Sabedoria do Evangelho - Volume 6

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CAPÍTULO 11

SERVOS INÚTEIS

LC 17:7-10


7. "Qual de vós, tendo um servo arando ou pastoreando, lhe dirá ao vir ele do campo: vem já, reclina-te (à mesa)?

8. Mas não lhe dirá: Prepara o que cearei e, cingindo-te, serve-me, enquanto como e bebo, e depois tu comerás e beberás.

9. Acaso agradecerá ao servo porque cumpriu as ordens?

10. Assim também vós, todas as vezes que tiverdes cumprido todas as ordens, dizei: somos servos inúteis, fizemos o devíamos fazem".



O caso do servo fiel refere-se, evidentemente, a um escravo cujo tempo integral deve estar à disposição de seu senhor, já que o assalariado dispõe para si de todas as horas, antes e após o serviço contratado.

O exemplo trazido parece demonstrar uma pessoa que só possuía esse servo para todo o serviço.

Embora pareça mais "humano" que o servo fosse primeiramente comer e ter rápido repouso após a estafa do campo, o fato aqui comentado é uma lição que precisa ser interpretada como alegoria de outra realidade mais alta. Tanto assim, que em Lucas (Lucas 12:37) dá-se até o exemplo contrário: o servo, que o senhor encontra vigilante, é servido pelas mãos de seu senhor, com alegria e gratidão.

A única explicação necessária é quanto ao verbo "cingir-se". O trabalho pesado no campo era realizado pelos servos totalmente nus ou com pequena tanga, a não ser no sol escaldante do verão, quando então vestiam uma túnica larga, enfiada pelo pescoço, com um turbante à cabeça. Ao terminar o trabalho, entravam em casa, em qualquer época, com a túnica esvoaçante, que não se adaptava, porém, a serviços domésticos. Para realizá-los, ou para sair à rua (vol.
3) amarravam um cordel à cintura ("cingiamse"), para que os movimentos fossem facilitados.

Lição das mais belas.

O Senhor do Mundo, por meio de Seus discípulos graduados, os Mestres de Sabedoria, governa larga rede de Adeptos 1niciados, Discípulos aceitos e Discípulos em provação, conscientes ou inconscientes de suas ligações; e isso em todos os setores religiosos, filosóficos, políticos, industriais, comerciais, artísticos, na medicina, na engenharia, no jornalismo, em todas as profissões, mas especialmente no magistério de todos os graus. Através dessas criaturas, são executadas as tarefas necessárias à recuperação da humanidade e do planeta, para que tudo evolua dentro dos pianos do Grande Concílio.

Assim, todos os que estão conscientes das tarefas que lhes foram cometidas e das obrigações que assumiram voluntariamente, são como escravos que se venderam, para dedicar-se à obra em regime de tempo integral, dia e noite, abandonando, se necessário, família, afazeres, negócios, posse, particulares, de forma a que nenhum minuto seja dedicado a outros interesses. O serviço, para quem quer que entre para a Fraternidade, tem que ser total e desinteressado, constante e contínuo, alegre e despreocupado dos frutos que nos não pertencem: todo o fruto do trabalho do escravo pertence a seu senhor, de direito e de fato. Todas as horas são absorvidas pelo trabalho assumido, não havendo desculpas para interrupções nem afrouxamentos, sob pena de desligamento automático da Fraternidade à qual espontaneamente nos filiamos, levados pelo amor altruísta de AJUDAR aos outros sem pensar em nossa personagem transitória e deficiente.

Quem não coloca a obra acima da personalidade, em TODOS os aspectos, não pode ser "discípulo em provação", assim chamado durante o tempo em que é experimentado, para ver se realmente é desinteressado (não apenas monetariamente, mas em todos os sentidos), se é capaz de sacrificar emprego, família, comodidade, sono, alimentação, tudo, em benefício e para servir à obra. Essa "provação" dura, em cada existência, cerca de sete anos. Findos estes, se as provas não foram de fato concludentes, mais sete anos são acrescentados, numa segunda e última oportunidade, para verificar-se a possibilidade de ingressar na Escola como "discípulo aceito". As lições verdadeiras chegam-nos desde a mais remota antiguidade. O Antigo Testamento já nos ensinara que assim ocorre, narrando um fato com valor simbólico.

Observemos, inicialmente, o significado dos nomes. LABÃO quer dizer "branco, brilhante", e representa o Mestre Hierofante e Iniciador. JACOB exprime "o suplantador, ou vencedor" das provas. LIA (Le’ah) quer dizer "cansado, falto de forças". E RAQUEL (Rahhel) significa "cordeiro ou ovelha".

Analisemos, agora, os fatos como se passam.

Jacob pretende Raquel (o Cordeiro era o signo daquela era, isto é, o máximo da evolução) e Labão, o Mestre, exige que ele "sirva" na escola durante sete anos. Findos os quais, não lhe dá Raquel, porque o pretendente não alcançara o grau necessário, mas, antes sente-se "cansado" (recebe Lia, em lugar de Raquel). Fica resolvido, então, que "servirá" mais sete anos. E vence (é "o vencedor, o suplantador" das provas) neste segundo período recebendo, então, como troféu de vitória, a Iniciação (Raquel).

Ainda hoje, essa é a técnica. A isso nos submetemos todos, consciente ou inconscientemente, nas personagens atuais. As oportunidades são-nos dadas, para demonstrar que conquistamos a humildade, ouvindo o que não nos agrada e sorrindo, sem magoar-nos; o desprendimento total, estando prontos a renunciar a tudo o que possuímos ("Vai, vende tudo o que tens, e vem, segue-me", LC 10:21); o amor desinteressado a todos, mesmo aos seres mais antipáticos; a constância e a continuidade no trabalho, "em esmorecimentos nem vontades de largá-lo por quaisquer motivos, por mais fortes que nos pareçam; resolução férrea de superar as provas, sobretudo as que ferem nossa vaidade pessoal e nosso orgulho profissional; e renúncia absoluta a quaisquer resultados e a quaisquer conquistas de bens terrenos, sejam eles quais forem.

Aqueles que, tendo sido admitidos a uma Escola (mesmo que tenha outro nome), após esses anos de experimentação não lograram atingir o ponto evolutivo requerido, saem por seus próprios pés, alegando que não concordam com isto ou aquilo, ou que não "se dão" com esta ou aquela pessoa, ou que não se dispõem a renunciar a seu próprio "modo de ser" (pois, dizem, sou assim).

Para alguns espíritos que realmente não são aproveitáveis, dois ou três anos de experimentação bastam para se definirem; mas a outros, que poderiam e deveriam ser aproveitados como discípulos aceitos, é dada oportunidade maior de sete e mais sete; se após catorze anos de frequência não "modificam sua mente" (metánoia) são afastados, para não impedirem o progresso espiritual da Escola.

Os discípulos aceitos, após darem tudo o que podem no trabalho diurno, quer como "agricultores", arando o terreno sáfaro da humanidade; quer como "pastores", levando ao pasto do conhecimento, à alimentação do ensino espiritual, as almas famintas e sedentas da Verdade; devem ainda antes de relaxar-se no suspirado repouso, cingir-se a cintura e ir, durante a noite, em corpo astral ou mental, preparar a ceia e servir a seu Mestre, para que, com a aproximação propiciada pela ajuda amorosa e dedicada, aumentem cada vez mais seu conhecimento da Verdade.

Para essas tarefas, requer-se obediência cega; sacrifício pessoal do repouso; abandono a segundo plano de qualquer interesse, mesmo "justo" no mundo, se estiver fora do trabalho ordenado pelo Mestre ("não podeis servir a dois senhores, a Deus e às riquezas", LC 16:13); requer-se a superação da vontade própria pessoal, em benefício da vontade do Mestre; a energia controlada nos momentos de perigo, para que as ordens do Senhor sejam cumpridas, mesmo que isso signifique rompimento dos laços sanguíneos de parentesco ou de amizades antigas e arraigadas; a isenção de ânimo para, sem titubear, colocar os interesses da obra acima dos seus; a fortaleza de mente para não se ser afetado minimamente pelas palavras ou julgamentos alheios, pelo que os outros "possam dizer"; o equilíbrio para continuar no trabalho sem perturbação, mesmo entre as grandes perturbações, que jamais deverão desnortear mente do discípulo.

E tudo isso, terá que ser realizado sem que a emoção (animalismo) se intrometa, para que não haja atuação de vínculos menos nobres; embora classificado de "frio" e "sem sentimentos", o discípulo tem que alimentar em si mesmo o sentimento puro e espiritual do perdão e do amor, os quais, entretanto, não podem interferir nas decisões que forem "ordem superior", para resguardar a programação prevista no desenvolvimento do trabalho.

Se tudo isso for feito, e depois que tudo isto tenha sido feito, não merecemos nenhum agradecimento de nosso Mestre: fizemos o que tínhamos que fazer e, portanto, somos servos "inúteis".

Pode argumentar-se que, de fato, tivemos alguma utilidade no desenvolvimento do trabalho. Mas o ensino é dado para que nos convençamos da realidade: qualquer outro faria o mesmo ou melhor que nós. Nós ainda temos que agradecer a honra que nos é conferida, de poder trabalhar para tão grande Senhor! Somos "inúteis", pois apenas cumprimos ordens, mas nada acrescentamos de nosso. Em comparação grosseira digamos que duas pessoas se apresentem a um Banco, com certa importância na mão. A primeira vai quitar um empréstimo. Apesar de ter dado lucro ao estabelecimento, é "inútil" pare o real progresso do Banco e não merece agradecimentos: cumpriu sua obrigação. O segundo é depositante novo, que confia sua conta à casa de crédito esse sim, será útil, e merece a gratidão do banqueiro. Nesse exemplo verificamos quanto somos realmente "inúteis": estamos pagando empréstimos que fizemos, e não trazendo lucros extraordinários.

Anotemos que a palavra "inútil", em grego (achreíos) talvez fosse mais bem traduzida por "não-útil".

Se profundamente, em nossos corações, tivermos essa convicção, poderemos continuar colaborando com a Grande Fraternidade, porque apagamos nosso personalismo vaidoso e estamos "à disposição" de nossos Mestres e Senhores.


* * *

Neste ponto acrescentemos uma observação.

Passa-se exatamente o mesmo nas relações entre a personagem e a individualidade entre o pequen "eu" e o EU verdadeiro, entre o espírito com um nome e o Espírito, cujo nome está no Livro da Vida.

Nenhum direito a agradecimentos tem a personagem por ter cumprido seu dever de colaborar na evolução do EU; nenhum repouso lhe cabe, até que seu dever tenha sido integralmente cumprido: o regime não é de "assalariado" com tempo prefixado para a tarefa, mas de escravidão, com tempo integral dedicado ao Espírito. Não há férias, nem feriados, nem repouso remunerado: tudo para o Espírito, do Espírito e no Espírito.

Cumpramos nosso dever, sem buscar repouso, nem conforto, nem férias nem divertimentos, prazeres, recompensas: a VIDA é superior à vida, o menos cede ao mais, o menor serve ao maior, a personagem só existe para que a Individualidade possa operar no planeta. Se esta é sua obrigação, deve ser cumprida à risca, com todo sacrifício. E no final de sua carreira, saibam nossos intelectos manifestarse sinceramente: somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer".




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Lucas 17:7

E qual de vós terá um servo a lavrar ou a apascentar gado, a quem, voltando ele do campo, diga: Chega-te, e assenta-te à mesa?

lc 17:7
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Lucas 17:8

E não lhe diga antes: Prepara-me a ceia, e cinge-te, e serve-me, até que tenha comido e bebido, e depois comerás e beberás tu?

lc 17:8
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Lucas 17:9

Porventura dá graças ao tal servo, porque fez o que lhe foi mandado? Creio que não.

lc 17:9
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Lucas 17:10

Assim também vós, quando fizerdes tudo o que vos for mandado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos somente o que devíamos fazer.

lc 17:10
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Lucas 12:37

Bem-aventurados aqueles servos, os quais, quando o Senhor vier, achar vigiando! Em verdade vos digo que se cingirá, e os fará assentar à mesa, e, chegando-se, os servirá.

lc 12:37
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Lucas 10:21

Naquela mesma hora se alegrou Jesus no Espírito Santo, e disse: Graças te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, que escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes, e as revelaste às criancinhas; assim é, ó Pai, porque assim te aprouve.

lc 10:21
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Lucas 16:13

Nenhum servo pode servir dois senhores; porque, ou há de aborrecer um e amar o outro, ou se há de chegar a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom.

lc 16:13
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