Sabedoria do Evangelho - Volume 2

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CAPÍTULO 8

ESPANTO DOS DISCÍPULOS

JO 4:27-38


27. Nisto chegaram seus discípulos, e admiraram-se de que estivesse falando com uma mulher; ninguém, todavia lhe perguntou: "que procuras ou que falas com ela"?


28. A mulher deixou o cântaro, foi à cidade e disse aos homens:


29. "Vinde ver um homem que contou tudo o que fiz: será este, porventura, o Cristo"?


30. Saíram da cidade e vieram ter com ele.


31. Entretanto os discípulos lhe rogavam dizendo: "Rabi, come"!


32. Mas ele lhes respondeu: "Eu tenho para comer um manjar que vós não sabeis".


33. Os discípulos, pois, diziam uns aos outros: "Será que alguém lhe trouxe de comer"?


34. Disse-lhes Jesus: "Meu alimento é fazer eu a vontade daquele que me enviou, e completar sua obra.


35. Não dizeis vós: "ainda quatro meses e chegará a ceifa"? Pois eu vos digo: "Erguei vossos olhos e contemplai estes campos, que já estão brancos para a ceifa".


36. O ceifador recebe salário e ajunta fruto para a vida imanente, a fim de que ambos, ele o semeador, juntamente se regozijem.


37. Porque nisto é verdadeiro o ditado: "Um é o que semeia, e outro o que ceifa".


38. Eu vos enviei a colher aquilo em que não tendes trabalhado; outros trabalharam, e vós entrastes em seu trabalho".

Recordemos que, com Jesus, havia apenas cinco discípulos: os irmãos Pedro e André, João, Natanael e Filipe. Não era o "colégio apostólico", que não fora constituído. Acompanhavam a Jesus sem compromisso formal, tanta que voltaram a seus afazeres na barca. Pouco mais tarde é que Jesus os convoca oficialmente, para o serviço ativo do "reino".

A samaritana, impressionada com as palavras de Jesus, corre a dizê-lo à população, sempre com aquele típico exagero feminino: "contou-me TUDO o que fiz" ...

Mas, depois que saíra esbaforida, deixando até a ânfora ao pé do poço, pois podia-lhe estorvar a caminhada, vêm as explicações de Jesus aos discípulos, espantados de vê-Lo a entreter-se interessadamente com uma mulher e, ainda por cima, "samaritana" ... Esse reparo não deve fazer-nos supor que Jesus fosse um misógino, isto é, que tivesse aversão ou horror às mulheres. Nada disso: por onde ia, acompanhavao um grupo de mulheres para servi-Lo, talvez até contando-se entre as que O acompanhavam suas irmãs (Joana, Maria e Salomé?) A admiração provém do fato de Jesus, um Rabbi, entreter-se publicamente com uma mulher do povo e desconhecida. Também não se refere, como dizem alguns comentadores, à "má vida" da samaritana, que deles não era conhecida; mesmo porque, embora tivesse mudado "de marido", não era absolutamente o que pudesse chamar-se mulher "pública". Bem longe disso.

Mas os discípulos respeitaram a atitude do Mestre, e nenhum deles ousou, como anota o evangelista interrogá-Lo" e, muito menos, criticá-Lo (como é tão comum hoje em todos os círculos espiritualistas: se um elemento aborrece ou tem raiva de alguém, todos acham muito natural; mas se gosta de alSABEDORIA DO EVANGELHO guém, chovem as críticas e todos se afastam; e no entanto, ele cumpre a lei do amor! A humanidade está muito atrasada, realmente).

Embora houvesse pedido água, por estar com sede, Jesus recusa comer: não sente mais o vazio do apetite material, pois a satisfação de seu espírito se estendera a todos os veículos, até mesmo no físico.

O Amor também alimenta! O desejo, não: até aumenta o apetite. Mas o Amor é saciedade e, por ser tal, satisfaz totalmente.


Os discípulos não compreenderam a causa. Alguém, talvez a própria mulher, Lhe teria trazido de comer

? Jesus explica: o alimento principal do Espírito é fazer a vontade Daquele que O enviou. Mais tarde ensinaria "procurai em primeiro lugar o reino de Deus e Sua justiça e tudo o mais vos será dado por acréscimo" (Mt. 6:33).

Depois vem uma lição de profundidade, otimamente colhida no panorama que se estendia a seus pés no vale, talvez provocada pela observação de um dos discípulos: "ainda quatro meses e chegará a ceifa".

A planície, contemplada do alto, devia aparecer pejada de espigas nos trigais, que começavam a amadurecer aos mais ardorosos sóis da primavera, que já se preparava para o verão, num exuberante junho palestinense. Note-se que, nessa região, ao invés de amarelecer como na Europa, o trigo assume uma tonalidade branquiça.

"Olhem, pois, e vejam que já está esbranquiçando o trigo, que está quase maduro". E daí à lição do ceifador, que se empregava por tarefa para a colheita. Na realidade, o provérbio "um semeia e outro colhe" provinha justamente do fato de que, para as colheitas, eram contratados trabalhadores de fora, afim de que fosse ela completada dentro do prazo oportuno, sem correr o risco de estragar-se no pé.

O ceifador colhe, mediante salário, o que o semeador plantou, e ajunta no celeiro para o futuro. Assim na vida espiritual, a colheita é feita para a Vida Imanente, no Reino dos Céus.

E Jesus termina: "eu vos enviei a colher num campo em que não trabalhastes: vós entrastes no trabalho dos outros". Referia-se à longa e penosa plantação que durante séculos e milênios vinha sendo feita na Terra pelos Manifestantes divinos, pelos Profetas, Mestres e Filósofos por todos os homens de Deus que aqui chegavam para preparar a humanidade para o grande passo.

Na época de Jesus, o Governador do Planeta escolhera alguns dos Espíritos mais aptos ao lançamento e à propagação de Sua doutrina e, a não ser João Evangelista, cujo espírito havia vivificado a personalidade de Samuel o profeta, parece que os outros não pertenciam realmente àquela estirpe de mestres espiritualizados. Com efeito, além de João, somente Pedro, do colégio dos doze, deixou marca indelével na propagação do cristianismo. De Levi conhecemos apenas o Evangelho; de André, Bartolomeu (Natanael), Judas Tadeu, Simão Zelotes, Tomé nada praticamente sabemos que tenham feito, para garantirlhes posição de destaque; de Filipe, um aceno em Atos; de Tiago sabemos que um deles foi decapitado logo após a morte de Jesus e do outro que foi inspetor em Jerusalém durante alguns anos.

Homens comuns, corajosos e trabalhadores, mas que ficavam a uma distância incalculável de um místico profundo como João, de um teólogo intelectualizado como Paulo, e de um administrador entusiasta como Pedro.

Argumentam alguns que a assertiva de Jesus é ponderoso argumento contra a reencarnação: os apóstolos (dizem) DEVIAM TER SIDO (caso houvesse reencarnação) os mesmos espíritos que animaram os profetas e enviados anteriores. Então, eles mesmos teriam plantado, e eles mesmos teriam vindo colher. Mas Jesus afirma categoricamente "VÓS colheis o que OUTROS plantaram".


Respondemos:

I. em primeiro lugar, se sabemos que o espírito de João viveu como Samuel, nada sabemos dos outros, e o que realizaram não deu a entender que tivessem provindo dessa estirpe (embora nada impeça que o tenham sido);

II. além disso as pessoas dos discípulos (que colhiam) nada tinha que ver com as pessoas dos profetas (que haviam plantado). E durante a encarnação, salvo raras exceções, a consciência indi vidual só está desperta na personalidade (consciência atual). Realmente, novas personalidades colhiam o que outras personalidades haviam plantado;

III. aprofundando mais, e levando para o terreno das individualidades eternas, que seriam realmente as mesmas (caso eles tivessem sido os profetas) não foi o plantio feito propriamente pelos profetas - simples médiuns ou intermediários - mas pelos mestres e pelos sumos sacerdotes de antanho: Abraão, Isaac, Jacó, Moisés, Aarão, etc., cujos ensinamentos (plantio) era comentado pelos profetas;

IV. e mais: os "semeadores" somavam várias centenas: os "ceifadores" seriam apenas doze; de qualquer forma, mesmo que também eles tivessem participado da sementeira, não tinham sido os únicos semeadores.

Então, de qualquer forma, eles "entravam" no trabalho dos outros.

Depois de toda expansão interna, a Alma Vigilante abandona tudo o que é material: larga o cântaro, e sai a correr, para fazer a todos partícipes de sua felicidade. E declara aos que encontra, que descobriu o Cristo (Interno), aquele que sabe e lhe disse tudo o que fez; aquele que conhecia sua vida mais do que ela mesma. E os que podiam interessar-se acorreram a ela, para que ela, que já descobrira os segredos do Caminho, os levasse ao Cristo. Foi o que ela fez.

Enquanto isso, os discípulos vão oferecer-Lhe outros manjares, que Ele recusa: estava alimentado de Amor, saciado de felicidade, pois desposara mais uma de suas criaturas.

A anotação do evangelista é bem típica: os "discípulos" se admiram de vê-Lo a falar com uma mulher.


Vimos o que representavam os discípulos, na lição profundamente simbólica (veja pág. 155 do volume

1. º): justamente aqueles que ainda estão apegados à personalidade, preparando-se para o Mergulho Profundo. Os que estão nesse ponto evolutivo, (que já saíram da "animalidade", mas ainda não penetraram a "individualidade"), esses com facilidade se admiram e "escandalizam" diante do Amor, embora sabendo que a LEI é AMAR ... Se encontram dois seres no caminho da espiritualidade que "e antipatizam, que se criticam, que se odeiam, acham natural e normal: é humano! Mas se encontrarem dois que SE AMAM, o escândalo é imenso, e todos fogem apavorados porque... eles cumprem a Lei do Amor de Cristo! Bem típica a anotação do evangelista!

Jesus aproveita a circunstância para dar lições maravilhosas.

Como apaixonado pela numerologia, mais uma vez encontramos um ensinamento de João baseado nessa ciência, apresentando uma oposição: "VÓS DIZEIS, ainda quatro meses para a colheita". O arcano quatro exprime a lei da causalidade, ou seja, a ação da cadeia dos fenômenos ligados entre si; no plano divino, é o Sagrado Tetragrama YHWH que produziu, como causalidade, o mundo; no plano humano é a expressão do resultado das ações, simbolizado no quaternário inferior (personalidade), representado pela cruz do corpo do homem físico, com a "prisão" do material denso (forma), do etérico (sensações), do astral (emoções) e do mental concreto (intelecto). A doutrina dos discípulos era de que a raça humana ainda não estava apta à união com o divino, precisando de muito trabalho externo (ritos, liturgias, etc.), para "queimar primeiro o carma das ações pretéritas; por isso afirmam que" ainda faltam quatro meses para a colheita". Realmente, apesar de todos os ensinos e exemplos de Jesus, seus discípulos enveredaram por essa trilha, dando à humanidade (salvo raríssimas exceções), apenas os meios de resgatarem carmas mediante ações externas.

Mas Jesus opõe-se a eles com Sua doutrina: "pois EU VOS DIGO: erguei os olhos e contemplai os campos (das almas): vede que já estão brancos para a ceifa", estando muitos purificados (brancos), sem mancha. Já é hora, pois, de colher, de levá-las ao Cristo Interno para o Encontro Sublime.

O ceifador, isto é, aquele que colhe os frutos de sua sementeira, recebe o prêmio (salário) das obras praticadas e ajunta frutos para a Vida Imanente, ampliando o celeiro de seu coração, para nele recolher o Amor e expandí-lo de tal forma, que ele, o ceifador (o Espírito) e o semeador (o "espírito" ou personalidade), ambos juntamente se regozijem.

E o Mestre confirma o ditado: "um é o que semeia, outro o que colhe". Com efeito, a personalidade semeia na Terra suas ações boas e más, entretanto é a individualidade que colhe os frutos doces ou amargosos. A personalidade esforça-se, estuda, aprende, semeando em si mesma a cultura, mas a individualidade é que colhe os resultados do conhecimento armazenado durante séculos. A personalidade semeia as experiências de suas numerosas e multifárias especializações, mas a individualidade recolhe e aproveita o aprendizado e a evolução.

Daí ter o Cristo Interno enviado seus discípulos, no papel de individualidades em desenvolvimento, para entrar no trabalho das personalidades anteriores, aproveitando o que elas executaram e aprenderam no decurso de suas vidas múltiplas e sucessivas.




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João 4:27

E nisto vieram os seus discípulos, e maravilharam-se de que estivesse falando com uma mulher; todavia nenhum lhe disse: Que perguntas? ou: Por que falas com ela?

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João 4:28

Deixou pois a mulher o seu cântaro, e foi à cidade, e disse àqueles homens:

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João 4:29

Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito: porventura não é este o Cristo?

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João 4:30

Saíram pois da cidade, e foram ter com ele.

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João 4:31

E entretanto os seus discípulos lhe rogaram, dizendo: Rabi, come.

jo 4:31
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João 4:32

Porém ele lhes disse: Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis.

jo 4:32
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João 4:33

Então os discípulos diziam uns aos outros: Trouxe-lhe porventura alguém de comer?

jo 4:33
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João 4:34

Jesus disse-lhes: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar a sua obra.

jo 4:34
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João 4:35

Não dizeis vós que ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Eis que eu vos digo: Levantai os vossos olhos, e vede as terras, que já estão brancas para a ceifa.

jo 4:35
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João 4:36

E o que ceifa recebe galardão, e ajunta fruto para a vida eterna; para que, assim o que semeia como o que ceifa, ambos se regozijem.

jo 4:36
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João 4:37

Porque nisto é verdadeiro o ditado, que um é o que semeia, e outro o que ceifa.

jo 4:37
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João 4:38

Eu vos enviei a ceifar onde vós não trabalhastes; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho.

jo 4:38
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