Sabedoria do Evangelho - Volume 2

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CAPÍTULO 24

O BANQUETE DE LEVI

MT 9:10-13


10. E aconteceu que estando reclinado à mesa em cosa, vieram muitos cobradores de impostos e "pecadores" e reclinaram-se com Jesus e com seus discípulos.


11. Vendo isto, os fariseus perguntavam aos discípulos: "por que vosso Mestre come com os cobradores de impostos e "pecadores"?


12. Mas ouvindo-o, Jesus disse: "os sãos não precisam de médico, mas sim os enfermos.


13. Porém ide aprender o que significa: misericórdia quero, e não sacrifícios", pois não vim chamar os justos, mas os pecadores".


MC 2:15-17


15. E vai (Jesus) reclinar-se à mesa na casa dele (Levi) e reclinaram-se também com ele e com seus discípulos muitos cobradores de impostos e "pecadores", pois havia muitos que o seguiam.


16. E vendo os escribas dos fariseus que ele comia com os "pecadores" e cobradores de impostos, diziam aos discípulos dele: "por que é que ele come com os cobradores de impostos e "pecadores"?"


17. Ouvindo isto, Jesus respondeu-lhes: "os sãos não precisam de médico, mas sim os enfermos; não vim chamar os justos, mas os pecadores".


LC 5:29-32


29. Levi deu-lhe um grande banquete em sua casa; e era grande o número de cobradores de impostos e de outras pessoas que estavam com eles à mesa.


30. Os fariseus e se seus escribas murmuravam contra os discípulos de Jesus, dizendo: "por que comeis e bebeis com os cobradores de impostos e ‘pecadores"?"


31. Respondendo, lhes Jesus: "os sãos não precisam de médico, mas sim os enfermos.


32. Não vim chamar os justos, mas os pecadores para a reforma mental".

Mateus levanta-se da coletoria para seguir Jesus, mas antes leva-o a sua casa, e aí oferece-lhe u "grande banquete", no qual se despede de seus amigos e colegas de profissão: realmente os agentes fiscais eram numerosos em Cafarnaum. " Reclinar-se à mesa (katakeisthai) porque o alimento era tomado enquanto o conviva ficava recostado, quase deitado, num leito mais baixo, com a cabeça apoiada no braço esquerdo, ficando o direito livre para servir-se nos pratos à mesa, algo mais alta. Esse o costume dos banquetes de luxo: provinha da Assíria, tendo penetrado em Israel (Amós 6:4), na Grécia e em Roma.

Notemos que o termo "pecadores" (hamartolós) tem um sentido próprio em grego: os "transviados", isto é, "os que estão fora do caminho certo".

Para os fariseus e saduceus ortodoxos, todos os não-judeus (gentios) eram "pecadores", porque não trilhavam a estrada traçada por Moisés. E também eram chamados "pecadores" todos os judeus que mantinham contato com os gentios, como os agentes fiscais. Fique bem claro, que o termo "pecadores" tem esse sentido especial: não eram criminosos, nem delinquentes, mas apenas não seguiam a rigidez legal, tida como ortodoxia. O banquete que Mateus ofereceu a Jesus era, então, verdadeiro "banquete de pecadores", como diz Jerônimo (Patr. Lat. , vol. 26, col. 56).

Participar de uma refeição na casa de alguém era fazer-lhe grande honra, mormente para esses homens ricos, mas desprezados; ver Jesus entre eles deve ter constituído imensa alegria, sinal inequívoco de estima e amizade. Mas os judeus, que eram obrigados a recitar as "bênçãos", jamais admitiam ladearse com os gentios nesse ato quase religioso. Vinte anos após a morte de Jesus, os cristãos que provinham do judaísmo recusavam alimentar-se ao lado dos cristãos provenientes do paganismo (GL 2:11-14) .

Ao ver, pois, essa promiscuidade, os fariseus escandalizam-se, mas não ousam investigar o Mestre: vão aos discípulos para investigar a razão dessa manifestação de desrespeito aos preceitos mosaicos.

Jesus intervém pessoalmente, para tirar os discípulos de embaraço e fá-lo com fina ironia, concedendo aos fariseus o título de "justos" e de "sadios" de espírito (santos).

A expressão "ide aprender o que significa" é fórmula rabínica usada nas controvérsias. Cita então Oseias (6:6), dizendo que a misericórdia vale muito mais que qualquer sacrifício religioso, e depois cita um aforisma corrente (cfr. Diog. Laércio, Antisth. 6. 1. 6. e Plutarco, Apophthegmas, 230 F): "não são os sadios que precisam de médico". E confirma: ’não vim chamar, (no sentido de convidar) os justos, mas os "pecadores". Mais tarde dirá novamente que os "pecadores" e as meretrizes conseguirão o" reino de Deus" antes que os "justos" fariseus e os sacerdotes convencidos (MT 21:31).

A esses era muito mais fácil pregar a Boa-Nova, que aos que se julgavam "virtuosos" e "conhecedores", quase que "donos da verdade" ...

A individualidade sabe perfeitamente que as personalidades são coisas passageiras, perecíveis, e vivem numa situação de irrealidade que lhes parece realidade. Daí dar importância muito secundária aos atos da personalidade. Que importa se a criatura, temporariamente mergulhada na carne, exerce uma profissão desprezada pelo mundo oficial? Que importa o transvio do que é exterior, se o íntimo está aproveitando aquela experiência, por vezes dolorosa, para o aprendizado maior?

Então, se a personalidade ainda precisa de certas exterioridades (como o banquete de Mateus), a individualidade não se recusa a ela: comparece com todos os discípulos (veículos que a envolvem), e participa da alegria daquela criatura, que ainda dá valor ao temporário e irreal, por julgá-los coisas duradouras e reais. Nada de "fitas" e de hipocrisias, de cenobitismo eremita, de sacrifícios irracionais: se estamos na Terra na condição de seres humanos, como tais devemos viver. ’Não mais somos animalizados - então nada de animalismo - mas ainda não somos anjos, portanto, não vivamos como anjos desprezando a matéria", são palavras de Emmanuel. Por que então fugir à nossa condição de homens que ainda somos?

A lição de Jesus neste fato é importante e visa a todos os que se envaidecem de suas virtudes, fugindo ao contato com os enfermos morais: exatamente estes são os mais necessitados.

A misericórdia é superior a qualquer ato religioso, e a nós (a individualidade) não interessam a admira ção e os elogios dos bons, dos justos, dos santos: esses têm sua trilha traçada e a seguem sem trope ço. O que a individualidade tem que fazer é exatamente convidar as personalidades ainda viciadas e animalizadas, para que "modifiquem sua mente", seu modo de pensar e de encarar a vida.

Não temamos ombrear com os "pecadores" e transviados; não fujamos de sua companhia; não recusemos banquetear-nos à sua mesa; pois daí poderão advir grandes vantagens para eles e para nós.

Por que, afinal, em que somos nós melhores que eles? Só o pensamento de que somos melhores, já é uma prova de que o não somos: pelo menos ele são humildes, pois sabem que são pecadores, e com isso sintonizam com Deus; e nós, que nos julgamos "melhores", manifestamos nossa vaidade tola, e com isso, dissintonizamos com Deus, que é a Humildade Perfeita.




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Mateus 9:10

E aconteceu que, estando ele em casa sentado à mesa, chegaram muitos publicanos e pecadores, e sentaram-se juntamente com Jesus e seus discípulos.

mt 9:10
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Mateus 9:11

E os fariseus, vendo isto, disseram aos seus discípulos: Por que come o vosso Mestre com os publicanos e pecadores?

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Mateus 9:12

Jesus, porém, ouvindo, disse-lhes: Não necessitam de médico os sãos, mas sim os doentes.

mt 9:12
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Mateus 9:13

Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento.

mt 9:13
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Marcos 2:15

E aconteceu que, estando sentado à mesa em casa deste, também estavam sentados à mesa com Jesus e seus discípulos muitos publicanos e pecadores; porque eram muitos, e o tinham seguido.

mc 2:15
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Marcos 2:16

E os escribas e fariseus, vendo-o comer com os publicanos e pecadores, disseram aos seus discípulos: Por que come e bebe ele com os publicanos e pecadores?

mc 2:16
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Marcos 2:17

E Jesus, tendo ouvido isto, disse-lhes: Os sãos não necessitam de médico, mas, sim, os que estão doentes; eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores.

mc 2:17
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Lucas 5:29

E fez-lhe Levi um grande banquete em sua casa; e havia ali uma multidão de publicanos e outros que estavam com eles à mesa.

lc 5:29
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Lucas 5:30

E os escribas deles, e os fariseus, murmuravam contra os seus discípulos, dizendo: Por que comeis e bebeis com publicanos e pecadores?

lc 5:30
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Lucas 5:31

E Jesus, respondendo, disse-lhes: Não necessitam de médico os que estão sãos, mas, sim, os que estão enfermos;

lc 5:31
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Lucas 5:32

Eu não vim chamar os justos, mas, sim, os pecadores, ao arrependimento.

lc 5:32
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Gálatas 2:11

E, chegando Pedro à Antioquia, lhe resisti na cara, porque era repreensível.

gl 2:11
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Gálatas 2:12

Porque, antes que alguns tivessem chegado da parte de Tiago, comia com os gentios; mas, depois que chegaram, se foi retirando, e, se apartou deles, temendo os que eram da circuncisão.

gl 2:12
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Gálatas 2:13

E os outros judeus também dissimulavam com ele, de maneira que até Barnabé se deixou levar pela sua dissimulação.

gl 2:13
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Gálatas 2:14

Mas, quando vi que não andavam bem e direitamente conforme a verdade do evangelho, disse a Pedro na presença de todos: Se tu, sendo judeu, vives como os gentios, e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?

gl 2:14
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