Sabedoria do Evangelho - Volume 3

Versão para cópia
CAPÍTULO 24

A MORTE DO BATISTA

MT 14:6-12


6. Chegado, porém, o aniversário de Herodes, a filha de Herodias dançou de público e agradou a Herodes.


7. Por isso este prometeu, sob juramento, darlhe o que ela pedisse.


8. E ela, instigada por sua mãe, disse: "Dá-me aqui num prato a cabeça de João o Batista".


9. O rei ficou entristecido, mas por causa de seus juramentos e também dos convidados, ordenou dar-lha;


10. e, mandando, decapitou João no cárcere.


11. E foi trazida sua cabeça num prato e dada à mocinha; e ela a levou a sua mãe.


12. Então vieram os discípulos dele, levaram o corpo e o sepultaram; e, partindo eles foram dar a notícia a Jesus.


MC 6:21-29


21. E chegou um dia favorável, quando Herodes em seu aniversário natalício deu um banquete a seus dignitários, aos comandantes militares e aos principais da Galileia.


22. Tendo entrado a filha dessa Herodias, dançou e agradou a Herodes e a seus convidados. Então o rei disse à mocinha: "pede-me o que quiseres e to darei".


23. E jurou-lhe: "eu to darei, ainda mesmo que me peças a metade de meu reino".


24. E ela saiu e perguntou a sua mãe: "Que devo pedir"? Esta respondeu: "A cabeça de João o Batista".


25. Regressando logo depressa para o rei, disse: "Quero que sem demora me dês, num prato, a cabeça de João Batista".


26. O rei ficou muito triste, mas por causa do juramento e também dos convidados não lha quis recusar.


27. Imediatamente o rei enviou um guarda com a ordem de trazer a cabeça de João. Saindo, ele decapitou-o no cárcere,


28. e trouxe a cabeça dele num prato e a deu à mocinha; e a mocinha a deu a sua mãe.


29. Sabendo disso, vieram seus discípulos e levaram o cadáver dele e o depositaram num túmulo.

A narrativa de Mateus segue-se à declaração feita em 14:5, onde é dito que era desejo de Herodes liquidar o Batista; em Marcos a sequência é a mesma; daí dizer-se que "chegou um dia favorável".

O aniversário (no grego "koiné" a palavra genesía substituíra genethlía para exprimir o aniversário natalício) de Herodes deve ter ocorrido em janeiro de 31, quando o tetrarca se achava em sua "villegiatura" de inverno, no castelo de Maquérus, justamente onde se encontrava detido o Batista.

Herodes ofereceu um banquete, ao qual compareceram os que tinham interesse em agradar-lhe: os dignitários dá corte, os comandantes militares (romanos) e as principais figuras da alta sociedade galileia.

Já pelo final do banquete, todos um pouco "tocados" pelos abundantes e generosos vinhos servidos, aparece a dançar a filha "dessa" Herodíades (de que Marcos falara no vers. 19 e voltaria a citar no vers. 24). A apresentação deve ter causado sensação, já que só se dedicavam à dança as profissionais, de vida livre, jamais moças de família e, menos ainda, "princesas".

Segundo Josefo (Ant. Jud. 18, 5, 2), a mocinha se chamava Salomé e devia contar nessa época por volta de 15 anos. Esse autor narra a prisão e morte do Batista, dando-lhe motivo político ("para evitar uma insurreição"), que bem pode ter sido a causa alegada perante o público.

A dança agradou plenamente a todos, mas sobretudo a Herodes, tanto que este a convida a pedir o que quisesse, que ele lho daria, imitando o gesto de Assuero (cfr. Ester 5:2-3,6 e 7:2). Acrescentou que lhe concederia mesmo "metade de seu reino", palavras vazias, pois nenhum reino possuía, já que seu "rei nado" consistia apenas numa simples "tetrarquia", que ele administrava por concessão do Imperador romano.

A mocinha corre à mãe para aconselhar-se e, por instigação dela, solicita-lhe seja entregue "aqui e agora, num prato cabeça de (estava num banquete!) a João Batista".

Quer sinceramente, quer por causa da presença dos convivas, o tetrarca demonstra entristecer-se, mas faz questão de cumprir sua promessa. Dá ordem que o pedido seja imediatamente atendido. Um guarda (Marcos usa um termo latino, spectator, transcrito em letras gregas) resolveu o problema e decapitou João no cárcere, trazendo de volta a cabeça num prato.

A mocinha de 15 anos pegou a bandeja com a macabra encomenda e, na maior naturalidade e calma, entregou-a à mãe, revelando com esse fato possuir nervos de aço que suporíamos difícil hoje, se não conhecêssemos o entusiasmo fanático de tantas mocinhas hodiernas pelas lutas de "box" e de outras pancadarias selvagens. Jerônimo (Patrol. Lat. vol. 23 col. 488), talvez influenciado pela lenda de Fúlvia com Cícero, afirma que Herodíades puxou a língua inerte de João, nela espetando uma agulha de costurar.

Ao saber da notícia, os discípulos vêm apanhar o corpo de seu mestre, para dar-lhe sepultura, embora não se saiba em que lugar o tenham feito.

A decapitação de João Batista foi o resultado cármico de sua ação, quando se manifestava na personalidade de Elias o Tesbita. Leia-se: "Disse Elias: agarrai os profetas de Baal: que nenhum deles escape!

Agarraram-nos. Elias fê-los descer à torrente de Kishon e ali os matou", 1RS 18:40); a morte a eles dada foi exatamente a decapitação: "Referiu Ahab a Jezebel tudo o que Elias havia feito e como matara todos os profetas à espada" (l. º Reis 19:1). Portanto, execução rígida da Lei de Causa e Efeito, confirmando as palavras de Jesus: "todos os que usam a espada, morrerão à espada" (MT 26:52); não nos esqueçamos de que essa Lei é afirmada em mais de 30 lugares do Antigo e Novo Testamentos, sobretudo com a fórmula: "a cada um será dado conforme suas obras".

Aqui apresenta-se-nos um episódio chocante, mas pleno de ensinos.

No primeiro plano observamos o comportamento do homem involuído, ainda materializado, que acredita bastar destruir o corpo de alguém (matá-lo) para libertar-se dele e de suas ideias. Julgamento primário, pois as ideias não morrem e nem sequer a criatura que continua bem viva, somente perdendo seu veículo denso. Mas a ilusão de aniquilar "o inimigo" é total, e satisfaz à ignorância dos seres imaturos.

Aprofundando, verificamos que o homem encarnado (e o desencarnado também), quando ainda materializado demais, quando ainda possua sua tônica no plano astral inferior (animal) das emoções baixas e sensações violentas, dá extraordinário valor a tudo o que excite seus apetites mais grosseiros, que se situam acima de qualquer prazer intelectual (nem se fala dos gozos espirituais...) . Observamos isso no exemplo de Herodes, que tanto se fascinou pela dança de Salomé, que estava disposto a sacrificar até "metade de seu reino", pelo prazer sensual que lhe causaram suas formas físicas em movimentos luxuriosos.

Herodes é o símbolo da humanidade nesse estágio inferior de sensações físicas exacerbadas, pelo qual todos nós passamos (e talvez ainda estejamos passando nos veículos pesados, sujeitos mas rebeldes ao comando do Espírito, que tanta dificuldade encontra em manter-nos em nível mais elevado).

No fato que comentamos, verificamos a ascendência do luxo falso (convite a dignitários e autoridades transitórias, sem levar em conta o valor das individualidades), da gula (banquetes para comemorar eventos alegres, só satisfeitos mediante sensações gustativas), da luxúria (dança sensual excitante de apetites lúbricos). Essa maneira de agir ainda é muito comum, não apenas "nos outros", mas em nós mesmos.

Levados pelas sensações e emoções descontroladas, somos muita vez arrastados a faltar no setor de nossos deveres espirituais, para satisfazer aos apetites inferiores, a fim de agradar à nossa vaidade, à nossa ambição, ao nosso apego a coisas e formas passageiras, mas que nos parecem valiosíssimas e insubstituíveis. Sacrificamos, então, o Espírito à matéria, o Eu eterno às satisfações do eu transitório, e "cortamos a cabeça" de nossa consciência, esperando silenciá-la para sempre.

Observamos ainda, no episódio, que a filha (sensações) pede opinião a mãe (emoções) a respeito do que deve escolher. Realmente são as emoções que governam as sensações e até toda a personalidade imatura. São as emoções que causam os maiores descontroles em nossa vida. Elas levaram Herodes a repudiar a filha de Aletes IV, por preferir Herodíades, conquistada a seu próprio irmão consanguíneo; elas induziram a filha a perturbar a cabeça de Herodes por meio da dança; elas pediram, como vingança, a cabeça de João Batista, sendo sempre obedecidas cega e imediatamente pelas sensações (veja vol. 1, onde se diz que Herodes simboliza o duplo-etérico mais o corpo físico).

Olhando agora sob o prisma de João, verifiquemos o ensino que nos chega através do fato.

Antes de tudo, a lição básica da realidade indiscutível da Lei de Causa e Efeito (carma).

Mas, sendo João o representante da personalidade iluminada ("o maior dentre os filhos de mulher") nele encontramos representado o protótipo de todas as personalidades desse grau evolutivo. O que se passou com o Batista é o que terá que suceder a todos nós.

Tendo ele aceito o "mergulho" (o encontro com "o Cristo"), que ele pregou e realizou às margens do Jordão, viu-se, por isso mesmo, encarcerado no corpo de carne: reconheceu que sua existência terrena não era a verdadeira vida, mas um cárcere, que tinha que ser destruído, para que seu Espírito reconquistasse a liberdade gloriosa dos filhos de Deus. Reconhecendo-o, esperou pela libertação, sabendo de antemão que devia resgatar seus débitos passados.

O golpe de espada, que lhe destruiu o corpo físico, significou, voltando, a dupla libertação de seu Esp írito: a do cárcere de seu corpo e o resgate cármico do erro cometido, quando ele se manifestava através da personalidade de Elias. Nem todas as personalidades, porém, se libertarão através de um golpe de espada física: muitos sofrerão golpes de companheiros, de amigos, de esposos ou esposas, de filhos e pais, que virão cobrar as dívidas do passado, e que, por vezes, fazem sofrer mais do que um seco e rápido talho de afiada espada. Convençamo-nos, entretanto, de que, uma vez na prisão, "daí não sairemos sem haver pago até o último centavo" (MT 5:26).

Todavia, se dos resgates morais e materiais nos não podemos libertar sem efetuar o pagamento, podemos colocar-nos fora do alcance deles, quando passarmos a viver unidos ao Cristo, que nos dá Sua Paz, não a paz do mundo (cfr. JO 14:27); teremos a Paz Interna da tranquilidade absoluta no coração, embora nos assolem as tempestades e furacões de um mundo turbulento em redor de nós, e até investindo contra nós; estaremos unidos ao Cristo "que dorme no fundo do barco durante a ventania", bastando que o despertemos, a fim de permanecermos a Seu lado.

Prosseguindo na meditação, verificamos que, com frequência, o intelecto ou raciocínio ou razão (João) é vencido totalmente pelos veículos inferiores.

Quantas vezes ocorre isso conosco: o corpo etérico e físico (Herodes) viciado na sede de sensações fortes e inéditas, encontra ocasiões de desvio em movimentos desordenados e luxuriosos (dança) de seus nervos excitados (Salomé) e começa a sentir-se dominado e vencido. Entra, então, em entendimentos ilícitos, desejoso de satisfazer-se radicalmente até o fim, perguntando que deve ele dar em troca de mais um prazer desregrado. Há, nesse ínterim, uma consulta à emoção exacerbada (Herodíades), e esta opta pelo assassinato imediato e violento da razão (João Batista) a fim de poder, com seu afastamento, ser atingido o objetivo visado.

Emoções e sensações jamais titubeiam, quando excitados pelos movimentos inferiores (de luxúria, de raiva, de ódio, e ciúme, de inveja, e de quaisquer outros desregramentos). Jamais hesitam em fazer silenciar o raciocínio, para dar vasão a seus instintos inferiores.

A difícil tarefa da evolução consiste exatamente em conseguir-se que o intelecto vença essas fortes correntes baixas, dominando-as com a lógica do bom-senso e com a razão do Espírito.




Acima, está sendo listado apenas o item do capítulo 24.
Para visualizar o capítulo 24 completo, clique no botão abaixo:

Ver 24 Capítulo Completo
Este texto está incorreto?

Veja mais em...

Mateus 14:6

Festejando-se, porém, o dia natalício de Herodes, dançou a filha de Herodias diante dele, e agradou a Herodes.

mt 14:6
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 14:7

Pelo que prometeu com juramento dar-lhe tudo o que pedisse;

mt 14:7
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 14:8

E ela, instruída previamente por sua mãe, disse: Dá-me aqui num prato a cabeça de João Batista.

mt 14:8
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 14:9

E o rei afligiu-se, mas, por causa do juramento, e dos que estavam à mesa com ele, ordenou que se lhe desse.

mt 14:9
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 14:10

E mandou degolar João no cárcere,

mt 14:10
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 14:11

E a sua cabeça foi trazida num prato, e dada à jovem, e ela a levou a sua mãe.

mt 14:11
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 14:12

E chegaram os seus discípulos, e levaram o corpo, e o sepultaram; e foram anunciá-lo a Jesus.

mt 14:12
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Marcos 6:21

E, chegando uma ocasião favorável em que Herodes, no dia dos seus anos, dava uma ceia aos grandes, e tribunos, e príncipes da Galileia.

mc 6:21
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Marcos 6:22

Entrou a filha da mesma Herodias, e dançou, e agradou a Herodes e aos que estavam com ele à mesa; disse então o rei à menina: Pede-me o que quiseres, e eu to darei.

mc 6:22
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Marcos 6:23

E jurou-lhe, dizendo: Tudo o que me pedires te darei, até metade do meu reino.

mc 6:23
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Marcos 6:24

E, saindo ela, perguntou à sua mãe: Que pedirei? E ela disse: A cabeça de João Batista.

mc 6:24
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Marcos 6:25

E, entrando logo apressadamente, pediu ao rei, dizendo: Quero que imediatamente me dês num prato a cabeça de João Batista.

mc 6:25
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Marcos 6:26

E o rei entristeceu-se muito; todavia, por causa do juramento e dos que estavam com ele à mesa, não lha quis negar.

mc 6:26
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Marcos 6:27

E, enviando logo o rei o executor, mandou que lhe trouxessem ali a cabeça de João. E ele foi, e degolou-o na prisão.

mc 6:27
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Marcos 6:28

E trouxe a cabeça num prato, e deu-a à menina, e a menina a deu à sua mãe.

mc 6:28
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Marcos 6:29

E os seus discípulos, tendo ouvido isto, foram, tomaram o seu corpo, e o puseram num sepulcro.

mc 6:29
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Ester 5:2

E sucedeu que, vendo o rei a rainha Ester, que estava no pátio, ela alcançou graça aos seus olhos, e o rei apontou para Ester com o cetro de ouro, que tinha na sua mão, e Ester chegou, e tocou a ponta do cetro.

et 5:2
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Ester 5:3

Então o rei lhe disse: Que é o que tens, rainha Ester, ou qual é a tua petição? Até metade do reino se te dará.

et 5:3
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

I Reis 18:40

E Elias lhes disse: Lançai mão dos profetas de Baal, que nenhum deles escape. E lançaram mão deles: e Elias os fez descer ao ribeiro de Quisom, e ali os matou.

1rs 18:40
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Isaías 19:1

PESO do Egito. Eis que o Senhor vem cavalgando numa nuvem ligeira, e virá ao Egito: e os ídolos do Egito serão movidos perante a sua face, e o coração dos egípcios se derreterá no meio deles.

is 19:1
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 26:52

Então Jesus disse-lhe: Mete no seu lugar a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada à espada morrerão.

mt 26:52
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

Mateus 5:26

Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali enquanto não pagares o último ceitil.

mt 5:26
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa

João 14:27

Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou: não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.

jo 14:27
Detalhes Capítulo Completo Perícope Completa