Sabedoria do Evangelho - Volume 6

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CAPÍTULO 26

DECRETAÇÃO DE MORTE

JO 11:45-54


45. Então muitos dentre os judeus, os que vieram a Maria e viram o que (Jesus) fez, creram nele.

46. Alguns deles, todavia, foram aos judeus e lhes disseram o fez Jesus.

47. Os fariseus, pois, e os principais sacerdotes reuniram o sinédrio e disseram: "Que fazemos, já que esse homem faz muitos prodígios?

48. Se o deixarmos assim, todos crerão nele e virão os romanos e nos tirarão tanto nosso lugar quanto nossa nação".

49. Um dentre eles, porém, Caifás, sendo sumo sacerdote naquele ano, disse-lhe: "vós não sabeis nada!

50. Não raciocinais que vos convém que um homem morra pelo povo e não se perca a nação toda"!

51. (Isso não disse por ele mesmo; mas, sendo sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus estava para morrer pela nação.

52. E não só pela nação, mas para que também os filhos de Deus dispersos, se reunissem em um).

53. Então, desde esse dia, decretaram que o matariam.

54. Jesus, pois, já não andava abertamente nos judeus, mas saiu dali para a região próxima do deserto, para a cidade chamada Efraim, e ali demorou com os discípulos.



Ao evangelista interessava registrar o efeito externo que produziu a cena assistida, mas não compreendida, pelos judeus procedentes de Jerusalém: acreditaram que realmente se tratava de alguém que de fato possuía poderes muito superiores aos dos homens comuns; então só poderia tratar-se de, pelo menos, um profeta. A fidelidade à religião mosaica levou alguns a comunicar o fato aos fariseus, seita dominante, a fim de que oficialmente tomassem as medidas cabíveis: um exame rigoroso e honesto daquele homem e de suas obras, pois inegavelmente ele realizava, com simples palavras, atos humanamente impossíveis.

Os que tinham visto, com seus próprios olhos, não podiam mais duvidar. E faziam questão de convencer seus amigos e de captar a simpatia dos fariseus (cfr. JO 2:23; JO 5:15; JO 7:31; JO 9:13) para o novo taumaturgo: era indispensável tomar conhecimento "oficial" desse profeta.

A nova espalhou-se e alarmou as "autoridades constituídas": foi convocada uma reunião do Sinédrio, com a presença dos principais sacerdotes e dos fariseus; a questão foi colocada na pauta sob o aspecto político. A maior preocupação, sempre, dos aproveitadores, é agradar aos "chefes", para não perderem a posição vantajosa de mando, com lucros garantidos.

Todos concordaram em que aquele carpinteiro constituía crescente dor de cabeça, pois poderia, com sua extraordinária força taumatúrgica, sublevar o povo para mais uma revolução contra os dominadores romanos; isso causaria sérios aborrecimentos e prejuízos: o "nosso lugar" (alguns interpretam como o "templo") e a nação seriam arrasados. Mister agir! eis que eles estavam inertes, ao passo que "esse homem" se agigantava livremente diante do povo. Não interessava perquirir se era ou não o "messias"; se trazia ou não uma mensagem de YHWH; se realmente se tratava de grande e verdadeiro profeta ou de impostor: importava que não fosse atrapalhado o trem de vida que os israelitas haviam conseguido estabilizar mais ou menos, em troca de concessões em todos os campos, mormente no do caráter.

Ergue-se, então, a voz de Caifás (em hebraico, kaifâ, em grego Caiáphas, no latim da Vulgata, Caiphas), o qual - diz o evangelista - "era sumo sacerdote naquele ano" (archiereús toú eniautoú ekeínou).

A primeira impressão é que o sumo sacerdócio variava de ano para ano, o que não corresponde à realidade: Caifás foi sumo pontífice do ano 18 ao ano 36 (cfr. Flávio Josefo, Ant. Judo 13 2:2-4,3). Para permanecer tanto tempo em posição tão cobiçada, devia ser extraordinariamente subserviente aos governadores romanos. Ora, Caifás proferiu uma frase que solucionou o problema para eles, embora arrasando os companheiros com sua superioridade funcional: "não sabeis nada: não raciocinais que vos convém que um homem morra pelo povo e que não se perca a nação toda".

Trata-se de razão de estado, puramente política: se o carpinteiro, com sua ação, está pondo em perigo a comunidade, sacrifique-se o indivíduo em benefício da coletividade.

Entretanto, sem levar em conta que sugerira ter Caifás falado como "cidadão privado" (tís ex autôn) e não na qualidade de seu cargo, o evangelista afirma que, "por estar exercendo o sumo sacerdócio naquele ano, profetizou", isto é, falou mediunicamente, que "Jesus devia morrer pela nação". E o narrador acrescenta: "E não só pela nação (judaica), mas para que também os filhos de Deus dispersos (diaskorpízô) se reunissem em UM". Frase que é bom reter.

Desde esse dia ficou, portanto, lavrada a sentença de morte de Jesus por parte das autoridades eclesi ásticas dos judeus. Já antes o haviam tentado (cfr. JO 5:18; JO 7:32 e JO 9:22) mas seus planos haviam sido sempre frustrados. Agora o decreto oral do sumo pontífice estava publicamente aceito.

Jesus novamente se refugiou fora de Jerusalém, longe dos judeus sequiosos de destruí-Lo. Dirigiu-se para a região limítrofe do deserto, para uma cidade denominada Efraim (ou Ephron segundo Eusébio e Jerônimo: interessante o testemunho desses dois escritores, porque ambos viveram algum tempo na Palestina). Essa cidade é relacionada, geralmente, com Bethel (cfr. 2CR. 13:19 e F. Josefo Bell.


Jud. 4,9, 9). Hoje é chamada Thayebêh, situada a cerca de 25 km de Jerusalém. Implantada a 823 m de altitude, dela se avista belo panorama a leste: o vale do Jordão e, além dele, as cordilheiras de Gile"ad e de Ammon, a bacia setentrional do mar Morto e as montanhas de Moab. A oeste, ao norte e ao sul, o horizonte se afasta a perder de vista. Efraim significa "fecundidade", do verbo pârâh, na forma hif"il).

Em Efraim Jesus "demorou" (diatríbô) algum tempo com os discípulos, aguardando o momento oportuno.

O verbo diatríbô significa literalmente "passar algum tempo esperando" ou "entreter-se com amigos até determinado instante", etc.

A lição é altamente significativa para todos os que se dedicam ao espiritualismo, especialmente no campo da mística do mergulho e da iniciação. Os religiosos ortodoxos ("judeus") dão suma importância à fenomenologia prodigiosa, às pompas ritualísticas externas, que neles suscita entusiasmo e afervora a devoção. O entusiasmo provocado por atos dessa natureza leva-os a pretender espalhar ao máximo a notícia do acontecimento, sentindo-se eles mesmos enaltecidos pelo privilégio que tiveram de ser testemunhas oculares; e isso lhes produz a sensação de coparticiparem da força taumatúrgica.

No entanto, o resultado é sempre o oposto: as "autoridades" religiosas não admitem nada de grandioso senão entre os de seu grupo.

Então, cada vez que tentam espalhar notícias de fenômenos exteriores ao grupo privilegiado que está no poder, provocam com isso perseguições claras ou veladas. E o indivíduo que foi ator da cena, passa a ser suspeito e alvo de má vontade, que leva ao desejo de destruí-lo sob qualquer desculpa e com qualquer método: físico ou moral por meio de calúnias inventadas e propaladas.

Com isso aprendemos que o silêncio é "de ouro" nestes assuntos: nada dizer a ninguém a respeito de quaisquer experiências que tenhamos feito ou venhamos a fazer. O segredo é mais necessário aqui, que mesmo em matéria de negócios. Muitas vezes, por falarmos certas coisas, perdemos oportunidades maravilhosas de obter e realizar certas experiências decisivas. Quando então chegamos a determinado, ponto evolutivo, compreendemos a necessidade do silêncio mais fechado. Daí a máxima ver dadeira: "quem diz que é, não é, o quem é, jamais diz que é". Nunca se ouvirá da boca de um iniciado verdadeiro, essa afirmativa. E todos aqueles que dizem sê-lo, NÃO SÃO.

A iniciação é coisa muito séria e não vem com sinais exteriores, a não ser com as dores inerentes às provas indispensáveis à evolução da criatura. Mas, de qualquer forma, aqueles que atingem esse ponto, devem manter sigilo absoluto, para que ninguém o venha a descobrir de sua boca. No máximo, serão percebidos por aqueles que estão no mesmo grau ou nos graus superiores.

Julgam muitos - encantados pela insinuante lábia dos que se intitulam a si mesmos mestres, gurus, brâmanes, swamis, etc. - que ouvindo-lhes as preleções em voz soturna de mistério e seguindo-lhes as lições ministradas a portas fechadas, e depois submetendo-se a rituais exóticos, se tornam "iniciados", e vão subindo penosamente os degraus, estabelecidos pelos homens a seu capricho, até alcançarem os postos mais "elevados". São, porém, ilusões necessárias, para satisfazer aos principiantes, que assim se vão preparando para, algumas encarnações mais tarde, já treinados por esses "folguedos" espirituais, poderem realmente dar os primeiros passos na senda.

Compreendemos a necessidade de existirem essas "Escolas" ou "ordens" ou "ashrams", porque é sempre bom que os espíritos desejosos de progredir, encontrem ambientes propícios. E como as criaturas se equilibram nos mais variados estágios evolutivos, mister se formem escolas também em todos os graus. E cada um se situa dentro de seu padrão vibratório, dos mais baixos aos mais elevados.

Feitas essas anotações, observemos a ação dos religiosos ortodoxos. A razão primordial, embora jamais abertamente confessada ao grande público, é a manutenção do poder político e do prestígio perante o povo, pois essas duas fontes lhes permitem locupletar-se em todos os sentidos. Convocam-se, então, reuniões secretas, a fim de decidir do melhor modo de agir. Nessas reuniões é que se torna mais fácil levantar um pouco o véu e falar mais claramente. Se alguém lhes atrapalha a vida, deve ser suprimido. Hoje em dia não mais se assassinam as criaturas. Mas a tradição judaica permaneceu fiel entre os herdeiros deles durante séculos, e milhares de pessoas tiveram a mesma sorte de Jesus: foram impiedosamente assassinados pelas "autoridades" ecleciásticas ortodoxas, sob a alegação de que eram "herejes", isto é, não pensavam como eles...

A orientação dada pelo "Sumo Pontífice" Caifás foi seguida sem discussões pelos inimigos de Jesus contra Ele, e mais tarde, pelos que se diziam discípulos Dele, contra pobres indivíduos que nenhum direito tinham de defesa.

No entanto, há uma frase de João que merece ser meditada: "Jesus morreu também para que os filhos de Deus dispersos se reunissem em UM".

São essas frases soltas que frequentemente trazem luzes fantásticas a respeito de processos que, de outro modo, não teríamos condições de perceber. Analisemos, dentro de nossas parcas possibilidades.

A "morte" de Jesus, isto é, a separação violenta e transitória do espírito de Jesus de seus veículos inferiores, provocou um choque vibratório que possibilitou novos rumos no processo evolutivo de toas as coisas.

Tudo o que existe - anjos, homens, animais, vegetais, minerais - é obra divina, criada pela Luz Absoluta, pelo Imanifestado que Se manifesta: tudo surge de Sua própria substância, e se conserva em existência dentro de Sua própria essência. Logo, tudo o que existe pode chamar-se, de direito, "filho de Deus".

Deus é essência. Deus É. Tudo o que surge de Sua substância, existe (ex-sistit) ou seja, É, porque surgiu e se mantém sustentada por uma Força distinta de sua própria existência. Vemos, pois, que transparece clara uma distinção: a existência é da criatura, a essência é do Criador, Deus, essência última de tudo. Em outras palavras: tudo o que existe surge da substância divina e se sustenta porque permanece com a essência divina em si, embora tenha uma existência sua própria.

Ora, quando as existências passam a existir em ato, a própria condição inerente à existência é a divisão ou dispersão, pois a existência é alcançada com o mergulho no pólo negativo (Antissistema) o qual é, por natureza, divisionista, dispersivo e antagônico (satânico). Daí podermos distinguir, por exemplo, milhões de moléculas e átomos de ouro, embora o "ouro" seja uma unidade coletiva única. E assim ocorre com minerais, vegetais, animais e mesmo homens: na subida evolutiva o movimento tem que ser contrário: de unificação ("amai-vos uns aos outros"), refundindo-se as partes num só todo.

O movimento de descida e divisão estava no ponto máximo. Era mister colocar-se um ponto final e dar um apoio, para que a direção do movimento de descida pudesse firmar-se, e iniciar o regresso ao ponto de partida, invertendo totalmente o sentido geral da caminhada.

Para isso foi indispensável que uma força incalculavelmente elevada espiritualmente tomasse a iniciativa de estancar a descida, para iniciar a subida. Achava-se o planeta no ponto mais baixo da escala divisionista. E sozinho não teria meios de dar meia-volta e principiar a subida árdua e difícil. Alguém tinha que fazê-lo.

Tudo foi preparado para que, na hora aprazada no relógio do infinito, se produzisse um fenômeno capaz de revirar o rumo. Seria indiscutivelmente um "salvador" da humanidade. Deu-se, pois, a encarnação especialíssima de Jesus, preparada durante várias gerações, e Nele se manifestou o CRISTO, o que foi possível pela grande pureza do espírito de Jesus e de Seu corpo.

Aí temos, portanto, a força cristônica do universo descendo com toda a Sua capacidade e mergulhando na Mente, no Intelecto, no Astral e no próprio físico de Jesus. E através do mergulho em Jesus, houve, em repercussão, o mergulho em todos os planos (humano, animal, vegetal e mineral) dessa mesma Força cristônica, que já constituía a essência de todas essas coisas. Mas a intensidade da Presença foi aumentada de muito. E a descida foi quase que paralisada. Feito isso, durante o tempo necessário para essa fixação, foi preparado o choque que permitiria o retorno da corrente, desviando-a do pólo negativo para o positivo: a retirada repentina e violenta do espírito de Jesus, durante curto período, para logo a seguir regressar. Mas esse impulso, que trouxe trevas ao planeta (MT 27:45; MC 15:33,. Lc. 23:
44) conseguiu libertar todas as coisas do empuxo para o divisionismo. O violento choque foi sentido em todos os planos, e todas as coisas passaram a ter a capacidade de reunificar-se ("Amai-vos uns aos outros"). Daí dizer-se que Jesus foi o SALVADOR: de fato, com o empréstimo de Sua matéria, permitiu que fosse tudo libertado da força dispersiva que, pelo impulso centrífugo, levava tudo ao divisionismo e à dispersão, e deu nova orientação, com violento impulso centrípeto.

Foi isso que entendemos da frase de João: "morreu também para que os filhos de Deus dispersos, se reunissem em UM".




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João 11:45

Muitos pois dentre os judeus, que tinham vindo a Maria, e que tinham visto o que Jesus fizera, creram nele.

jo 11:45
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João 11:46

Mas alguns deles foram ter com os fariseus, e disseram-lhes o que Jesus tinha feito.

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João 11:47

Depois os principais dos sacerdotes e os fariseus formaram conselho, e diziam: Que faremos? porquanto este homem faz muitos sinais.

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João 11:48

Se o deixamos assim, todos crerão nele, e virão os romanos, e tirar-nos-ão o nosso lugar e a nação.

jo 11:48
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João 11:49

E Caifás, um deles que era sumo sacerdote naquele ano, lhes disse: Vós nada sabeis,

jo 11:49
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João 11:50

Nem considerais que nos convém que um homem morra pelo povo, e que não pereça toda a nação.

jo 11:50
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João 11:51

Ora ele não disse isto de si mesmo, mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus devia morrer pela nação.

jo 11:51
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João 11:52

E não somente pela nação, mas também para reunir em um corpo os filhos de Deus, que andavam dispersos.

jo 11:52
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João 11:53

Desde aquele dia, pois, consultavam-se para o matarem.

jo 11:53
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João 11:54

Jesus, pois, já não andava manifestamente entre os judeus, mas retirou-se dali para a terra junto do deserto, para uma cidade chamada Efraim; e ali andava com os seus discípulos.

jo 11:54
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João 5:15

E aquele homem foi, e anunciou aos judeus que Jesus era o que o curara.

jo 5:15
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João 7:31

E muitos da multidão creram nele, e diziam: Quando o Cristo vier, fará ainda mais sinais do que os que este tem feito?

jo 7:31
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João 9:13

Levaram pois aos fariseus o que dantes era cego.

jo 9:13
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João 5:18

Por isso pois os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não só quebrantava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.

jo 5:18
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João 7:32

Os fariseus ouviram que a multidão murmurava dele estas coisas; e os fariseus e os principais dos sacerdotes mandaram servidores para o prenderem.

jo 7:32
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Marcos 15:33

E, chegada a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra até à hora nona.

mc 15:33
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João 9:22

Seus pais disseram isto, porque temiam os judeus. Porquanto já os judeus tinham resolvido que, se alguém confessasse ser ele o Cristo, fosse expulso da sinagoga.

jo 9:22
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Mateus 27:45

E desde a hora sexta houve trevas sobre toda a terra, até à hora nona.

mt 27:45
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