Sabedoria do Evangelho - Volume 8

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CAPÍTULO 33

AO PÉ DA CRUZ

MT 27:55-56


55. Estavam ali muitas mulheres, contemplando de longe, as quais tinham acompanhado Jesus desde a Galileia, para servi-lo.

56. Entre elas estavam Maria, a Madalena e Maria, a mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu

MC 15:40-41


41. Estavam também ali umas mulheres, contemplando de longe, entre elas Maria, a Madalena e Maria a mãe de Tiago o menor e de José, e Salomé,

42. as quais, quando estava na Galileia, o acompanhavam e serviam, e muitas outras que subiram com ele a Jerusalém.

LC 23:49


49. Mas todos os conhecidos dele estavam de pé, ao longe, e as mulheres que o seguiam desde a Galileia, contemplando essas coisas.

JO 19:25-27


25. Estavam, porém, junto à cruz de Jesus, a mãe dele e a Irmã da mãe dele, Maria a (esposa) de Cleopas, e Maria a Madalena.

26. Vendo, então, Jesus sua mãe e ao lado o discípulo que amava, disse à mãe: "Mulher, eis teu filho".

27. Depois disse ao discípulo. "Eis tua mãe". E desde essa hora, tomou-a o discípulo como coisa própria.

Aqui encontramos a relação dos que se encontravam a contemplar a cruz, durante a permanência de Jesus. A enumeração não é lisonjeira para os homens, pois o único presente, dos Seus amigos, parece ter sido João, o "discípulo amado". As mulheres citadas, em número de cinco, acompanharam Jesus durante todo o Seu ministério. Temos então (cfr. vol. 2 e vol. 3).


1. MARIA, a mãe de Jesus.

2. MARIA, denominada a Madalena, do nome de sua aldeia natal Magdala (atual El-Medjdel) no lago de Tiberíades, a quem Jesus dedicava tão grande amor, que a brindou com Sua primeira aparição. após levantar-se do túmulo.

3. JOANA, irmã da mãe de Jesus, esposa de Cuza e mãe de Salomé (a esposa de Zebedeu), de Simão, de Maria e de Suzana (?) ditos "irmãos de Jesus".

4. MARIA, esposa de Clopas, que era irmão de José, e mãe de Tiago (o menor), de José e de Judas Tadeu, também ditos "irmãos de Jesus".

5. SALOMÉ, esposa de Zebedeu e mãe de Tiago (o maior) e de João o evangelista.

João cita as quatro primeiras, omitindo o nome de sua própria mãe, Salomé, talvez para não chocar os leitores com a narração, a seguir, da entrega que a ele fez Jesus de uma segunda mãe, ou mesmo por modéstia. Mateus e Marcos omitem o nome da mãe de Jesus e de Joana de Cuza, mas são unânimes em registrar a presença de Salomé. Lucas não cita nomes.

Concordamos (vol
2) com Zahn, Loisy, Lagrange, Durand e Bernard, que a "irmã de Maria" não podia ser "Maria de Clopas", pois não se compreenderia duas irmãs com o mesmo nome. Daí nossa hipótese de que a "irmã de Maria" era Joana, esposa de Cuza.

Todos mantinham-se "de pé" (eistêkeisan), fortes e corajosas.

Foi quando Jesus cônscio de si e com todas as Suas energias, percorreu o olhar pelas pessoas ali presentes, e proferiu as frases curtas e incisivas: "Mulher, eis teu filho" (gynai, híde ho huiós sou). Com isso nomeava João, o discípulo amado, como Seu substituto legal no afeto de Maria. Voltando-se, depois, para João, ratifica o mesmo legado: "eis tua mãe" (híde hê mêtêr sou). E o evangelista acrescenta: e desde essa hora, tomou-a o discípulo como coisa própria" (eis tà ídia), ou "a seu cargo".

A partir do século XII, apoiando-se em Orígenes (Comment. in Joannem, 1. 4. 23), a tradição passou a considerar válida a interpretação de Rupert de Deutz ou Rupertus (Comment. in Joannem, Patr. Lat.

vol. 169, col. 790): João representou, ao pé da cruz, todas as criaturas humanas, que se tornaram, ipso facto, irmãs de Jesus.


Essa tradição foi sancionada por Leão XIII (Encíclicas Quamquam pluries, de 25-8-1889; Octobri mense adveniente de 22-9-1591; Jucundum semper, de 8-9-1894; e Adjutricem populi christiani, de 5-

9-1
895) e por Pio XI (Encíclica Rerum Ecclesiae, de 28-2-1926), onde se lê: Sanctissima Regina Apostolorum Maria, cum homines universos in Callvaria habúerit materno animo suo commendatos, non minus eos fovet ac diligit, qui se fuisse a Christo Jesu redemptos ignorant, quam qui ipsius beneficiis fruuntur feliciter, ou seja: "Maria santíssima, rainha dos apóstolos, ao ter encomendados a seu ânimo materno, no Calvário, todos os homens, não menos ama e acalenta aqueles que ignoram terem sido redimidos pelo Cristo Jesus, do que àqueles que felizmente gozam dos benefícios Dele".

Portanto, segundo o pensamento católico, todas as criaturas humanas, fiéis e infiéis, estão sob o manto protetor e materno, de Maria, por delegação de Jesus.

A beleza deste capítulo é imensa, pois o vemos imbuído de delicadeza de sentimentos.

Em primeiro lugar salienta-se a fidelidade feminina, geralmente bem maior que a masculina, em vista dos sentimentos mais apurados e do amor naturalmente materno e sacrificial. Apesar do ambiente rude de soldados, do espetáculo horripilante e deprimente da cruel crucificação, do cansaço e dos fortes impactos emocionais das últimas horas, não abandonaram o ser amado à sua sorte: permaneceram "de pé", a confortar com seus olhares amorosos aquele que estava a sofrer pelo bem que espalhara e pelos profundos conhecimentos espirituais que demonstrara em Seus ensinamentos às multidões e ao grupo de Seus discípulos. E através do olhar, deveram também sustentá-Lo com seus fluidos de amor inigualável, diminuindo-Lhe a dor moral do abandona da maioria de Seus discípulos e mantendo-O anestesiado às dores físicas.

A expressão "de longe contemplavam" (Mateus, Marcos e Lucas) é contraditada pelo testemunho pessoal de João, ali presente: "junto à cruz de Jesus". Temos que compreender um meio termo, pois "de longe" nem poderiam ter ouvido as palavras proferidas por Jesus; mas também "junto" deve pressupor "colados" à cruz, já que os soldados não teriam permitido proximidade exagerada, com receio de ser prestada aos condenados ajuda indesejável.

Fora do círculo familiar da mãe, das duas tias e da irmã de Jesus (Salomé) e do sobrinho João, a única não parenta era a Madalena, a grande apaixonada pelo Mestre, e que, uma vez tocada, jamais O abanonara.

Em segundo lugar observamos a cena da entrega de Maria, Sua Mãe, ao discípulo amado, a fim de que ele cuidasse de Maria em lugar do próprio filho Jesus.


Anotemos, de passagem, que se Maria tivesse tido outros filhos, ou mesmo enteados (filhos do primeiro matrimônio de José), esse gesto de Jesus tem ensanchas de magoá-los profundamente. Daí termos aceitado, desde o início, a hipótese da expressão "irmãos de Jesus", como sendo seus "primos irmãos"
(1).

(1) A palavra grega adelphós, "irmão", referia-se também a "primos", como lemos em muitos autores profanos (cfr. Herodoto. 1. 65; 4. 147; 6. 94. etc. ; Thucidides. 2. 101, etc. ; Strabão, 10. 5. 6, etc.), dandose o mesmo com a palavra latina frater. Lemos em Cícero (De Fin; 5. 1. 1): L. Cícero frater noster, cognatione patruelis, amore germanus, ou seja, "Lúcio Cícero nosso irmão, pelo parentesco primo, pelo amor, irmão". E a definição do Digesto (38. 10. 1, § 6): item fratres patrueles, sorores patrueles, id est qui quaeve ex duobus fratribus progenerantur, "da mesma forma, primosirm ãos, primas-irmãs, os que e as que são gerados de dois irmãos". Não esqueçamos que a palavra portuguesa "irmão", assim como a castelhana "hermano", são derivadas do latim germanus (proveniente de gérmen) e exprime aqueles que são da mesma origem, do mesmo germe, conforme já lemos mesmo em Plauto (Menaechmi, 1102): spes mihi est vos inventuros fratres germanos duos geminos una matre natos et patre uno uno die, isto é: "minha esperança é de que vos descobrireis irmãos autênticos gêmeos nascidos de uma mãe e de um pai, no mesmo dia".

Já o contrário podia dar-se, como se deu: embora estivesse presente Salomé, mãe de João, era perfeitamente admissível que Jesus atribuísse o encargo de Sua mãe ao discípulo amado, sem que por isso se sentisse magoada a mãe de João, grande e sincera discípula de Jesus. Antes, para ela constituía uma honra, pois demonstrava a confiança que o Mestre depositava em seu filho, ainda tão jovem (João, a essa época, parece que contava cerca de 21 ou 22 anos).

A partir daí, João manteve Maria a seu lado, tendo-a levado para Éfeso, segundo a tradição, onde ela veio a falecer muitos anos depois.






FIM





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Mateus 27:55

E estavam ali, olhando de longe, muitas mulheres que tinham seguido Jesus desde a Galileia, para o servir;

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Mateus 27:56

Entre as quais estavam Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.

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Marcos 15:40

E também ali estavam algumas mulheres, olhando de longe, entre as quais também Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, o menor, e de José, e Salomé;

mc 15:40
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Marcos 15:41

As quais também o seguiam, e o serviam, quando estava na Galileia; e muitas outras, que tinham subido com ele a Jerusalém.

mc 15:41
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Lucas 23:49

E todos os seus conhecidos, e as mulheres que juntamente o haviam seguido desde a Galileia, estavam de longe vendo estas coisas.

lc 23:49
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João 19:25

E junto à cruz de Jesus estava sua mãe, e a irmã de sua mãe, Maria de Cléofas, e Maria Madalena.

jo 19:25
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João 19:26

Ora Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho.

jo 19:26
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João 19:27

Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.

jo 19:27
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