendigos materiais, de moedas ou de pão, mas aos "mendigos do espírito", àqueles que sentem fome e sede de espírito e o mendigam ao Pai. Nesse mesmo sentido Jesus proferiu a bem aventuran ça: "felizes os mendigos do espírito (ptôchoi tôi pneúmati) ou seja, os que mendigam com lágrimas o dom do espírito. A esses sequiosos de espiritualizar-se, serão dadas as "boas notícias".

Então o profeta anuncia que vem proclamar a "libertação dos que estão cativos" na matéria, a restaura ção da vista espiritual aos que estão cegos, sem ver a verdade; mais ainda, para por em liberdade os oprimidos pela carne, pois doravante terão a faculdade de, mergulhando na Consciência Cósmica, não mais sentirem o peso da matéria que lhes oprime a mente e o espírito, conforme dizia "o sábio" no Livro da Sabedoria (9:
15) "o corpo que se corrompe (que se coagula na matéria) pesa sobre a alma, e esta habitação terrestre abate o espírito que pensa muitas coisas".

Além disso, vem proclamar o ano (isto é, a época) aceitável ao Senhor, pois Ele só espera a preparação do homem para aceitá-lo e nele manifestar-se.

Jesus, a seguir, revela que chegou o momento de cumprir-se a Escritura. A individualidade é que sabe e pode declarar ao homem que chegou o momento de realizar o Encontro Sublime.

O evangelista, sem reproduzir as palavras proferidas por Jesus, declara que todos ficaram encantados com as palavras de amor que procediam de Sua boca, tal como o ficam todos aqueles que tem a felicidade de ouvir as misteriosas palavras silenciosas e consoladoras que o Cristo Interno profere no mais recôndito do coração humano, e que chegam em ondas benéficas ao cérebro inebriando de gozo o intelecto da personalidade.




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Lucas 4:16

E, chegando a Nazaré, onde fora criado, entrou num dia de sábado, segundo o seu costume, na sinagoga, e levantou-se para ler.

lc 4:16
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Lucas 4:17

E foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar em que estava escrito:

lc 4:17
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Lucas 4:18

O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração,

lc 4:18
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Lucas 4:19

A apregoar liberdade aos cativos, e dar vista aos cegos; a pôr em liberdade os oprimidos; a anunciar o ano aceitável do Senhor.

lc 4:19
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Lucas 4:20

E, cerrando o livro, e tornando-o a dar ao ministro, assentou-se; e os olhos de todos na sinagoga estavam fitos nele.

lc 4:20
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Lucas 4:21

Então começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu esta Escritura em vossos ouvidos.

lc 4:21
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Lucas 4:22

E todos lhe davam testemunho, e se maravilhavam das palavras de graça que saíam da sua boca; e diziam: Não é este o filho de José?

lc 4:22
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