Cristianismo e Espiritismo
Versão para cópiaNota 10
Porque ensinavas essa doutrina aos teus discípulos; porque entretinhas a esse respeito correspondência com matemáticos da Germânia; porque publicavas cartas sobre as manchas solares, nas quais apresentavas como verdade essa doutrina; porque às objeções que te eram dirigidas respondias explicando a Santa Escritura segundo a tua ideia...
O tribunal quis pôr um paradeiro aos inconvenientes e aos danos que daí provinham e se agravavam em detrimento da fé.
Conforme a ordem do papa e dos cardeais, os teólogos encarregados dessa missão assim qualificaram as duas proposições: "O Sol está no centro do mundo e é imóvel". Proposição absurda, falsa em filosofia e herética em sua expressão, porque é contrária à Santa Escritura. "A Terra não é o centro do mundo; não é imóvel, mas obedece a um movimento diurno". Proposição igualmente absurda, falsa em filosofia e considerada no ponto de vista teológico, errônea na fé...
Declaramos que te tornaste profundamente suspeito de heresia: Porque acreditaste e sustentaste uma doutrina falsa e contrária às santas e divinas Escrituras, a saber: "que o Sol é o centro do Universo e não se move de modo algum do Oriente para o Ocidente; que a Terra se move e não é o centro do mundo. " Porque acreditaste poder sustentar, como provável, uma opinião que foi declarada contrária à Santa Escritura.
Em consequência declaramos que incorreste em todas as censuras e penas cominadas pelos sagrados cânones e outras constituições gerais e particulares contra aqueles que desobedecem aos estatutos e outros decretos promulgados.
Das quais censuras nos praz absolver-te uma vez que previamente, de ânimo sincero e fé verdadeira, abjures diante de nós, maldigas e detestes, segundo a fórmula que te apresentamos, os ditos erros e heresias, e qualquer outro erro e heresia contrária à igreja Católica, Apostólica, Romana.
E, a fim de que o teu erro pernicioso e grave e a tua desobediência não fiquem impunes;
A fim de que, para o futuro, sejas mais cauteloso e sirvas de exemplo aos outros para que evitem esses delitos: Declaramos que, por édito público, o livro dos Diálogos, de Galileu, é proibido.
Condenamos-te à prisão ordinária deste Santo Ofício por um tempo que será limitado a arbítrio nosso.
A título de penitência salutar, ordenamos-te que recites durante três anos, uma vez por semana, os sete salmos da Penitência.
Reservamo-nos o poder de moderar, alterar e relevar no todo ou em parte as penas e penitências acima. " Ditou um teólogo, há quinze anos, ao Sr. Henri Lasserre as seguintes linhas, que o autor de Nossa Senhora de Lourdes e da Nova tradução dos Evangelhos (esta última obra condenada também pelo índex), reproduz em suas Memórias à Sua Santidade. "Esse decreto, que anatematizou a admirável descoberta do grande astrônomo e que o puniu com prisão, foi um duplo e completo erro. Foi um erro incidente e secundário sobre a Astronomia; foi, antes de tudo, um erro principal sobre a doutrina.
Coisa notável: por todos os termos do decreto, a Sagrada Congregação havia-se condenado a si mesma. "Qualificando de absurdo, isto é, de contrário à razão o que lhe é conforme, a Sagrada Congregação estava convencida de se achar fora da razão e oposta à razão. "Qualificando de falso, isto é, de contrário à verdade o que lhe é conforme, ela estava convencida de achar-se fora da verdade e oposta à verdade. "Qualificando de heresia, isto é, de contrário à ortodoxia o que é uma lei divina do Universo visível, estava convencida de achar-se fora da ortodoxia e oposta à ortodoxia, porque, se é uma heresia subtrair-se à crença em um dogma da Igreja, não é menor heresia querer impor como dogma o que não o é, e particularmente o erro, o qual é, em si mesmo, como antinomia de todos os dogmas. "Qualificando de contrário às Escrituras um admirável decreto do Criador, a Sagrada Congregação estava convencida de achar-se fora da ciência das Escrituras e oposta à sua verdadeira interpretação. "Cada qual em Roma, individualmente, não tardou, na intimidade da palestra, a confessar e deplorar o erro cometido pelos eminentíssimos juízes. "O que, todavia, houve de mais deplorável ainda, foi que, apesar das queixas e reclamações, apesar das provas e evidências, das ordens de Bento XIV e de uma sentença de trancamento que esse pontífice fez baixar em 10 de maio de 1754, apesar de um segundo decreto da mesma natureza, lançado por Pio VII em 25 de setembro de 1822, a repugnância em se retratar ela mesma, ou ser pelo Papa retratada, foi tão tenaz na congregação romana que, durante mais de dois séculos e em oposição à verdade conhecida, esse tribunal manteve o seu decreto sobre o catálogo do índex librorum prohibitorum. "As obras que contêm as descobertas de Galileu e de Copérnico, condenadas em 23 de agosto de 1634 com os qualificativos de absurdas, de falsas, de heréticas, de contrárias às santas e divinas Escrituras, não foram excluídas do índex senão na edição de 1832.
Aí permaneceram 201 anos. "
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