Sabedoria do Evangelho - Volume 2

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CAPÍTULO 11

CURA DO FILHO DO OFICIAL DE HERODES

JO 4:46-54


46. Voltou, então, a Caná da Galileia, onde fizera da água vinho. Ora, ali se achava um oficial do rei, cujo filho estava doente em Cafarnaum.


47. Esse homem, ao saber que Jesus tinha regressado da Judeia para a Galileia, foi ter com ele e rogou-lhe que descesse para curar seu filho, porque estava à morte.


48. Disse-lhe Jesus: "Se não virdes demonstrações e prodígios, de modo algum acreditais".


49. Rogou-lhe o oficial: "Desce, Senhor, antes que meu filho morra".


50. Disse-lhe Jesus: "Vai. Teu filho vive". O homem acreditou na palavra que Jesus lhe dissera e retirou-se.


51. Já descia ele, quando seus servos lhe vieram ao encontro, dizendo que seu filho vivia.


52. Perguntou-lhes, então, a que hora se sentira ele melhor. E eles responderam: "Ontem, à sétima hora, a febre o deixou".


53. Reconheceu, então, o pai ser aquela a mesma hora em que Jesus dissera: "Teu filho vive". E acreditou ele e toda a sua casa.


54. Vindo de novo da Judeia para a Galileia, esta foi a segunda demonstração que fez Jesus.

Chegando a Caná (o evangelista não nos dá a razão dessa visita), só um fato é salientado: uma cura a distância. Examinemos os pormenores.

Oficial do rei (em grego basilikós) exprime o que hoje chamamos um "palaciano", alguém que estava a serviço do tetrarca Herodes, denominado "rei" por adulação.

Os exegetas discutem quem teria sido, e as opiniões, embora sem provas, tendem para identificá-lo com Cusa (Hôzay), intendente de Herodes, cuja esposa Joana, juntamente com outras mulheres (cfr.

LC 8:3 e MC 15:40) acompanhavam Jesus, ajudando o grupo de seus discípulos, quer financeiramente quer sobretudo em serviços próprios ao sexo, como cuidar da alimentação e da roupa.

Habitando em Cafarnaum, e sabendo que Jesus passara para Caná, Cusa sobe até lá (são 33 quilômetros de subida íngreme) até que descobre o Mestre. E, sem rebuços, solicita o favor em benefício do filho à morte.

A resposta de Jesus transparece imbuída de tristeza: não viera para as personalidades, mas para ensinar à individualidade o caminho da libertação, e no entanto todos só se preocupam com seus corpos... Se não vissem demonstrações de poder, não creriam... Mas o oficial estava aflito, e não quer saber de conversa: "vem logo, Mestre, antes que meu filho morra" ! ...

É o grito angustiante de um pai que colocou em Jesus a última esperança, mas julga que só com Sua presença física Lhe seria possível realizar a cura. Calmo e cônscio de Sua Força Cósmica, Jesus lhe assegura que o filho está salvo.


Aqui entra a fé do oficial. Acreditou e aceitou. E imediatamente regressa, descendo de Caná. Ao chegar à beira do planalto, quando começou a descer (a diferença de altitude entre Caná e Cafarnaum é de

700 metros), depara os servos que subiam a seu encontro.

Examinemos uma contradição aparente no horário. Segundo informações, a cura foi realizada "à sétima hora" (13 horas). Logo após o palaciano se retira, empreendendo a viagem de regresso. Essa viagem, na descida a pé, é feita geralmente em sete ou oito horas, quando se anda a bom passo, sendo três horas e meia no plano, através do planalto da Galileia e outro tanto na descida propriamente dita. Saindo, pois, por volta das 13 horas (talvez com ligeira parada para refeição e repouso) o palaciano deveria chegar a casa pelas 21 horas. Ora, os servos devem ter saído bem depois das 13 horas: a admiração, a alegria, a verificação da cura, os raciocínios e ponderações e, finalmente, a resolução de mandar os servos a Caná, para avisar o oficial.

Sendo a descida mais rápida que a subida, o encontro deve ter-se dado, realmente, como diz João, quando "já descia ele", ou seja, a dois terços ou mais da caminhada, o que nos leva às 19 ou 20 horas.

Se assim foi, os servos tiveram razão de dizer: ONTEM, porque às 18 horas havia começado o "dia seguinte". Sabemos, com efeito, que na Palestina os dias eram computados (como ainda hoje os sábados entre os israelitas) das 18 às 18 horas.

O fato comprovado solidificou a crença de Cusa e trouxe a adesão de "toda a casa", ou seja, dos parentes e da criadagem. Daí por diante, sua esposa Joana, sobretudo, jamais se afastaria de Jesus e de seus discípulos.

E (simples hipótese, à qual voltaremos mais tarde), não seria essa Joana outra das "irmãs" de Jesus?

Isso explicaria a intimidade de Cusa, o conhecimento dos passos de Jesus, sua localização em Caná, e a certeza de que Ele, que não era ainda conhecido como "curador", poderia fazer voltar a saúde a seu filho.

E João anota que Jesus veio de novo da Judeia para a Galileia e, então, novamente em Caná, fez a segunda demonstração de Sua doutrina e de Sua Força Crística.

Nos mínimos fatos há ensinamentos de alto valor.

Jesus recolhe-se novamente em prece (Caná), elevando para o Alto suas vibrações, qual um caniço erecto. Mas a personalidade sujeita às aflições e à morte, vai em Sua busca reclamando alívio às ang ústias.

O homem, um "oficial do rei" (ou seja, alguém cujo ofício se prendia às coisas, à matéria) vê seu filho (a personalidade) a morrer, e requer a presença da individualidade.

Jesus ensina que os prodígios e as demonstrações requeridas pelo intelecto de nada valem. Mas a personalidade não se conforma. Dá-se então o inesperado, a revelação de que "o filho vive". Jesus não promete a cura, mas " vida. Não é tanto a cura do corpo físico (coisa secundária para o Espírito), mas a vida do "espírito". E mais uma vez dá-se uma União, revelada pelo evangelista com o número cabalístico: à sétima hora. Quando chega a hora sétima, a febre das paixões e dos equívocos ilusórios abandona as criaturas e elas passam a VIVER.

Através desse fato, que revela o amor paternal a agir, compreendemos também a lição mais profunda: quando aflitos, a "mendigar o espírito", verificamos que nosso quaternário inferior está ainda totalmente envolvido pela FEBRE das paixões, e que se encontra prestes a sucumbir, é então que o Espírito (o PAI da nossa personalidade) se aflige realmente, e sai correndo em busca de auxílio, recorrendo pela prece ao Cristo Interno, nosso Eu Profundo. Mas quase sempre esperamos "milagres" que nos libertem dos atrativos inferiores. Em contato com a Individualidade, vemos que todas as ilusões físicas, sensoriais, emocionais e intelectuais nos abandonam, porque tomamos contato com a realidade absoluta e eterna. Mergulhamos na Consciência Cósmica, no Cristo Interno, e todas as ilusões se mostram tais quais são: ilusões. E novamente a Vida nos vivifica.

Os servos (os sentidos) revelam ao Espírito (pai) que não mais sentem "febre" alguma, e ele reconhece que foi "no momento exato" do contato que a vida nele penetrou. E ele (o espírito) passa a acreditar por experiência própria, e com ele "toda sua casa", isto é, todos os seus corpos (habitação do es pírito). E todo inteiro passa ele a dedicar-se ao serviço do Mestre Incomparável que o conquistou para o resto dos séculos sem fim.




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João 4:46

Segunda vez foi Jesus a Caná da Galileia, onde da água fizera vinho. E havia ali um régulo, cujo filho estava enfermo em Capernaum.

jo 4:46
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João 4:47

Ouvindo este que Jesus vinha da Judeia para a Galileia, foi ter com ele, e rogou-lhe que descesse, e curasse o seu filho, porque já estava à morte.

jo 4:47
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João 4:48

Então Jesus lhe disse: Se não virdes sinais e milagres, não crereis.

jo 4:48
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João 4:49

Disse-lhe o régulo: Senhor, desce, antes que meu filho morra.

jo 4:49
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João 4:50

Disse-lhe Jesus: Vai, o teu filho vive. E o homem creu na palavra que Jesus lhe disse, e foi-se.

jo 4:50
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João 4:51

E, descendo ele logo, saíram-lhe ao encontro os seus servos, e lhe anunciaram, dizendo: O teu filho vive.

jo 4:51
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João 4:52

Perguntou-lhes pois a que hora se achara melhor; e disseram-lhe: Ontem às sete horas a febre o deixou.

jo 4:52
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João 4:53

Entendeu pois o pai que era aquela hora a mesma em que Jesus lhe disse: O teu filho vive; e creu ele, e toda a sua casa.

jo 4:53
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João 4:54

Jesus fez este segundo milagre, quando ia da Judeia para a Galileia.

jo 4:54
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Lucas 8:3

E Joana, mulher de Cuza, procurador d?Herodes, e Suzana, e muitas outras que o serviam com suas fazendas.

lc 8:3
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Marcos 15:40

E também ali estavam algumas mulheres, olhando de longe, entre as quais também Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José, e Salomé;

mc 15:40
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