Sabedoria do Evangelho - Volume 5

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CAPÍTULO 32

CURA DO HIDRÓPICO

LC 14:1-6


1. E aconteceu que ao vir ele (Jesus) à casa de um dos chefes fariseus, no sábado, para comer pão, este o estava observando.

2. E eis que certo homem hidrópico estava diante dele.

3. E respondendo Jesus falou aos doutores da lei e fariseus, dizendo: "É lícito curar no sábado, ou não"?

4. Eles calaram-se. E tocando, curou-o e libertou-o,

5. e a eles disse: "qual de vós, se cair no poço um filho ou um boi, imediatamente não o levanta, mesmo em dia de sábado"?

6. E não puderam responder a isso.



Este trecho e os três seguintes pertencem ao mesmo episódio: um almoço na casa "de certo chefe fariseu" (tínos tôn archóntôn pharisaíôn), ou seja, de algum dos membros influentes do partido, porque os fariseus jamais tiveram o que pudesse denominar-se um "chefe" oficial. No entanto, havia vários membros do partido que, por sua posição social, cultural, política ou financeira, gozavam de maior prestígio, e eram considerados "archontes" (principais, destacados, influentes, chefes etc.) .

O que convidou Jesus parece que era simpático ao Mestre, como veremos pela atenção e delicadeza com que O trata, e pelas lições de perfeição que recebe, num grau bem mais elevado que o da plebe. E o convite, mesmo depois de tantas acusações feitas a Jesus e de Suas invectivas contra os fariseus demonstra que havia, pelo menos, admiração e desejo de aprender. Não obstante, o anfitrião não deixa de observá-Lo.

A expressão "comer pão" era corrente em hebraico para significar uma refeição sem formalismo.

Ao entrar em casa dos fariseus Jesus vê diante de si (émprosthen autoú) um hidrópico. Dizem os hermeneutas que no oriente há mais liberdade de alguém penetrar na casa de estranhos, do que um ocidental permitiria, e por isso o hidrópico deve ter entrado ao ver Jesus para já dirigir-se. Mas quem nos diz que o hidrópico era um mendigo? podia até ser um dos convidados. Nem só os mendigos adoecem de hidropisia. Ou podia ser um dos agregados ou empregados. O texto diz que Jesus "viu diante de si", dando a entender que o enfermo já estava na casa. E o verbo apolyô não significa rigorosamente, nem apenas, "despedir" (dando ideia de que se manda embora uma pessoa), mas também "libertar".

O fato é que Jesus aproveita o ensejo e pergunta se é licito curar no sábado, como o fizera na sinagoga (LC 6:9; vol.
2) com o homem da mão atrofiada. Já fora criticado por fazê-lo (LC 13:14), mas sempre ensinou que o sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado (MT 12:8 e LC 6:5; vol. 2).

Como não pudessem responder sobre a liberdade ou não do ato, o Mestre não perde tempo: toca o enfermo, despejando sobre ele Seus poderes e Seu magnetismo curador, e liberta-o da enfermidade; além de curá-lo, deixa-o livre. Não exige declaração de fé, como fizera em outros casos, nem avisa quanto ao perigo de uma recaída, se tornasse a errar. Por faltarem esses pormenores é que preferimos traduzir apolyô por "libertar": o curado estava libertado do carma.

Depois prossegue na argumentação, demonstrando aos presentes que, se eles libertam um filho ou um boi, quando caem num poço num dia de sábado por que não poderia Ele faze-lo a uma criatura huma na? Por que um filho merece mais que um estranho? Não sofrem ambos? E por que um boi vale mais, por ser "nosso", do que um irmão, filho do mesmo Pai celestial ?

A comparação já fora feita com "um boi e um asno" (MT 12:11; LC 13:15). Agora aparece um filho ou um boi", com ótimos testemunhos (papiros 45:75, códices A, B, E, G, H, L, M, S, U, V, W, gama, delta e boi" (códices sinaítico, K, X, pi, psi e siríaca sinaítica).

O argumento era decisivo. Nada foi dito e, parece, o fato foi bem aceito.

A lição versa sobre o serviço aos estranhos, oposto aos do próprio círculo de parentesco ("filho") e das propriedades ("bois"). Todos somos UM. E não há dias nem datas prefixadas para atender aos necessitados. Desde que se apresente a necessidade, ajuda-se, sem burocracia, sem exigências, sem condições, com todo o amor.

Mas todos os que entram no "Caminho" são agudamente observados pelos profanos, que os julgam por sua pauta humana mesquinha, e fazem questão cerrada de amoldá-los a suas formas prefabricadas, segundo os preceitos inventados por eles como regras infalíveis, atribuindo-os sempre a um deus que lhes está sujeito, como títere em suas mãos.

A figura do hidrópico é típica como exemplificação, tal como fora a da "mulher recurvada" (LC 13:11). Aqui a imagem é tirada de um hidrópico (1).


(1) A hidropisia é causada pelo derrame de serosidade em qualquer cavidade do corpo, tomando nomes técnicos de acordo com o local (hidrotórax, no peito; hidrocefalia, na cabeça; hidroftalmia, nos olhos; edema ou anasarca a total ou parcial infiltração no tecido celular, etc.) . No entanto, vulgarmente, a hidropisia é tida como sinônimo de "barriga d"água", embora, no ventre, os médicos a denominem oficialmente" ascite" (doença de que desencarnou o famoso Domingos de Gusmão, fundador dos frades dominicanos (cfr. Frei Luiz de Souza, "História de São Domingos", livro 5, cap. 38).

A hidropisia faz inchar a parte do corpo atacada pela enfermidade. Assim, o convencimento de se "dono da verdade" incha o pequeno eu vaidoso (cfr. Paulo: 1. ª Cor. 4:18, 19; 5:2; 8:1; CL 2:18,. 1. ª Tim. 3:6). Nada mais típico para ensinar-nos que precisamos curar (sobretudo em nós mesmos!) essas hidropisias intelectualóides, a fim de conseguir a humildade indispensável para compreender as lições que nos são trazidas. Curada a hidropisia do orgulho, o espírito é libertado (apolyô) e progredirá sem empecilhos.




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Lucas 14:1

ACONTECEU num sábado que, entrando ele em casa de um dos principais dos fariseus para comer pão, eles o estavam observando.

lc 14:1
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Lucas 14:2

E eis que estava ali diante dele um certo homem hidrópico.

lc 14:2
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Lucas 14:3

E Jesus, tomando a palavra, falou aos doutores da lei, e aos fariseus, dizendo: É lícito curar no sábado?

lc 14:3
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Lucas 14:4

Eles, porém, calaram-se. E tomando-o, o curou e despediu.

lc 14:4
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Lucas 14:5

E disse-lhes: Qual será de vós o que, caindo-lhe num poço, em dia de sábado, o jumento ou o boi, o não tire logo?

lc 14:5
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Lucas 14:6

E nada lhe podiam replicar sobre isto.

lc 14:6
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Lucas 6:9

Então Jesus lhes disse: Uma coisa vos hei de perguntar: É lícito nos sábados fazer bem, ou fazer mal? salvar a vida, ou matar?

lc 6:9
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Lucas 13:14

E, tomando a palavra o príncipe da sinagoga, indignado porque Jesus curava no sábado, disse à multidão: Seis dias há em que é mister trabalhar: nestes pois vinde para serdes curados, e não no dia de sábado.

lc 13:14
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Mateus 12:8

Porque o Filho do homem até do sábado é Senhor.

mt 12:8
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Lucas 6:5

E dizia-lhes: O Filho do homem é Senhor até do sábado.

lc 6:5
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Mateus 12:11

E ele lhes disse: Qual dentre vós será o homem que tendo uma ovelha, se num sábado ela cair numa cova, não lançará mão dela, e a levantará?

mt 12:11
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Lucas 13:15

Respondeu-lhe, porém, o Senhor, e disse: Hipócrita, no sábado não desprende da manjedoura cada um de vós o seu boi, ou jumento, e não o leva a beber?

lc 13:15
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Lucas 13:11

E eis que estava ali uma mulher que tinha um espírito de enfermidade, havia já dezoito anos; e andava curvada, e não podia de modo algum endireitar-se.

lc 13:11
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Colossenses 2:18

Ninguém vos domine a seu bel-prazer com pretexto de humildade e culto dos anjos, metendo-se em coisas que não viu; estando debalde inchado na sua carnal compreensão,

cl 2:18
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