Sabedoria do Evangelho - Volume 4

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CAPÍTULO 15

REENCARNAÇÃO

Mt 17:10-13


10. Perguntaram-lhe os discípulos dizendo: "Por que então dizem os escribas que Elias deve vir primeiro"?


11. Respondendo, Jesus disse: "Sem dúvida Elias vem primeiro e restaurará todas as coisas;


12. mas eu vos digo que Elias já veio e não o conheceram, antes fizeram com ele tudo o que quiseram; assim também o Filho do Homem há de padecer por parte deles".


13. Então os discípulos entenderam que lhes falara a respeito de João Batista.


MC 9:10-13


10. E guardaram essa palavra, discutindo entre si o que seria ter sido levantado dentre os mortos.


11. Então lhe perguntaram dizendo: "Como é que os escribas dizem que Elias deve ter vindo primeiro"?


12. Respondendo, disse-lhes: "Elias, tendo vindo primeiro, restauraria todas as coisas e (como está escrito do Filho do Homem) padeceria muitas coisas e seria rejeitado;


13. mas digo-vos que (tal como está escrito a respeito dele) também Elias veio e fizeram a ele tudo o que queriam.

Aqui temos um dos ensinos mais claros e explícitos de Jesus, mas há dois milênios vem ele sendo premeditadamente mal interpretado. Pensadamente se torce a doutrina explicada pelo Mestre, para adaptá-la às próprias convicções e aos convencionalismos ditados pela falta de conhecimento da realidade.

São então trazidos à balha nos comentários de hermeneutas e exegetas, os mais deslavados sofismas, que contradizem frontalmente o texto.

Reconstituamos a cena, tal como está narrada pelos dois evangelistas.

Em Marcos, encontramos a causa que provocou a pergunta. Tinham os discípulos gravado na memória a proibição de Jesus e, a esse respeito, vinha sendo mantida acesa discussão a propósito da frase: ter-se levantado dentre os mortos" (veja-se o estudo de anístêmi, "levantar-se", no vol. 3).

Apesar da discussão, não se fez a luz e não chegaram eles a uma conclusão satisfatória.

Com efeito, havia muitos dados que pareciam contraditórios entre si. Malaquias previra o retorno de Elias à Terra, antes do Messias, na qualidade de Seu precursor. Jesus declarara (MT 11:14) a respeito de João Batista, então encarnado: "e se quereis aceitá-lo, ele mesmo (João) é o Elias que tinha que vir" (Convém ler todo o comentário do vol. 3). Mas, logo após, João Batista fora retirado da cena, decapitado.

Agora, mais uma complicação surgira: eles acabavam de ver e ouvir Elias, com a forma de Espírito. Como explicar-se ali a presença de Elias? Elias não havia renascido na pessoa de João Batista? E então, por que apareceu Elias, e não o Batista? E havia mais: se estava previsto que a missão de Jesus chegava ao fim (assunto tratado durante a visão, confirmando as palavras anteriores de Jesus), não haveria tempo suficiente para que Elias reencarnasse e viesse "preparar o caminho para o Senhor".

De fato, a confusão era procedente e eles resolveram interpelar o Mestre, expondo-Lhe suas dúvidas numa pergunta que as englobasse: "como dizem os escribas que Elias deve vir primeiro" (dei elthein prôton)?

Jesus aceita e ratifica o ensino dos escribas baseado nas Escrituras: não há dúvida de que Elias vem antes. Eis as respostas com suas variantes nos dois Evangelhos: Mateus: "Sem dúvida Elias vem (érchetai, presente do indicativo) e restaurará todas as coisas.

Mas eu vos digo que ELIAS JÁ VEIO e não o conheceram, mas fizeram com ele tudo o que quiseram: assim também o Filho do Homem há de padecer da parte deles".

Marcos: "Com efeito, tendo vindo primeiro, Elias restauraria todas as coisas e (como também está escrito do Filho do Homem) padeceria muitas coisas e seria rejeitado. Mas digo-vos que (tal como está escrito a respeito dele) também ELIAS VEIO e fizeram-lhe tudo o que queriam.

Mesmo assim confuso, o sentido do texto de Marcos concorda com o sentido do de Mateus em suas linhas básicas: ELIAS JÁ VEIO e, não tendo sido reconhecido, foi assassinado o Mas Elias JÁ VEIO.

Após essa resposta incisiva, os raciocínios se aclararam: eles haviam degolado "Elias", quando degolaram João Batista, e por isso Elias apareceu em espírito. De fato, o Espírito não morre. Só morre a personalidade terrena, única que recebe um nome. A conclusão é óbvia: o Espírito (individualidade) é um só, que vivifica sucessivamente várias personagens. O mesmo Espírito, pois, vivificara Elias e, novecentos anos depois, vivificara a personagem João Batista. Assim sendo, o Espírito era o mesmo, e podia apresentar-se com qualquer das duas formas, a seu gosto: ou Elias, ou João Batista.

Tudo se esclarecia definitivamente e "os discípulos entenderam finalmente que, quando Jesus lhes falara de Elias, Ele se referira a João Batista, nova encarnação de Elias".


E foi assim que o compreendeu Gregório Magno que vamos repetir "Em outro passo o Senhor, interrogado pelos discípulos sobre a vinda de Elias, respondeu: Elias já veio (MT 17:12: MC 9:12) e, se quereis aceitá-lo, é João que é Elias (MT 11:14). João, interrogado, diz o contrário: eu não sou Elias (JO 1:21). É que João era Elias pelo Espírito (individualidade) que o animava, mas não era Elias em pessoa (personagem). O que o Senhor diz do Espírito, João o nega da pessoa" (Greg. Magno, Homilia

7 in Evang., Patrol. Lat. vol. 76, col. 1100).

O sentido desse esclarecimento dado pela individualidade (Jesus) ao intelecto e às emoções da personalidade (Pedro-Tiago-João) é o exemplo do que ocorre com todos os que se aproximam das realidades espirituais.

Muita coisa existe que o intelecto (mesmo iluminado) e as emoções recusam aceitar. Nesse mesmo trecho temos a comprovação disso: há quantos séculos obstina-se a humanidade em não aceitar a lição dada, só porque, vivendo presa à personalidade, seus intelectos não percebem a realidade profunda?

E no entanto, centenas de intelectuais privilegiados leram o trecho e o comentaram, mas sempre baseados nos raciocínios horizontais da personagem humana limitada. Por isso é tão difícil convencer aqueles que, encarcerados na personalidade - cujo eu unicamente conhecem - não conseguem perceber nada além do que os sentidos lhes fornecem, e recusam a luz do Espírito.

Quando, todavia, se dá o contato com o Espírito, esse mostra ao intelecto o FATO, e o intelecto imediatamente VÊ, PERCEBE e ENTENDE as coisas, sem necessidade de fazê-las passar pelo crivo do raciocínio e pelo filtro das emoções. A visão é global, interiça, total.

Nessa elucidação de Jesus, as palavras foram poucas, mas o alcance do Intelecto, que acabava de ter tido o contato, foi completo: "entenderam que lhes falava de João Batista". Entenderam. Perceberam.

Viram. Nada mais lhes era necessário. A intuição estava absorvida, a convicção era indiscutível, o Espírito penetrara no intelecto, e o intelecto "entrara no reino dos céus", vendo, "não mais através de um vidro obscuro, mas face a face, não mais por partes, mas englobadamente" (1. ª Cor. 13:12).

Natural e compreensível a recusa daqueles que vivem na personalidade, de aceitar as visões espirituais: um plano se opõe ao outro em pólos opostos. Quem está e vive preso aos sentidos físicos, quem só raciocina intelectualmente, é como "a criança, que fala como criança, pensa como criança, raciocina como criança; mas quando eles se tornarem Homens, abandonarão os modos de ver das crianças" (l. ª Cor. 13:11). Ora, como pretender que a criança cresça repentinamente e de imediato raciocine como pessoa adulta? Como pretender que a personalidade de inopino atinja a individualidade? Só o tempo (que "é o ritmo evolutivo", no dizer de Pietro Ubaldi) é que poderá resolver o caso e amadurecer os frutos. Aguardemos com paciência que a Humanidade e seus dirigentes, políticos e espirituais, se tornem adultos, e tudo será mais fácil.




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Mateus 17:10

E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Por que dizem então os escribas que é mister que Elias venha primeiro?

mt 17:10
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Mateus 17:11

E Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro, e restaurará todas as coisas;

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Mateus 17:12

Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do Homem.

mt 17:12
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Mateus 17:13

Então entenderam os discípulos que lhes falara de João Batista.

mt 17:13
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Marcos 9:10

E eles retiveram o caso entre si, perguntando uns aos outros que seria aquilo, ressuscitar dos mortos.

mc 9:10
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Marcos 9:11

E interrogaram-no, dizendo: Por que dizem os escribas que é necessário que Elias venha primeiro?

mc 9:11
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Marcos 9:12

E, respondendo ele, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro, e todas as coisas restaurará; e, como está escrito do Filho do homem, que ele deva padecer muito e ser aviltado.

mc 9:12
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Marcos 9:13

Digo-vos, porém, que Elias já veio, e fizeram-lhe tudo o que quiseram, como dele está escrito.

mc 9:13
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Mateus 11:14

E, se quereis dar crédito, é este o Elias que havia de vir.

mt 11:14
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João 1:21

E perguntaram-lhe: Então quê? És tu Elias? E disse: Não sou. És tu profeta? E respondeu: Não.

jo 1:21
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