Sabedoria do Evangelho - Volume 8

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CAPÍTULO 23

INTERROGATÓRIO 1

MT 27:11-14


11. Ora, Jesus estava de pé diante do governador e, interrogando-o, o governador disse: És tu o rei dos judeus? Jesus, pois, disse: "Tu estás dizendo".

12. Mas ao ser acusado pelos principais sacerdotes, nada respondeu.

13. Então disse-lhe Pilatos: Não ouves quantos testemunham contra ti?

14. E não lhe respondeu sequer uma palavra, de forma a admirar muito o governador.

LC 23:3-5


3. E Pilatos interrogou-o, dizendo-lhe: És tu o rei dos judeus? E respondendo, disse-lhe: "Tu estás dizendo".

4. Então Pilatos disse aos principais sacerdotes e à multidão: Nenhuma culpa encontro nesse homem.

5. Mas eles insistiam, dizendo que: Excita o povo, ensinando por toda a Judeia, e começando da Galileia até aqui.

MC 15:2-5


2. E perguntou-lhe Pilatos: És tu o rei dos judeus?

E respondendo. disse-lhe: "Tu estás dizendo".


3. E o acusavam de muitas coisas os principais sacerdotes.

4. Então Pilatos interrogou-o de novo dizendo.

Não respondes nada? Vê Quantos te acusam.


5. Mas Jesus não respondeu nada, de forma a admirar Pilatos.

JO 18:33-38a
33. Entrou então de novo Pilatos no Pretório e chamou Jesus e disse-lhe: És tu o rei dos judeus?

34. Respondeu Jesus: "De ti mesmo dizes isso, ou outros to disseram a meu respeito?"

35. Replicou Pilatos: Por acaso eu sou judeu? O teu povo e os principais sacerdotes entregaramte a mim; que fizeste?

36. Respondeu Jesus: "Meu reino não é deste mundo; se meu reino fosse deste mundo, meus ministros combateriam para que eu não fosse entregue aos judeus; mas agora, meu reino não é daqui".

37. Disse-lhe então Pilatos: E então não és rei? Respondeu Jesus: "Tu estás dizendo que sou rei. Para isso nasci e para isso vim ao mundo, para que testemunhe a verdade; todo o que é da verdade, ouve minha voz". 38a Disse-lhe Pilatos: Que é verdade?



O primeiro interrogatório, a que Pilatos submeteu Jesus, está relatado pelos quatro evangelistas, sendo João o mais pormenorizado. Começa esclarecendo que não ficou na entrada, mas "chamou Jesus para dentro do Pretório", sentando-se na cadeira do tribunal, para interrogá-Lo com toda a formalidade.


A pergunta registrada nos sinópticos, à qual o Mestre se teria limitado a responder: "Tu estás dizendo", vem com resposta mais completa, demonstrando a perspicácia de Jesus. Já não estava mais no terreno religioso, mas no político. E por isso, antes de responder, o réu pede esclarecimentos, a fim de pautar sua resposta de acordo com o sentido real da pergunta. Indaga, pois, se Pilatos quer saber se Ele é rei dos judeus por convicção própria - pois nesse caso estaria sendo dada à pergunta um sentido político - e então a resposta seria negativa. Ou se a pergunta fora sugerida "pelos outros" (pelo clero judeu) -

porque então teria sentido religioso - e a resposta seria afirmativa.

Pilatos não achou graça nessa indagação do réu, e responde com ironia: "acaso sou judeu? foram os teus que te entregaram a mim". Estava claro, portanto, que a acusação procedia dos judeus. Já que essa era a origem, a resposta será afirmativa, mas indireta: "meu reino não é deste mundo" (não se trata de uma soberania política que se contraponha a Roma) "senão teria havido combate para defendê-Lo".

Pilatos percebe a profundidade da resposta, e indaga: Se tens um reino que não é daqui, "então não és rei", mesmo sendo teu reino fora deste mundo terreno?

Jesus, respeitoso e sereno, continua o diálogo com a autoridade civil que tinha direito de inquiri-Lo: "tu estás dizendo que sou rei; pois nasci e vim a este mundo para dar testemunho da Verdade. E os que pertencem à verdade, ouvem minha voz".

Verdade?! E Pilatos pergunta: "Que é Verdade"? Mas, não deseja intrometer-se pelos meandros de uma discussão filosófica. Levanta-se da cadeira de Juiz e vai novamente à porta, para declarar: "Nesse homem não encontrei culpa nenhuma"!

Aos sacerdotes judeus, fanáticos como em geral todos os dessa classe, essa declaração não satisfaz.

Não querem ceder. E o governador vai percebendo, confrontando a majestade calma do réu com a falta de compostura dos acusadores, que estava diante de um caso lamentavelmente comum até hoje, d "inveja" no setor religioso, e "o ciúme religioso é o mais feroz de todos" (Pirot, o. c. vol. 9, pág. 590).

Os acusadores prosseguiam em seus gritos acusatórios, e Jesus calava. Pilatos fica cada vez mais admirado diante dessa atitude tranquila: "Nada respondes a eles? Olha como gritam quais energúmenos"!

Jesus talvez se limitasse a olhar para Pilatos, sorrindo ligeiramente, quase imperceptivelmente, manifestando a pena que lhe causava aquela falta de argumentos e de compostura.

Aqui deparamos em Mateus com uma construção sintática clássica, rara nesse evangelista: apokrínomai pròs "nada responde".

Pilatos, mesmo fugindo ao esclarecimento filosófico que pedira, conserva seu ponto-de-vista: "nenhuma culpa" (literalmente: nenhuma causa, aitíon, de condenação) encontro nesse homem. Por que conden á-lo à morte"?

Quantas lições preciosas aprendemos nesse exemplo que a figura de Jesus nos deixou e que os evangelistas souberam retratar com tanta fidelidade, apesar da, ou talvez mesmo em virtude da simplicidade da narrativa, isenta de quaisquer atavios literários.

Aprendemos a responder com respeito, mas sem perder a dignidade, diante das autoridades civis ou religiosas legitimamente constituídas. Mas a não responder quando quem pergunta não tem credenciais para fazê-lo, pois disso só adviriam discussões inúteis e estéreis, que a nada conduziriam.

Mesmo diante das autoridades, aprendemos que o homem não deve "rebaixar-se" timoratamente. O oposto da humanidade é o orgulho vazio, mas a altivez faz parte da dignidade do homem, não do orgulho.

Devemos obediência e respeito à autoridade, mas não subserviência, servilismo, nem temor, se estamos com a razão.

O comportamento de Jesus foi exemplar, neste caso, como em todos os momentos de Sua vida. Diante da balbúrdia e dos falsos testemunhos, Sua tônica foi o silêncio impenetrável. Daí a admiração que essa atitude causou a Pilatos, pois verificou nesse réu o equilíbrio emocional perfeito e serenidade inalterável, de quem possuía a certeza de estar com a razão. Pilatos, homem dúbio e inconsistente em suas opiniões, além de fraco, deve ter ficado chocado ao assistir o descontrole irado dos acusadores, em confronto com a calma majestosa do réu. E sentiu-se mais fortalecido para declarar que aquele Homem não tinha culpa.

Ainda o instigou, para ver se observava alguma alteração: "Nada respondes a essas acusações"?

Mas Jesus permaneceu impertérrito em Sua mudez.

Não deve ter escapado à argúcia do governador o esclarecimento pedido por Jesus, ao ser interrogado se "era rei dos judeus". Apesar da resposta irônica e algo crua, de que não era judeu - o que revelava certo desprezo pela "raça inferior" que estava a governar - atende ao esclarecimento solicitado: "os teus te entregaram a mim". E quando Jesus, após a distinção feita, responde que "seu reino não era humano nem terreno, mas espiritual", ou seja, um reino da Verdade, atina, provavelmente, com a intenção do réu. E insiste na ideia: então confessas indiretamente que és rei, mesmo que teu reino não se constitua de domínio político.

A declaração de que "veio a este mundo" - deixando claro e indiscutível que existia consciente antes do nascimento e reencarnara em missão específica - não deve ter causado estranheza a Pilatos, pois os romanos aceitavam a reencarnação como fato natural e indiscutível. Só causa admiração que textos, como esse, não sejam aproveitados pelos espíritas e outros espiritualistas como argumento irrespondível em favor da reencarnação... Pois se o próprio Jesus declara que VEIO a este mundo, isso significa, sem sombra de dúvida, que Seu Espírito existia antes do nascimento e que, saindo do local em que Se encontrava, veio para este planeta e aqui nasceu.

Aprendemos, ainda, a responder às autoridades dizendo a verdade, declarando o que realmente se passa, mesmo que, por antecipação, saibamos que não seremos compreendidos. Jesus sabia que Pilatos não poderia atingir a altitude espiritual da resposta, mas nem por isso deixou de declarar a Verdade de modo total: trata-se da sinceridade que deve nortear nossas respostas, quando os que nos interrogam tem autoridade legítima para fazê-lo; trata-se de não mentir e não enganar, de ser sempre honestos, não apenas em relação a nós, como aqueles que merecem nossa consideração.

Evidentemente Jesus se expressou em grego, (pois Pilatos não falava aramaico) confirmando o conhecimento que tinha desse idioma, no qual devia expressar-se normalmente.

E quanto ao "reino", claro que se refere ao plano espiritual, domínio exercido sobre os espíritos, pouco importando o que acontecia aos corpos físicos. O atendimento aos enfermos, para curá-los, era sempre esporádico, mas ensina-nos a não abandonar esse campo, quando se apresentar a ocasião, mesmo que ele não constitua nossa tarefa específica: trata-se de um meio para que, através dele, se atinja a finalidade maior, se não a única, que é o CONHECIMENTO DA VERDADE.

Não podemos deixar passar em silêncio uma consideração a respeito do título de "rei", atribuído a Jesus, com sentido pejorativo pelos judeus, sem compreendê-lo, por Pilatos, e com todo o conhecimento de causa por Jesus. Sua declaração de que "Seu reino não é deste mundo", constitui confirmação tácita de que É REI, embora o reino Dele não pertença à vibração pesada do plano material dos corpos físicos. Jesus o afirmou categoricamente. Resta-nos descobrir de onde era esse "reino".

Muitos acreditam que dele era o "reino dos céus", no sentido atribuído por certas seitas, que falam num "céu" cheio de anjinhos, de "santos", que nada fazem além de tocar harpas e cantar loas à glória do Senhor. Para que vir estabelecer na Terra um reino que só seria conseguido depois da morte do corpo físico? Para que nos preparássemos para ele? Não seria muito mais lógico e conveniente deduzir que Ele veio para estabelecer NA TERRA um reino que não era DA TERRA, mas deveria desenvolverse aqui mesmo neste planeta?


Por tudo o que sabemos a respeito das Escolas Iniciáticas, esse era exatamente o sentido atribuído a essa frase: Jesus era o REI de um reino ESPIRITUAL, mas que está estabelecido NA TERRA, existindo entre as criaturas terrenas encarnadas. E sabemos de fonte certa (vol.
5) que o título de REX

("rei") era atribuído ao Hierofante das Escolas, quando atingiam o sexto grau iniciático. O último passo, que Ele estava para dar, fá-lo-ia atingir o grau máximo, a DEIFICAÇÃO, pela indestrutível unificação com a Divindade.

De fato, pois, Rei era Ele, em Sua Escola Iniciática Assembleia do Caminho, pois estava subindo os últimos degraus da sétima escala iniciática, só percorrida pelos adeptos que já houvessem galgado os sete degraus das seis escalas anteriores. Atingido esse ponto culminante, seria considerado "O Ungido" (Christo), personificando a Divindade que ungira e permeara Sua criatura.

Havia, pois, toda razão em aceitar o título tacitamente, embora não Lhe conviesse dizê-lo abertamente ao mundo e a quem não poderia compreender o sentido. Mas, diante da autoridade legitimamente constituída, não poderia mentir: aceitou a afirmativa como tendo sido feita de fora: "és tu que está., dizendo isso".




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Mateus 27:11

E foi Jesus apresentado ao presidente, e o presidente o interrogou, dizendo: És tu o Rei dos judeus? E disse-lhe Jesus: Tu o dizes.

mt 27:11
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Mateus 27:12

E, sendo acusado pelos príncipes dos sacerdotes e pelos anciãos, nada respondeu.

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Mateus 27:13

Disse-lhe então Pilatos: Não ouves quanto testificam contra ti?

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Mateus 27:14

E nem uma palavra lhe respondeu, de sorte que o presidente estava muito maravilhado.

mt 27:14
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Lucas 23:3

E Pilatos perguntou-lhe, dizendo: Tu és o Rei dos Judeus? E ele, respondendo, disse-lhe: Tu o dizes.

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Lucas 23:4

E disse Pilatos aos principais dos sacerdotes, e à multidão: Não acho culpa alguma neste homem.

lc 23:4
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Lucas 23:5

Mas eles insistiam cada vez mais, dizendo: Alvoroça o povo ensinando por toda a Judeia, começando desde a Galileia até aqui.

lc 23:5
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Marcos 15:2

E Pilatos lhe perguntou: Tu és o Rei dos Judeus? E ele, respondendo, disse-lhe: Tu o dizes.

mc 15:2
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Marcos 15:3

E os principais dos sacerdotes o acusavam de muitas coisas; porém ele nada respondia.

mc 15:3
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Marcos 15:4

E Pilatos o interrogou outra vez, dizendo: Nada respondes? Vê quantas coisas testificam contra ti.

mc 15:4
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Marcos 15:5

Mas Jesus nada mais respondeu, de maneira que Pilatos se maravilhava.

mc 15:5
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João 18:33

Tornou pois a entrar Pilatos na audiência, e chamou a Jesus, e disse-lhe: Tu és o rei dos Judeus?

jo 18:33
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João 18:34

Respondeu-lhe Jesus: Tu dizes isso de ti mesmo, ou disseram-to outros de mim?

jo 18:34
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João 18:35

Pilatos respondeu: Porventura sou eu judeu? a tua nação e os principais dos sacerdotes entregaram-te a mim: que fizeste?

jo 18:35
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João 18:36

Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo: se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus: mas agora o meu reino não é daqui.

jo 18:36
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João 18:37

Disse-lhe pois Pilatos: Logo tu és rei? Jesus respondeu: Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz.

jo 18:37
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João 18:38

Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade? E, dizendo isto, tornou a ir ter com os judeus, e disse-lhes. Não acho nele crime algum;

jo 18:38
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