Sabedoria do Evangelho - Volume 7

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CAPÍTULO 24

AS DEZ MOÇAS

MT 25:1-13


1. "Então o reino dos céus será assemelhado a dez moças que, tomando suas lâmpadas, saíram ao encontro do noivo.

2. Mas cinco delas eram tolas e cinco inteligentes.

3. As tolas, pois, ao tomar suas lâmpadas, não apanharam consigo azeite.

4. Mas as inteligentes apanharam azeite nos vasos, com as lâmpadas delas.

5. Demorando o noivo, cochilaram todas e dormiram.

6. Mas à meia-noite foi dado um grito: Olha o noivo! Saí a seu encontro!

7. Então levantaram-se todas aquelas moças e prepararam suas lâmpadas,

8. e as tolas disseram às inteligentes: dai-nos de vosso azeite, porque nossas, lâmpadas se estão apagando.

9. Mas as inteligentes disseram: Não é bastante para nós e para vós; é melhor irdes aos vendedores comprá-lo para vós.

10. Indo elas comprá-lo, chegou o noivo e as preparadas entraram com ele para as núpcias e fechou-se a porta.

11. Por fim chegaram também as outras moças, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos!

12. Respondendo, ele disse: Em verdade digo-vos, não vos conheço.

13. Despertai, então, porque não sabeis o dia nem a hora".



O cerimonial das núpcias era bastante solene e rumoroso a essa época, durando vários dias e noites de festas, que cada noivo realizava em sua casa. O noivo permanecia rodeado de seus amigos, os "paraninfos", e a noiva cercada por suas amigas geralmente moças casadoiras, de sua idade. O termo grego parthénos, em geral traduzido por "virgem", não exige essa condição física da mulher, mas simplesmente designa a não-casada ainda. Embora não tenha mais as características materiais da virgindade, por já ter mantido relações sexuais com outros homens.

Os dois grupos reuniam-se no último dia, o marcado para as bodas, quando o noivo se dirigia com seus paraninfos à casa da noiva, a fim de levá-la consigo, juntamente com o grupo de suas amigas, para sua casa. Reunidos os dois grupos de parentes e amigos de ambos, na casa do noivo realizava-se o banquete oficial de núpcias, que podia durar vários dias.

Embora até hoje se tenha interpretado a parábola como referente às moças (ou "virgens") amigas da noiva, cremos que não é a elas que se refere o Mestre. Notemos que a Vulgata (e alguns códices, como D, X e theta, a família 1, algumas versões ítalas, siríacas, armênias, o Diatessaron, Hilário e Origenes latino) é que trazem: "saíram ao encontro do noivo e da noiva: contra o testemunho dos melhores códices, que suprimem "e da noiva" (como o Sinaítico, o Vaticano, K. L, W, X2, delta, pi, a família 13 mais 21 minúsculos, as versões siríacas harcleense e palestiniana, a copta saídica e a boaírica, a etiópica e os pais Metódio, Basílio, Crisóstomo, João Damasceno).


Examinando o texto, verificamos que contradiz frontalmente a todos os hábitos normais das núpcias da época, se se referisse às moças companheiras da noiva. Vejamos alguns pontos para comprovar nossa tese:


1) As moças estão na rua, e não na casa da noiva, o que é inconcebível.


2) Saem com pequenas lâmpadas a óleo, que se apagariam com qualquer rajada fresca de vento.


3) Dormem, enquanto esperam o noivo, e dormem na rua. Se estivessem na festa, a algazarra as manteria acordadas.


4) Cinco levavam suprimento de azeite e são chamadas "inteligentes", embora demonstrem indiferença e dureza de coração em relação a suas companheiras. Numa festa, não necessitariam de lâmpadas nem de suprimento de azeite, mesmo porque o cortejo era feito com archotes ou tochas. E se fossem "acompanhantes", não havia razão para que as inteligentes recusassem ajudá-las.


5) As "tolas" são enviadas a comprar azeite nos vendedores à meia-noite; compram e regressam, quando a essa hora nenhuma loja permanecia aberta para comerciar.


6) Ao chegar o noivo, este fecha a porta, coisa inadmissível num banquete nupcial, e impede a entrada das amigas e convidadas da noiva, em gesto de suprema deselegância e desconsideração.

Por tudo isso, concluímos que a parábola não se refere absolutamente às "acompanhantes" da noiva numa festa de núpcias, e sim às próprias pretendentes ao casamento, às próprias noivas que, sem qualquer festa, seriam introduzidas na câmara nupcial do noivo para se casarem com ele. O fato de serem cinco ou dez, nada importa, já que a poligamia era admitida como lícita para o homem, só sendo proibida para as mulheres, únicas sujeitas às sanções contra o adultério. Desde que tivesse meios de sustentálas, o homem podia casar-se lícita e oficialmente com quantas esposas quisesse.

O noivo da parábola havia convocado dez, para determinado dia, mas estava a viajar. As dez foram pontuais, mas ele atrasou-se e chegou tarde - à meia-noite ou segunda vigília, diz o parabolista - e, ao entrar, só encontrou cinco. Ao regressarem as "tolas", estava evidentemente ocupado e, não mais quis abrir a porta.

Agostinho (Patrol. Lat. vol. 38, col.
575) escreveu: "algo de grande simboliza o óleo, de muito grande: julgas não ser o amor"? E, acrescentam os comentadores com acerto: "o óleo dos outros de nada adianta, só o próprio".

Em todo o episódio, verificamos que o cochilo, e depois o sono das moças, natural pelo cansaço físico, não foi condenado pelo parabolista, embora toda a parábola seja narrada para salientar a necessidade de permanecer "despertos" ou "acordados". Mas o essencial é estar espiritualmente desperta a criatura e preparada para a chegada do noivo bem-amado.

Ainda aqui vem confirmar-se de forma flagrante e magnífica nossa tese, "O Reino dos Céus será assemelhado" (no futuro, homoiôthêsetai, veja vol 6). Claro que não se percebe qualquer comparação com o céu mítico de após a morre do corpo físico. Trata-se da continuidade de um ensino dado à saciedade, com lições teóricas e práticas, com citação de fatos reais ou imaginários, que pudessem dar uma ideia pálida da realidade, por meio de comparações (ou seja, parábolas) que visavam a esclarecer pormenores. Todos os exemplos, os fatos, as semelhanças, enfim todos os recursos didáticos possíveis naquela época, foram utilizados pelo Mestre, para que Seus discípulos percebessem algo que não podia, como até hoje não pode, ser explicado com palavras terrenas, pois é algo que se passa fora e além da intelecção humana, no campo do Espírito e da mente espiritual.

Mas está tão evidente que se refere todo o ensino crístico ao mergulho do ser em seu âmago e da união de nosso Espírito com o Pai, que se torna fácil interpretar todas as Suas palavras com base nesse leit-motiv que volta e é repisado a cada página dos Evangelhos.

Vejamos, pois, o que nos diz ao coração a parábola das dez moças (ou "virgens") candidatas ao esponsalício, e que "saem ao encontro do noivo". Inicialmente observemos essa expressão (em grego: exêlthon eis hypántêsin toù nymphíou) que nos revela que elas se encaminharam ao encontro de seu próprio noivo, e não ao encontro do noivo de outra. Em todo o transcurso da parábola não há referência nem longínqua a qualquer noiva ou sponsa, afora as dez citadas: é o noivo que é esperado, só ele é anunciado, só ele chega, só ele entra com as cinco, só ele responde à porta. O esponsalício era dessas cinco com o noivo.

O parabolista divide aritmeticamente as dez em dois grupos de cinco, DEZ e CINCO.

Fazendo rápida incursão nos arcanos (cfr. Serge Marcotoune, "La Science Secrete des Initiés") verificamos que o DEZ representa a diversidade da vida nos acontecimentos que surgem. Com efeito, os nove primeiros arcanos são reveladores da vida interior, enquanto o arcano 10 simboliza a multiplicidade da vida para iniciar a realização no mundo exterior. O DEZ é o término do trabalho interior, que dá direito à atividade externa. Ao passar do nove é indispensável aplicar sua sabedoria e experiência, a fim de executar a tarefa confiada à encarnação, cumprindo-a no âmbito que lhe foi designado.

Mas como aqui se trata de dois grupos de CINCO, este é o arcano que mais nos interessa, pois precisamos explicar-nos porque o mesmo número simboliza, na parábola, a vitória e a derrota. E chegamos à conclusão de que está perfeitamente certo.

O número CINCO exprime basicamente a vida. No plano divino é a Providência (no caso, o noivo que vai chegar, a Divindade que se dirige ao homem, o Criador que vem ao encontro da criatura que antes demonstrou desejar ir a Seu encontro). No plano humano é a força do microcosmo (as dez moças que buscam a união sagrada). No plano da natureza é a força vital (que faltou às cinco "tolas", simbolizada no óleo em pequena quantidade, que não conseguiu manter acesa a lâmpada da vida e da espiritualidade).

O CINCO é essencialmente dinâmico: "a vida e uma sequência de quaternários sucessivos e entrecruzados" e representa no plano humano a vontade do homem e no plano da natureza a força vital, sua resistência, seu esforço. Seria o ponto, no centro da cruz, dando-lhe a energia para o movimento evolutivo.

Seria o schin, no meio do nome sagrado: yodhê-wau-hê transformando o tetragrama divino no pentagrama messiânico, a Energia cósmica fundamental YHWH em Sua manifestação YH-SH-WH (Yahweh em Yeshwa, ou Jeová em Jesus).

No entanto, o pentagrama representado pela estrela de cinco pontas pode ser completado com a figura do bode (o "Baphomet") das paixões e crimes elementares, tanto quanta pela figura da homem ideal, com braços e pernas estendidos. Isso significa que, ao sair do arcano quatro e penetrar no cinco, pode a criatura tomar duas direções: para o bem ou para o mal, com a ponta para cima ou para baixo, conforme a direção que a vontade lhe imprime. O que não se concebe ai é a ausência da vontade dirigente. Pode haver rápida hesitação ou dúvida da vontade na escolha do caminho, mas invariavelmente segue-se a decisão para orientar-se na ação. Se não há amadurecimento suficiente do espírito, pode este fraquejar, por incapacidade de atingir a meta.

Foi o que ocorreu com as cinco "tolas". Por falta de vigor vital (o azeite que mantém acesa a lâmpada da vida) fraquejaram. Podemos dar a esse vigor vital o nome que quisermos: amor, fidelidade, sintonia, equilíbrio mental (o termo grego môra exprime exatamente a incapacidade mental) ou qualquer outro.

O fato de cochilarem e adormecerem fisicamente não importa: a lâmpada ao anelo ardente permaneceu viva e desperta, só começando a bruxulear as das que não tinham suprimento suficiente.

Não há, tampouco, dureza de coração das que recusaram fornecer seu azeite. Trata-se da impossibilidade absoluta de transferir uma capacidade espiritual. Ninguém pode transfundir em outrem seu conhecimento nem sua elevação evolutiva, nem seus dons intelectuais ou morais. Cada um tem aquilo de que é capaz. O copo não pode fornecer a um cálice a capacidade que possui de armazenar duzentos gramas. Daí a frase muito lógica: ide adquirir aquilo que vos falta, com exercícios e experiências próprias, pessoais e intransferíveis.

O grito que anuncia a chegada do noivo é dado à meia-noite, a hora em que o sol se encontra exatamente nos antípodas do local, isto é, no momento em que a fonte de luz está no mais profundo abismo do ser. Nesse exato instante, chega o noivo para realizar a união, ou seja., o Encontro misterioso que se efetua a portas trancadas dentro do ser: "entra em teu quarto e, fechada a porta, ora a teu Pai que está no secreto" (MT 6:6; vol. 2). Ninguém jamais pode testemunhar nem presenciar o verdadeiro e real esponsalício místico entre a noiva e seu Amado; realiza-se ainda em maior reserva e pudor que a própria união sexual entre os cônjuges.

O parabolista mostra a chegada extemporânea e apressada das cinco "tolas", com a resposta aparentemente dura do noivo: "não vos conheço". Não nos esqueçamos de que o verbo "conhecer" tem sentido especial na Escritura, exprimindo a união sexual (vol. 1), a união íntima (volume 4), ou a gnôse total (vol. 5); daí dizer Jesus que "conhece o Pai" (vol. 4).

Finaliza a parábola com a repetição da advertência: "Despertai, porque não sabeis o dia nem a hora". A consciência, mantida alerta e acordada no plano superior do espírito, constitui a lâmpada que deve estar alimentada pelo azeite da prece ininterrupta. Assim não se desfaz a sintoma com Seu Espírito, conservando-o preparado para a recepção suprema ao Noivo Divino.




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Mateus 25:1

ENTÃO o reino dos céus será semelhante a dez virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram ao encontro do esposo.

mt 25:1
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Mateus 25:2

E cinco delas eram prudentes, e cinco loucas.

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Mateus 25:3

As loucas, tomando as suas lâmpadas, não levaram azeite consigo.

mt 25:3
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Mateus 25:4

Mas as prudentes levaram azeite em suas vasilhas, com as suas lâmpadas.

mt 25:4
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Mateus 25:5

E, tardando o esposo, tosquenejaram todas, e adormeceram,

mt 25:5
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Mateus 25:6

Mas à meia-noite ouviu-se um clamor; aí vem o esposo, saí-lhe ao encontro.

mt 25:6
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Mateus 25:7

Então todas aquelas virgens se levantaram, e prepararam as suas lâmpadas.

mt 25:7
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Mateus 25:8

E as loucas disseram às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam.

mt 25:8
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Mateus 25:9

Mas as prudentes responderam, dizendo: Não seja caso que nos falte a nós e a vós, ide antes aos que o vendem, e comprai-o para vós.

mt 25:9
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Mateus 25:10

E, tendo elas ido comprá-lo, chegou o esposo, e as que estavam preparadas entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta.

mt 25:10
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Mateus 25:11

E depois chegaram também as outras virgens, dizendo: Senhor, Senhor, abre-nos.

mt 25:11
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Mateus 25:12

E ele, respondendo, disse: Em verdade vos digo que vos não conheço.

mt 25:12
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Mateus 25:13

Vigiai pois, porque não sabeis o dia nem a hora em que o Filho do homem há de vir.

mt 25:13
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Mateus 6:6

Mas tu, quando orares, entra no teu aposento, e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em oculto; e teu Pai, que vê secretamente, te recompensará.

mt 6:6
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