Sabedoria do Evangelho - Volume 6

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CAPÍTULO 8

EXPLICAÇÃO DA PARÁBOLA

MT 13:36-43


36. Tendo, então, deixado as turbas, veio para casa. E, aproximando-se dele seus discípulos, disseram: "Explica-nos a parábola do joio do campo".

37. Respondendo, disse: "O semeador da boa semente é o Filho do Homem.

38. O campo é o mundo; a boa semente são os filhos do reino; o joio são os filhos do mal;

39. o inimigo que o semeou é o adversário; a colheita é o término do eon; os ceifeiros são os espíritos (mensageiros).

40. Então, como é colhido o joio e queimado no fogo, assim será no término do eon:

41. enviará o Filho do Homem seus mensageiros e recolherão de seu reino todas as pedras de tropeço e os que agem ilegalmente,

42. e os lançarão na fornalha de fogo; aí haverá choro e ranger de dentes.

43. Então os justos brilharão como o sol no reino do Pai deles. Quem tem ouvidos, ouça".



Mais uma vez o Mestre explica a parábola aos "discípulos", em particular, depois que chegaram a casa.

O uso de parábolas no ensino iniciático, quando dado ao povo, era comum desde a antiguidade. O Salmo (78:
2) de Asaph, que conforme 2CR. (28:
30) era profeta, já dizia: "abrirei minha boca em parábolas, narrar-lhes-ei os mistérios ocultos desde a fundação do mundo". Jerônimo (Patrol. Lat. vol. 26, col.
93) afirmava que os acontecimentos da história bíblica no Antigo Testamento deviam entenderse parabólice, isto é, alegoricamente.

Vemos, assim, que Jesus se serve do mesmo estilo dos antigos profetas hebreus. E aqui mesmo dá a explicação alegórica desta parábola.


ALEGORIA - Uma alegoria pode ser explicada por três processos:

—1 - Equação ou aplicação direta, em que cada palavra tem seu próprio significado;

—2 - Por substituição, quando as figuras são substituídas pela realidade;

—3 - Por comparação, como nas parábolas simples.


Nesta explicação, como anota Pirot, o Mestre utiliza simultaneamente os três processos. Trata-se, portanto, de um paradigma de interpretação parabólica. Encontramos, por exemplo:

1. º - Equação: "o campo é o mundo"; "a boa semente são os filhos do reino", etc.

2. º - Substituição: "O Filho do Homem enviará seus mensageiros";

3. º - Comparação: "Assim como é colhido o joio e queimado no fogo, assim será no término do eon".

Analisemos os termos.

"O Semeador é o Filho do Homem", ou seja, aquele que já atingiu a superação do estágio hominal. " O campo é o mundo " (kósmos), isto é, todo o planeta, não apenas determinada região nem raça. " A boa semente são os filhos do reino ", ou seja, aqueles que, em sua vida interna e externa, seguem os preceitos do Espírito, filiando-se às Escolas ou independentes. " O joio são os filhos do mal". Aqui o genitivo poneroú pode ser do substantivo ponerón (o "mal") ou do adjetivo ponerós, (o "mau"). O comum das interpretações traz "o mau", referindo-se ao "diabo", citado no vers. 39. Ora, assim teríamos que as criaturas podiam provir de duas origens: ou "filhos de Deus " ou "filhos do diabo". Dois criadores. Dois princípios autônomos e poderosos. Não podemos aceitar essa interpretação. Resta-nos, pois, considerar o genitivo poneroú como do substantivo, e compreender" filhos do mal", isto é, da matéria. Temos, então, que o Criador é um só, o Pai, que dá origem aos Espíritos; estes, ao mergulhar na matéria, que é o mal (cfr. vol.
2) tornam-se "filhos do mal", isto é, sujeitos à matéria. Então, o semeador do joio é o "adversário" (diábolos, acusador, adversário) ou seja, o baixamento de vibrações e sua condensação.

"A colheita é o término do eon", isto é, do presente ciclo evolutivo, e não do "fim do mundo". " Os ceifeiros são os espíritos" (mensageiros), os chamados "anjos". Espíritos bons, sem corpo físico ou com ele, que se dedicam a cumprir, como "Mensageiros", a Vontade do Pai. Estes, no corpo físico ou fora dele, estão encarregados de fazer a triagem (em grego krisis, que geralmente é traduzido mal como "julgamento") dos bons e dos maus, daqueles que seguem já o caminho evolutivo, embora ainda apresentem alguns defeitos, e daqueles que voluntariamente se opõem à evolução.


A separação será feita "no fim do ciclo". Na Terra permanecerão os "filhos do reino", enquanto os "filhos do mal", os substancialmente maus, dela serão afastados para a "fornalha de fogo inextinguível", em outro planeta, porque "meus escolhidos herdarão a Terra, e meus servos habitarão nela" – (IS

65:9).

Constitui este versículo uma das provas, para certas seitas, da "eternidade" do fogo do inferno. Não há a menor razão para isso. O "fogo inextinguível", segundo Emmanuel, é o fogo do Amor Divino, que faz que todos se purifiquem de seus erros. Nós diríamos, o "fogo do carma", que não se apaga enquanto a catarse não estiver terminada, e esse fogo causa "choro e ranger de dentes" em todos os que a eles estão sujeitos. Essa expressão aparece em MT 8:12; MT 13:50; MT 22:13; MT 24:51; MT 25:30; LC 13:28.

Já os justos (aqui não se fala nem dos profetas nem dos discípulos) os simples "justos" brilharão como o sol, na comparação de Daniel (Daniel 12:3), ou seja, expandirão luz sobre todos o João Crisóstomo (Patrol.

Gr. vol. 58 col.
475) afirma ter Jesus apresentado essa parábola, a fim de evitar que, no futuro, as comunidades cristãs se perturbassem diante dos maus elementos que contra ela agiriam. De qualquer forma, não há outro remédio: a convivência de bons e maus é inevitável. Resta aproveitar o máximo de bem que se possa extrair dos maus, "exercitando-os no bem", como escreveu Tomás de Aquino. Agostinho (Patrol. Lat. vol. 30, colo 1
371) também diz que "os maus exercitam a paciência dos bons, e que estes se esforçam por trazê-los ao bem". Por isso Jerônimo (Patrol. Lat. vol. 260 col.
93) aconselha: ne cito amputemus fratrem, ou seja, "não cortemos depressa um irmão".

A separação só ocorrerá no fim do ciclo (do eon).

João Crisóstomo, ao aplicar a parábola aos "herejes", diz que "é permitido reprimi-los, fechar-lhes a boca, tirar-lhes a liberdade de palavra, dissolver suas assembleias, rescindir seus contratos, mas é proibido matá-los" (Patrol. Lat. vol. 33, col. 477), lição de que a "Inquisição" não tomou conhecimento: preferiu a opinião de Agostinho, quando já no fim da vida escreveu que "a violência não deixa de produzir bons resultados" (Patrol. Lat. vol. 33, col. 321); e a de Tomás de Aquino que autorizou a violência, embora "usada com discrição" (Ópera, vol. 10, pág. 131); e sobretudo a do jesuíta Maldonado, frontalmente oposta à de Jesus, pois escreveu: quid opus est messem exspectare? mature evellenda sunto mature comburenda sunt, ou seja, "por que é preciso esperar a colheita? Devem ser logo arrancados, devem ser logo queimados" (Commentarii in Quattuor Evangelistis, pág. 277).

Quem escreveu essas linhas se diz cristão e não é julgado "hereje", por contradizer taxativamente o Mestre. E muitos preferiram seguir Maldonado, a seguir Jesus... apesar de se dizerem "representantes oficiais e exclusivos de Jesus na Terra"!

Encontramos aqui a interpretação alegórica externa, que o próprio Mestre Jesus deu da parábola do trigo e do joio, ensinando a Seus discípulos como fazer para interpretar todas as demais parábolas diante do público que deixara de ser "profano" para ser "catecúmeno".

Agora, à distância de dois milênios, outras interpretações já podem ser dadas; acreditamos que, mesmo àquela época, em particular aos discípulos, e sem autorização para divulgar, já tivessem sido ensinados outros modos de entendê-las.

A primeira versão que nos ocorre é a compreensão do homem em si mesmo. Cada criatura é constituída do "trigo" do Espírito (Individualidade) e do "joio" do quaternário inferior (personagem).

A palavra "semear" (speírô) nesse sentido de "nascer, surgir" é usada por Paulo: "semeia-se em corrupção, é ressuscitado em incorrupção; semeia-se em vileza, é ressuscitado em glória; semeia-se em fraqueza, é ressuscitado em poder; semeia-se corpo animal, é ressuscitado corpo espiritual" (l. ª cor.

15:42-44). Então, "semear" é utilizado como significando a formação do corpo físico, da personagem; e o verbo ressuscitar ou levantar-se (anístêmi) para exprimir a libertação do Espírito do quaternário inferior. A interpretação, portanto, tem base escriturística.

Ora, criado ou semeado o Espírito, o "inimigo" (isto é, a vibração material) semeia a personagem, que vai perturbar o crescimento desse Espírito, entravando-o como se lhe fora real inimigo. A proposta de "arrancar de imediato" o joio (destruir os veículos inferiores) para favorecer o crescimento do Espírito é inviável: a própria evolução do ser vai depender do atrita com sua personagem rebelde.

Mister portanto que se deixem ambos crescer juntos até a colheita (o final do eon), quando então aqueles que tiverem superado a inferioridade do polo negativo poderão "brilhar como o sol"; ao passo que os que permaneceram estacionários no Anti-sistema, serão "lançados nas chamas inextinguíveis" da correção e purificação cármicas, a fim de prosseguir sua evolução em outros planetas.

Outra justificativa desse modo de ver transparece do próprio texto parabólico, quando se diz que "a boa semente são os filhos do reino, e o joio são os filhos do mal", designando-se com isso a individualidade e a personagem, que representa o mal para o Espírito. Daí o último pedido do "Pai Nosso" ser exatamente esse: "liberta-nos do mal", isto é, da matéria.

Para a Escola iniciática apresenta-se bastante clara a interpretação. Os emissários (apóstolos) e todos os que atingiram o grau de Filho do Homem na escala iniciática superior, são semeadores da boa doutrina, exemplificadores de atos corretos, diretores de consciências, instrutores dos discípulos que lhes seguem os passos. Ora, o próprio Mestre Jesus não se livrou de ter entre seus mais íntimos, um traidor. Assim, somos avisados, pela parábola e pelo exemplo do Mestre, que, entre aqueles que nos seguem, há de tudo: trigo e joio.

Não devem, pois, os encarregados de ensinar, entristecer nem julgar-se fracassados porque, entre a semente que lançaram, venha a ser semeado o joio das más interpretações, da discórdia, da ambição do mando, do desejo de desviar a Escola do caminho traçado, tornando-se joguete de vaidades pessoais e busca de grandezas financeiras, exibicionismo, etc. Sempre haverá, nos melhores ambientes, o joio que se misturará ao trigo, penetrando nos recintos mais sagrados e recônditos (como na "Assembleia do Caminho"), com o fito de destruir a obra benéfica em benefício próprio. Os homens tornamse, então, simples marionetas insconscientes nas mãos das forças do mal. Não haja pânico. Ação segura e firme em todos os momentos, é a ordem. Não afrouxar as rédeas, embora jamais se deva tentar arrancar o joio, como Jesus também não expulsou Judas do Colégio Apostólico, apesar de saber de antemão o que estava para suceder. Os elementos que não se afinarem sairão por seus próprios pés no momento exato em que devem sair. Os mensageiros (Espíritos bons) se encarregam de "recolher todas as pedras de tropeço e os que agem ilegalmente", afastando-os do convívio das obras, para que estas não se desviem da rota traçada. A "Assembleia do Caminho" não sofreu abalo ao perder o concurso de Judas. Assim prosseguirão seu curso normal as obras que estiverem realmente ligadas às forças Superiores.

O momento da colheita poderá chegar individualmente para cada criatura. Nessa hora crítica dá-se a separação do joio, que será afastado e, ligado "em feixes" (em conjunto com outros elementos que com eles sintonizem) será lançado à fornalha de fogo das provações espirituais, onde "o choro e o ranger de dentes" os farão ver o erro cometido, incentivando-os a humildemente voltar ao caminho certo. Se houver humildade verdadeira, regressarão à "Casa Paterna" e prosseguirão na felicidade do lar espiritual a participar do banquete eucarístico. Mas se o orgulho e a vaidade predominarem, só em outras vidas, e depois de passar pelo fogo da dor, receberão novas oportunidades, porque o Amor do Pai é incomensurável, ilimitado, infinito, eterno, e a "Hora do Encontro" soará para todos.

Não nos esqueçamos, porém, de que essa separação será feita automaticamente, pelo princípio da frequência vibratória, sendo atraído cada espírito para o ambiente de acordo com sua sintonia íntima (tal como, em nossos rádios, selecionamos as estações, recebendo-as conforme sintonizamos o "dial").




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Mateus 13:36

Então, tendo despedido a multidão, foi Jesus para casa. E chegaram ao pé dele os seus discípulos, dizendo: Explica-nos a parábola do joio do campo.

mt 13:36
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Mateus 13:37

E ele, respondendo, disse-lhes: O que semeia a boa semente, é o Filho do homem;

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Mateus 13:38

O campo é o mundo; e a boa semente são os filhos do reino; e o joio são os filhos do maligno;

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Mateus 13:39

O inimigo, que o semeou, é o diabo; e a ceifa é o fim do mundo; e os ceifeiros são os anjos.

mt 13:39
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Mateus 13:40

Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será na consumação deste mundo.

mt 13:40
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Mateus 13:41

Mandará o Filho do homem os seus anjos, e eles colherão do seu reino tudo o que causa escândalo, e os que cometem iniquidade.

mt 13:41
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Mateus 13:42

E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali haverá pranto e ranger de dentes.

mt 13:42
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Mateus 13:43

Então os justos resplandecerão como o sol, no reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.

mt 13:43
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Mateus 8:12

E os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores: ali haverá pranto e ranger de dentes.

mt 8:12
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Mateus 13:50

E lançá-los-ão na fornalha de fogo: ali haverá pranto e ranger de dentes.

mt 13:50
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Mateus 22:13

Disse então o rei aos servos: Amarrai-o de pés e mãos, levai-o, e lançai-o nas trevas exteriores: ali haverá pranto e ranger de dentes.

mt 22:13
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Mateus 24:51

E separá-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes.

mt 24:51
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Mateus 25:30

Lançai pois o servo inútil nas trevas exteriores; ali haverá pranto e ranger de dentes.

mt 25:30
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Lucas 13:28

Ali haverá choro e ranger de dentes, quando virdes Abraão, e Isaque, e Jacó, e todos os profetas, no reino de Deus, e vós lançados fora.

lc 13:28
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Daniel 12:3

Os entendidos pois resplandecerão, como o resplendor do firmamento; e os que a muitos ensinam a justiça refulgirão como as estrelas sempre e eternamente.

dn 12:3
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