Sabedoria do Evangelho - Volume 5

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CAPÍTULO 23

PRODUZIR FRUTOS

LC 13:6-9


6. Dizia então esta parábola: "Alguém tinha uma figueira plantada em sua vinha e veio procurando fruto nela, e não achou.

7. Disse, então, ao viticultor: há três anos venho procurando fruto nesta figueira e não acho; corta-a, pois. Para que deixar inativa a terra?

8. Respondendo, disse-lhe ele: Senhor, deixa-a ainda este ano, até que eu cave em torno dela e ponha adubo, e certamente dará fruto no futuro; mas se não, cortá-la-ás".



Logo a seguir dos exemplos e do apelo para a "mudança da mente", é narrada uma parábola que sublinha o ensino, fazendo ver não apenas a necessidade de fazê-lo, produzindo bons frutos, como a urgência de ser tomada essa atitude.

Na Palestina era comum plantarem-se outras árvores nos vinhedos, a fim de bem aproveitar o terreno, fazendo-o produzir o máximo. Daí a frase que afirma estar a figueira "tornando inútil o terreno" (katargeín).

O viticultor pede um prazo de mais um ano, para tentar levá-la a produzir. Talvez se tratasse de uma figueira silvestre, na qual as flores não chegam ao amadurecimento, caindo todas (não esqueçamos que o figo não é uma fruta, mas uma "flor inclusa", isto é, fechada em si mesma). O prazo é concedido, mas com a ressalva de que é a última oportunidade.

A parábola é atribuída, pelos exegetas, aos judeus, sendo Deus o senhor da vinha, Jesus o viticultor.

Por solicitação deste, foi concedido um adiamento do corte, e ele próprio desceu à Terra para ajudar a figueira. Mas, nada tendo conseguido, deu-se o corte no ano 70, com a grande matança do povo israelita e a destruição de Jerusalém.

Mas há outras lições importantíssimas, nessa pequena parábola.

A - No campo humano - Três períodos foram aguardados, para que a criatura modificasse sua mente e produzisse frutos. Após essas três oportunidades (reencarnações) o "mentor" solicita para seu tutelado mais um ensejo, em que lhe proporcionará todos os cuidados: ambiente de nascimento ou de frequência posterior, amizades boas e cultas, círculo de espiritualistas em seu redor, às vezes uniões sentimentais com pessoas de elevada espiritualidade e bondade, filhos evoluídos, meios de estudo e progresso, etc., representando o "adubo" da parábola. Se nada for conseguido, terá que voltar a Terra por sua conta e risco, porque o crédito conseguido terminou.

B - No campo evolutivo - podemos considerar o quarto ano, como uma descida na matéria (crucificação no corpo físico), já que a mudança da mente não está sendo conseguida.

C - No campo iniciático - pode esperar-se por três períodos, no máximo concedendo mais um, ao candidato que não conseguiu a metánoia. Se depois disso nada for obtido, deve seguir-se o convite para sair da Escola. Nesse adiamento, serão redobrados os esforços do Mestre, para ver se consegue o avanço do iniciando.

D - No campo do ocultismo - Alerta-nos esse jogo de três anos mais um (= quatro) para aprofundar o sentido oculto. Entre os arcanos (cfr. Serge Marcotoune, "La science secrete des Initiés", Paris, 1928), o QUATRO pode exprimir: no plano divino, o "Formador", isto é, o Demiurgo, que é representado exatamente pelo viticultor, que se propõe formar os mundos humanos e elevá-los gradativamente a níveis superiores, embora encontre humanidades rebeldes e improdutivas. Se nada obtiver no número previsto de períodos (três, número perfeito), pode conceder a essa humanidade um adiamento, envi ando-lhe mais profetas e avatares. Nada obtendo, a humanidade será ou destruída ou transferida para outro planeta mais atrasado. No plano humano, o arcano QUATRO exprime "o que é recebido", ou "o resultado das receptividades e da atividade que se manifestaram no terceiro plano". Precisamente o que é narrado na parábola: os três primeiros "anos" de atividade não tendo chegado a um resultado satisfatório, no quarto deve apurar-se o tratamento, para ver se se consegue algum fruto. No plano da natureza, o arcano QUATRO exprime a objetivação concreta de toda formação ou fecundação: só no quarto ano se poderá verificar se realmente virão os frutos palpáveis da fecundação, produzida nos três primeiros anos.


E - No plano da magia (e é a primeira vez que tratamos desse plano nesta obra. Mas a referência à magia é tão clara, que não podemos calar). Conhecemos, na magia, a chamada RODA MÁGICA, constituída de quatro momentos, que assim se resumem:

1. º momento - STA ("pára"), que exprime a vontade planificada do operador;

2. º momento - COÁGULA ("materializa") que se refere ao "terreno" astral-nervoso, onde se pretende operar;

3. º momento - SOLVE ("solta"), que revela a ação do operador no "terreno", realizando o trabalho e" soltando" livremente sua ação ativa, sobre o terreno passivo;

4. º momento - MULTÍPLICA ("multiplica") que nos apresenta a materialização ou mesmo a realização e o resultado prático de toda a operação.

O momento mais difícil de vencer é exatamente o 3. º, como nos diz a parábola: no terceiro ano o dono da vinha já quer agir desfazendo a operação que ainda permanece infrutífera. O perigo do 3. º momento situa-se no livre-arbítrio das criaturas, onde pode esbarrar e esboroar-se toda a ação, ou na resistência passiva de outros seres vivos, que não reagem à altura (a figueira). Vencido o 3. º momento, o quarto será bem sucedido. Na parábola verifica-se, precisamente a "roda" emperrar por falta de correspondência da criatura.

Para obter êxito, é mister conhecer certos segredos dessa RODA. Em primeiro lugar, precisa-se fixar bem o eixo onde vai girar a roda: que o faça sem distorções nem perigo de paralisação; depois, indispensável calcular com o máximo cuidado a igualdade e proporção dos raios da roda: se um deles for mais fraco, ou vier a enfraquecer-se, poderá romper-se a roda; se houver cálculos errados, a roda pode assumir um movimento inverso, que atingirá e destruirá o operador (choque de retorno).

A fim de esclarecer bem o que desejamos expor, vamos dar um exemplo bem material do funcionamento dessa roda, deixando aos leitores sua aplicação nos planos espirituais. Suponhamos um capitalista (operador) que deseje criar uma indústria: é o primeiro raio da roda (STA). O segundo é constituído pelo consumidor (COÁGULA), que é o "terreno" onde os produtos vão ser lançados. O terceiro raio é o derrame da produção (SOLVE), que será ou não, aceito pelo consumidor (aí reside o perigo).

O quarto é, então, o resultado dessa operação (MULTÍPLICA), com a multiplicação dos lucros.

Ora, o operador terá que estudar se tem capital (capacidade financeira) e qualidades (capacidade técnica) para lançar o produto: está medindo o comprimento do 1. º raio da roda. Depois terá que pesquisar as necessidades dos consumidores e sua capacidade aquisitiva. Em terceiro lugar terá que lançar o produto com publicidade eficiente, para tornar seu produto conhecido. Se tudo foi bem planejado e calculado, o quarto raio obterá o êxito desejado e a roda prosseguirá girando sem emperamentos em seu eixo, trazendo prosperidade (bons frutos) ao operador.

Mas se um dos raios da roda estiver falho (capital e de entusiasmo, incapacidade aquisitiva do consumidor do produto, publicidade inadequada, etc.), a roda assumirá o movimento contrário, e o industrial irá à falência (choque de retorno, porque moveu com forças que depois não pode controlar).

No caso da parábola, verificamos que justamente o terceiro raio não foi bem resolvido, por que a figueira não frutificou. E a causa podia ser o fato de não estar bem calculado o segundo raio: a figueira estava plantada num vinhedo, terreno errado; ou também a resistência passiva do consumidor (árvore) contra a ação do operador (viticultor). Este, todavia espera poder corrigir o defeito, (cavar em redor e colocar adubo, isto é, fazer publicidade) para a plena realização do quarto raio da roda, obtendo assim a multiplicação dos frutos.

F - No campo simbólico abrem-se novos horizontes. Vimos já que a FIGUEIRA (vol. 1. º) exprime "floração interna de qualidades morais e espirituais em si mesma" (a figueira não produz frutos, mas flores inclusas). A figueira, estando plantada num vinhedo, examinemos o simbolismo: a VINHA simboliza a sabedoria espiritual. Temos, então, simbolicamente, que a floração interna de qualidades morais e espirituais, embora plantada na sabedoria espiritual, não conseguiu atingir a maturação final, e a causa disso seria a falta de adubo específico. Vemos, aí, o caso de uma criatura virtuosa, com os conhecimentos indispensáveis, mas que não conseguiu a evolução própria, e isto porque se encontra na abundância material. O remédio proposto é "cavar em redor", isto é, cortar as amarras, os apegos, os liames emocionais, e "colocar adubo", ou seja, fazê-la viver entre os necessitados, pobres e mendigos, para que aprenda praticamente a doação de si mesma (frutificação). O adubo - os necessitados - embora atrasados espiritualmente ("mal-cheirosos") lhe fornecerão a seiva indispensável para ajudar-lhe a evolução. Quem desce aos necessitados para socorrê-los, apesar de Ter que suportar o "mau-cheiro" de seus defeitos, conseguirá, não obstante isso, ou talvez por causa disso, ganhar através deles mais espiritualidade e maior evolução.

Eis aí alguns dos pontos trazidos à nossa meditação por essa pequenina parábola. Muitos outros ainda poderão ser achados através da meditação.

G - No campo biológico, a VIDA INTELIGENTE, INFINITA E ETERNA, a que chamamos DEUS, permeia todas as coisas em todos os universos. Mas cada ser recebe essa VIDA em pequeno grau, segundo suas capacidades e possibilidades. À proporção que o ser sobe na escala evolutiva, aumenta o grau de VIDA de que participa: nos minerais, ela se manifesta nos vórtices atômicos (matéria densa); nos vegetais já conquista a sensibilidade, psiquismo rudimentar (duplo etérico); nos animais adquiriu a emotividade (emoções) com o psiquismo mais desenvolvido; nos hominais, esse psiquismo mais se adianta, transformando-se em alma intelectualizada, tomando o nome de espírito.

Ora, quando o ser, em qualquer grau, não utiliza com proveito o grau de VIDA de que participa, o Eu Profundo ordena que se desligue esse ser da VIDA UNIVERSAL, a fim de que se consuma por si só, entregando os elementos que lhe servem ao acervo comum de seus planos respectivos, para que sejam aproveitados por outros seres, a fim de que evoluam com rapidez ("para que deixar inativa a terra", isto é, para que deixar os elementos inferiores estacionarem na evolução por deficiência de frutos?).

subentra o apelo intercessório de amigos espirituais para que lhes seja permitido tentar, durante mais um período, ver se salvam esse ser, mediante estímulos externos, evitando-lhe a morte da alma (não do Espírito, do verdadeiro Eu Interno, que esse é eterno e jamais pode ser destruído, como centelha divina que é). O adiamento é concedido, porque a Misericórdia é ilimitada. A tentativa será feita, dependendo o êxito da reação do ser.




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Lucas 13:6

E dizia esta parábola: Um certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, e foi procurar nela fruto, não o achando;

lc 13:6
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Lucas 13:7

E disse ao vinhateiro: Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho; corta-a; por que ocupa ainda a terra inutilmente?

lc 13:7
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Lucas 13:8

E, respondendo ele, disse-lhe: Senhor, deixa-a este ano, até que eu a escave e a esterque;

lc 13:8
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Lucas 13:9

E, se der fruto, ficará, e, se não, depois a mandarás cortar.

lc 13:9
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