Sabedoria do Evangelho - Volume 5

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CAPÍTULO 30

RECADO A HERODES

LC 13:31-33


31. Naquela mesma hora, vieram alguns fariseus, dizendo-lhe: "Sai e vai embora daqui, porque Herodes quer matar-te".

32. E disse-lhes (Jesus): "Indo, dizei a essa raposa: eis expulso obsessores e realizo curas hoje e amanhã, e no terceiro (dia) me aperfeiçôo.

33. Mas devo caminhar hoje e amanhã e no (dia) seguinte, porque não convém a um profeta morrer fora de Jerusalém".



A expressão "naquela mesma hora" dá-nos a impressão de que se tratava de um fato que provocara a admiração na massa com ampla repercussão. Aproximam-se alguns fariseus, avisando a Jesus que saia da Peréia onde se encontrava, e que pertencia ao território governado por Herodes Ântipas porque este queria matá-Lo. Já o fizera a João Batista, podia repetir a façanha com Jesus.

Surge natural a curiosidade de saber por que essa solicitude dos fariseus, que tinham sido terrivelmente arrasados pela palavra candente do carpinteiro humilde. Mas o grupo de fariseus da Peréia parece não ter sido tão dogmático e intransigente como o de Jerusalém, pois estavam mais distantes do centro político do partido. Nos próximos capítulos veremos o Mestre dirigir-se a eles com certa consideração.

Desse modo, pode ser que realmente alguns se interessassem pelas lições que dava, e portanto por Sua pessoa.

De outro lado parece que estavam apenas dando, disfarçadamente, um recado do próprio Herodes. O assassinato do Batista, executado contra sua vontade - porque o sabia justo e o temia (cfr. MC 6:20) trouxera-lhe pesado remorso, chegando a afirmar que Jesus era o mesmo Batista que ressuscitara (MT 14:1-2; MC 6:14-16; LC 9:7-9; vol. 3).

Ora, nessas condições era psicológico que ele não se interessasse absolutamente em envolver-se de novo com aquele homem: "avisem-no que saia do meu domínio, para que não seja eu obrigado a matálo".

O recado foi transmitido fielmente. E a resposta de Jesus, inesperada e desconcertante. Percebendo que os fariseus eram emissários do próprio Herodes, manda-lhe a resposta: "regressando a ele, dizei a essa raposa que continuarei a expelir obsessores e a curar, hoje e amanhã, e no terceiro dia me aperfeiçôo", isto é, atinjo à minha perfeição (teleioúmai, presente do indicativo da voz média de teleióô, "completar, terminar, atingir a perfeição").

E continua afirmando que "hoje, amanhã e no dia seguinte" é-Lhe necessário caminhar (seguir à frente, evoluir) porque a um profeta não convém morrer (apotésthai, infinitivo aoristo segundo da voz média de apóllymi) fora de Jerusalém. Palavras todas enigmáticas, que os exegetas procuram compreender e explicar em relação à próxima morte de Jesus; como estamos em janeiro do ano 31, julgam tratar-se não de "dias", mas de "meses"; com efeito, três meses, mais ou menos, depois desse episódio, houve a crucificação. Daí o teleioúmai ser geralmente traduzido por "serei consumado", na voz passiva.

Aqui encontramos indicações de "horas" e "dias".

Desse episódio, verificamos o modo de agir do Espírito que não teme as ameaças terrenas, mas realiza seu trabalho missionário rigidamente dentro do pre-estabelecido: primeiro o serviço de atendimento aos que sofrem, libertando-os das cadeias dos planos inferiores: astral (obsessces) e físico (curas).

São duas etapas distintas, ambas dependentes de poderes psíquicos. A terceira etapa será a ob tenção da perfeição plena em si mesmo. Mas, de qualquer forma, é indispensável caminhar, pois na evolução dá-se o mesmo que ao subir a correnteza de um rio: parar é regredir.

A conclusão, introduzida com uma oração causal, só faz sentido pleno quando compreendida em sua interpretação mais profunda: um profeta (médium) não deve terminar sua carreira terrena fora do âmbito (cidade) da Paz (cfr. vol. 1). E para que não seja a Paz perdida, mister que a obrigação seja cumprida. E cumprida totalmente, sem medo de ameaças de morte nem da própria morte.

Compreendamos ainda, outra lição: a perfeição (teleíos) ou iniciação total, vem através e em consequência do serviço prestado por amor, aos semelhantes, quer se trate de curas espirituais (expulsão de obsessores) ou físicas (doenças da matéria). Já dizia Allan Kardec: "fora da caridade não há salvação", e também Juvenal: "mens sana, in corpore sano", (Sat. 10, 356), ou seja, se a mente é perfeitamente sadia, em consequência o corpo também o será.

O físico é a condensação do espírito. Logo, só adoecerá o físico, se o espírito for ou se tornar doente (a não ser casos de acidentes externos, desastres, etc.) . Mas a própria medicina está chegando à conclusão de que as enfermidades são desarmonias vibratórias do psiquismo (1).

(1) Daí ser muito mais eficiente para a cura, o tratamento psicossomático combinado com os remédios de homeopatia; pois estes, não contendo a substância, mas apenas a vibração da substância, harmonizam as vibrações do corpo astral, diretamente, e, como reflexo, operam a cura definitiva do corpo físicodenso. Ao passo que, sendo os remédios alopatas baseados nas combinações químicas, eles atacam o resultado, mas não a causa da desarmonia psíquica que influiu no corpo físico-denso. A causa se acha no pensamento (ação psicossomática) e na desarmonia vibratória do corpo astral, que só podem ser corrigidas por vibrações do mesmo teor (simília simílibus curantur) que agem na fonte, no perispírito.

E isso só se consegue com a homeopatia.

Digna de meditação a dupla repetição das TRÊS etapas, numa insistência que nos alerta para que pesquisemos o substrato das enumerações.

Há uma confirmação clara do TRÊS como número de perfeição, pois só na terceira etapa é atingida: "no terceiro ME APERFEIÇÔO". O original não tem a palavra "dia", que suprimos para a sequência dos dias: "hoje e amanhã, e no terceiro me aperfeiçôo".

A primeira dedução que fazemos é quanto ao Espírito (individualidade) que age em relação à personagem: antes tem que curá-la psíquica e fisicamente, em etapas que podem ter qualquer duração (como vemos no Gênesis) mas, de qualquer modo, são dois períodos. Só no terceiro poderá dar-se o aperfeiçoamento, depois de superados os dois primeiros, anulados todos os vícios e defeitos, imperfeições e aleijões, morais e materiais.

Outra dedução é quanto aos aprendizes da iniciação. Mesmo se lhes chegam ameaças por parte de autoridades, o temor não deve prevalecer, nem o "instinto de conservação" de um corpo material, destinado mesmo a desaparecer e que, além disso, não constitui a essência do Eu, mas simplesmente um estado transitório do próprio Espírito. Se destruído o corpo físico, o Espírito continua intacto, tal como, destruídas as roupas, o corpo nada sofre.

Muito mais importante - aliás a única coisa importante - é viver a fieira reencarnatória em seus vários períodos, libertando-se de todas as mazelas psíquicas e físicas. Mas, seja como for, é mister não parar em nenhum dos três graus.

Daí ter sido feita a repetição: "expulso obsessores (vícios) e laço curas, HOJE e AMANHÃ, e no terceiro ME APERFEIÇÔO", depois de totalmente libertado dos entraves e mazelas. Mas deve caminhar em qualquer dos três períodos: "hoje, amanhã e no (dia) seguinte, pois não convém perder-se (apóllymi também tem esse sentido) fora da Paz". Se houver parada ou paralisação, há perturbação.

Também aprendemos que o passado não mais interessa, pois não mais existe senão em nossa memória.

A enumeração do caminho é feita a partir do presente: "hoje, amanhã e depois devo progredir".

O ontem passou, com ou sem progresso, e dele já somos escravos. Mas a partir de hoje temos nas mãos as rédeas de nossa vida, somos senhores absolutos e decidimos o que fazer, e podemos fazê-lo, e devemos fazê-lo sem temor, sem desânimo, sem demora.




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Lucas 13:31

Naquele mesmo dia chegaram uns fariseus, dizendo-lhe: Sai, e retira-te daqui, porque Herodes quer matar-te.

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Lucas 13:32

E lhes respondeu: Ide, e dizei àquela raposa: Eis que eu expulso demônios, e efetuo curas, hoje e amanhã, e no terceiro dia sou consumado.

lc 13:32
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Lucas 13:33

Importa, porém, caminhar hoje, amanhã, e no dia seguinte, para que não suceda que morra um profeta fora de Jerusalém.

lc 13:33
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Marcos 6:14

E ouviu isto o rei Herodes (porque o nome de Jesus se tornara notório), e disse: João, o que batizava, ressuscitou dos mortos, e por isso estas maravilhas operam nele.

mc 6:14
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Marcos 6:15

Outros diziam: É Elias. E diziam outros: É um profeta, ou como um dos profetas.

mc 6:15
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Marcos 6:16

Herodes, porém, ouvindo isto, disse: Este é João, que mandei degolar; ressuscitou dos mortos.

mc 6:16
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Lucas 9:7

E o tetrarca Herodes ouvia tudo o que se passava, e estava em dúvida, porque diziam alguns que João ressuscitara dos mortos;

lc 9:7
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Lucas 9:8

E outros que Elias tinha aparecido; e outros que um profeta dos antigos havia ressuscitado.

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Lucas 9:9

E disse Herodes: A João mandei eu degolar: quem é pois este de quem ouço dizer tais coisas? E procurava vê-lo.

lc 9:9
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