Sabedoria do Evangelho - Volume 4

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CAPÍTULO 29

DISCÍPULOS CONVIDADOS

MT 8:19-22


19. E chegando um escriba, disse-lhe; "Mestre, seguir-te-ei para onde quer que fores".


20. E disse-lhe Jesus: "As raposas têm covis e as aves do céu, pousos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça".


21. Outro dos discípulos disse-lhe: "Senhor, deixa-me ir primeiro enterrar meu pai".


22. Porém Jesus disse-lhe: "Segue-me, e deixa os mortos enterrarem os seus próprios mortos".


LC 9:57-62


57. Enquanto estavam indo pela estrada, disselhe alguém: "Seguir-te-ei para onde quer que fores".


58. Jesus disse-lhe: "As raposas têm covis e as aves do céu, pousos; mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça".


59. A outro disse: "Segue-me". Ele, todavia, respondeu: "Deixa-me ir primeiro enterrar meu pai".


60. Retrucou-lhe Jesus e disse: "Deixa os mortos enterrarem os seus próprios mortos; tu porém vai, anuncia o reino de Deus".


61. Disse-lhe ainda outro: "Seguir-te-ei, Senhor; mas deixa-me primeiro despedir-me dos que estão em minha casa".


62. Respondeu-lhe Jesus: "Ninguém que olhe para trás depois de ter posto a mão no arado, é apto para o reino de Deus".

Nesta lição, privativa de Mateus e Lucas, podemos aprender o modo como devemos encarar a relação entre Mestre e discípulos.

O primeiro caso é de alguém (Mateus esclarece tratar-se de um escriba, profissão recrutada entre os fariseus), que espontaneamente se propõe a seguir Jesus, para onde quer que ele vá.

Qual seria sua intenção profunda? Jerônimo o acusa de "aproveitador": ut lucra ex operum miraculis quaereret (Patrol. Lat. v. 26 c. 53), isto é, "procurava lucros dos milagres operados". Mas isso é julgamento leviano e acusação graciosa. Duas hipóteses apresentam-se plausíveis; ou ele pretendia realmente ser discípulo para progredir (e neste caso a resposta de Jesus não o desanimaria); ou seu desejo era seguí-lo para escrever as lições que ele dava, quer para seu uso, quer para cedê-las a quem as desejasse, quer para levá-las aos fariseus, quer para "empregar-se", mediante pagamento, para exercer sua profissão.

Jesus limita-se a uma resposta que, no fundo, constitui uma recusa: ele não tem pousada fixa, não disp õe de um leito. Como empenhar-se em despesas com alguém? Não tendo conforto para si, não podia dispensá-lo a outrem. E o caso encerrou-se aí.

Mas o final é-nos desconhecido. Teria ele aceito as condições e acompanhado Jesus? Teria desanimado e se retirado? Tratar-se-ia de um dos doze por exemplo, Judas 1scariotes, cujo chamamento não aparece nos Evangelhos, e cujo ingresso no Colégio Apostólico talvez tenha sido por espontânea vontade?

O fato de só mais tarde aparecer o caso, depois de ter sido ele citado como discípulo nada imSABEDORIA DO EVANGELHO porta. Pode o evangelista só havê-lo recordado mais tarde e, desejando que não fosse esquecida a resposta do Mestre, tê-la registrado mesmo fora da ordem cronológica.

O segundo caso é diferente: trata-se de um chamado positivo de Jesus: "segue-me"! O discípulo convocado ao serviço solicita um adiamento: "deixa me primeiro enterrar meu pai". Que significado pode ter essa frase? Podia tratar-se de um pai idoso, e o discípulo, querendo obedecer ao mandamento "honrar pai e mãe", pede para atender ao pai, aguardando que ele passe para o outro lado da vida: sentir-seia então livre para seguir o Mestre. Podia tratar-se, ainda, de um caso real, de morte realmente ocorrida, e á espera para o sepultamento seria coisa de um a dois dias. Entretanto, pela resposta de Jesus, parece mais viável a primeira hipótese; "deixa que os mortos (encarnados) enterrem (cuidem) de seus mortos (encarnados); tu, porém, entrega-te à pregação do reino de Deus". Teria ele ido? Ou teria preferido ficar com o pai? Também aqui os evangelistas não esclarecem, deixando livre campo às especulações. Cirilo de Alexandria (Patrol. Graecav- 8. c. 1
129) diz tratar-se do diácono Filipe (AT 6:5). Mas nenhuma prova aduz dessa opinião, que talvez fosse resultante de uma tradição corrente no Egito. Ora, Filipe foi o mistagogo do ministro da rainha Candace, da Etiópia (A-l8:27), país limítrofe do Egito.

O terceiro caso, apresentado apenas por Lucas, também parece ter sido a resposta a um chamado do Mestre. Ele aceita a tarefa, mas quer despedir-se dos seus. A resposta é dura: "se queres vir já, estás apto ao discipulato; mas se voltares os olhos para trás, não serves" (cfr. GN 19:26). A comparação com o lavrador procede: se quem guia o arado olha para trás, o sulco sai torto (cfr. Filp. 3:13-14).

Através de Jesus, o Cristo já manifestara as condições por Ele exigidas, para a aceitação de Seus discípulos amados. Esse ensino é agora exemplificado com três casos específicos, a fim de demonstrar a superioridade da união crística sobre três situações distintas e que, de modo geral, são as mais aduzidas para recusar-se o passo decisivo: e isso porque são três situações em que o homem tem a impressão de que se trata de três deveres fundamentais: o dever para consigo mesmo, o dever para com os genitores e o dever para com os familiares.

Cristo anula os três: o dever máximo diz respeito ao Espírito eterno, não à matéria transitória.

Por conseguinte, o ensino é dirigido para esclarecer que nem as obrigações para com o próprio corpo, nem para com os pais, nem para com esposa e filhos devem afastar o candidato do caminho espiritual.

O exemplo dado é o vivido pela personagem humana Jesus, que não tinha "uma pedra sequer para repousar a cabeça". E a lição prossegue com duas regras básicas: os vivos no Espírito não devem preocupar-se com os mortos na carne, isto é, os que vivem na individualidade, não podem prenderse a laços puramente carnais e sanguíneos (corpo físico e duplo etérico), mas à família espiritual divina (cfr. EF 2:19). Dirá ainda que é mister amá-lo mais que ao pai, à mãe, à esposa, aos filhos (cfr. LC 14:26 ou MT 10:37, vol. 3. º) para ser digno de dizer-se Seu discípulo.

Claro, portanto, o ensinamento, no plano místico.

No campo das iniciações, encontramos nesta lição três condições indispensáveis para a dedicação ao Caminho. São três das provas essenciais a superar quando se tem que passar do quarto para o quinto grau. A modificação da mente com transmentação requer desapego. Não é bem o caso do abandono ou de fuga, mas de não prender-se, de não inverter a ordem dos valores, de não julgar mais importante o que é menos importante.

Além disso, o pretendente ao quinto grau deve saber que não pode dar importância ao física próprio, nem ao alheio; que os profanos com seus hábitos, crenças, convencionalismos e preconceitos devem ser deixados a homenagear-se entre si; e que, finalmente, uma vez passado o quarto grau não pode mais voltar atrás! Esse é um passo decisivo: dado à frente, não há recuo possível. Mister, pois, meditar bem, examinar-se, medir as próprias forças, antes de arriscar-se. Uma queda depois, uma desistência, um "olhar para trás" saudoso, podem trazer consequências graves que talvez durem séculos.

Daí o provérbio latino corruptio optimi; pessima: " a queda do melhor, é a pior".

Cuidado portanto: não alimentar pretensões que não correspondam às possibilidades; não buscar provas acima das forças reais, não dar passos maiores que as pernas; "não por o chapéu onde a mão não alcança" ...

Deixe-se de lado a vaidade, o desejo de "parecer" aos outros mais do que se é realmente, de enganarse a si mesmo, julgando-se gigante quem ainda é pigmeu. Comedimento justo é melhor que desabalada corrida, arriscando-se a quedas fragorosas. A estrada do Espírito é árdua, íngreme, estreita, pavimentada de pedras pontiagudas e ladeadas de espinheiros: é preciso coragem e decisão inabalável, com prévio conhecimento das próprias capacidades.






FIM





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Mateus 8:19

E, aproximando-se dele um escriba, disse: Mestre, aonde quer que fores, eu te seguirei.

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Mateus 8:20

E disse Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu têm ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.

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Mateus 8:21

E outro de seus discípulos lhe disse: Senhor, permite-me que primeiramente vá sepultar meu pai.

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Mateus 8:22

Jesus, porém, disse-lhe: Segue-me, e deixa aos mortos sepultar os seus mortos.

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Lucas 9:57

E aconteceu que, indo eles pelo caminho, lhe disse um: Senhor, seguir-te-ei para onde quer que fores.

lc 9:57
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Lucas 9:58

E disse-lhe Jesus: As raposas têm covis, e as aves do céu ninhos, mas o Filho do homem não tem onde reclinar a cabeça.

lc 9:58
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Lucas 9:59

E disse a outro: Segue-me. Mas ele respondeu: Senhor, deixa que primeiro eu vá a enterrar meu pai.

lc 9:59
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Lucas 9:60

Mas Jesus lhe observou: Deixa aos mortos o enterrar os seus mortos; porém tu vai e anuncia o reino de Deus.

lc 9:60
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Lucas 9:61

Disse também outro: Senhor, eu te seguirei, mas deixa-me despedir primeiro dos que estão em minha casa.

lc 9:61
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Lucas 9:62

E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é apto para o reino de Deus.

lc 9:62
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Atos 6:5

E este parecer contentou a toda a multidão, e elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo, e Filipe, e Prócoro, e Nicanor, e Timão, e Parmenas e Nicolau, prosélito de Antioquia;

at 6:5
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Gênesis 19:26

E a mulher de Ló olhou para trás e ficou convertida numa estátua de sal.

gn 19:26
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Efésios 2:19

Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos Santos, e da família de Deus;

ef 2:19
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Lucas 14:26

Se alguém vier a mim, e não aborrecer a seu pai, e mãe, e mulher, e filhos, e irmãos, e irmãs, e ainda também a sua própria vida, não pode ser meu discípulo.

lc 14:26
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Mateus 10:37

Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim.

mt 10:37
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